Livro que cunhou termo “Metaverso”, Snow Crash é mais que uma distopia

Neal Stephenson trata de poder, política, religião e relações interpessoais num livro vanguardista, lançado nos anos 90

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Mesmo se você não gosta de cyberpunk, dê uma chance para “Snow Crash”, de Neal Stephenson. O livro, traduzido por Fábio Fernandes e publicado no Brasil pela editora Aleph, vai além dos aparatos tecnológicos e versa sobre poder e política.

Stephenson escreveu a obra de ficção científica em 1992 e, à época, apresentou ao mundo o termo “Metaverso”, que agora aparece com mais frequência no noticiário. Inclusive, são muitas as semelhanças entre a realidade virtual que estamos habituados agora, onde você pode ser uma versão melhorada (ou não) de si mesmo, e o que já aparecia nas páginas de Snow Crash.

Distopia

Sou suspeita em elogiar obras distópicas – um dos meus tipos preferidos – mas vamos lá. O protagonista do livro, Hiro Protagonist, é um entregador de pizza da máfia em um futuro distópico, nos Estados Unidos, que agora é composto por cidades-estado independentes.

Além de entregador, Hiro também é um hacker de primeira qualidade e, no mundo virtual alternativo, um avatar de samurai respeitado. Stephenson apresenta os pormenores desse futuro num vai-e-vem entre realidade e Metaverso com muita facilidade ao longo das 549 páginas.

Como em toda distopia, o que rege a trama é o poder. Com a queda do governo democrático, aparecem diversos líderes tanto nas cidades-estados quanto no Metaverso, onde ainda surge um vírus (ou uma droga?) que compromete não somente os avatares, mas também a integridade dos humanos por trás deles. O protagonista Hiro tenta descobrir de que se trata até um desfecho surpreendente acontecer.

Cotidiano

Imagino que, quando o livro foi escrito em 1992, a impressão causada nos leitores foi de algo improvável ou distante por ser tão futurista. Em mim, em 2023, causou uma sensação de conhecimento.

Hiro costuma recorrer a uma biblioteca para auxiliar na investigação do que se trata a nova droga – não parece tão moderno, a não ser pelo fato de o bibliotecário ser um assistente virtual de inteligência artificial. É como se Hiro dissesse: “Alexa, qual fórmula química provoca cegueira?” Google. Wikipédia. Essas coisas que são cotidianas para nós.

Outro aspecto interessante do livro é a discussão sobre religião e política. As consequências dessa mistura nós já conhecemos – veja a bancada evangélica ou lembre dos califados.

Ritmo em Snow Crash

Neal Stephenson mantém um bom ritmo em Snow Crash, o que torna a leitura agradável, embora o livro seja longo. Mesmo com diálogos muito grandes, o texto é fluído e cheio de ganchos que instigam a curiosidade do leitor.

Além disso, há outros personagens muito bons, como O Corvo e a skatista Y.T., que integram arcos diferentes em princípio, mas se encontram em situações bastante peculiares.

Snow Crash, agora vendido com o nome original, chegou a ter seu título traduzido como “Nevasca” no Brasil. Contudo, independente do que está escrito na capa, vale a leitura – mesmo se o cyberpunk não foi muito sua praia.

Livro

Snow Crash, de Neal Stephenson. Editora Aleph, R$ 79,90.

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