Livro de Caetano W. Galindo faz você gostar mais da língua portuguesa

“Latim em pó” mostra que o idioma, esse “latim triturado”, é muito maior e melhor do que teima em dizer a norma culta

Com “Latim em pó”, Caetano W. Galindo quis “expor as etapas do trajeto de formação da língua que nós falamos todos os dias”. Porém, na prática, ele faz muito mais do que isso. É possível que você, assim como eu, termine o livro gostando mais da língua portuguesa. Porque ela tem uma vida fascinante, sobre a qual ninguém me falou na escola (e a julgar pela experiência do meu filho, continuam não falando).

“Latim em pó” é sobre essa vida fascinante. Ler o livro é como descobrir que sua avó – a avó que te parece meio sisuda, chata e resistente a novidades – teve uma vida aventurosa, sobreviveu a dificuldades tremendas e é muito mais aberta para o que acontece no mundo do que você imaginava.

Galindo tem 25 anos de experiência como professor da Universidade Federal do Paraná e a história que ele traça em “Latim em pó” foi traçada várias vezes antes, e de maneiras diferentes, dentro da sala de aula.

Fui aluno do Caetano antes de ser seu amigo, mas em outras disciplinas que não Língua Portuguesa. Ainda assim, se você conhece o homem, certeza que vai “ouvir” a voz do professor no livro, como se fosse uma daquelas aulas inspiradas de sábado de manhã. Do professor ligado em tudo que acontece no mundo.

Caetano W. Galindo

“Latim em pó” (uma metáfora que o autor empresta de outro Caetano, o Veloso) começou com um convite do diretor de teatro Felipe Hirsch. Por sua vez, Hirsch se inspirou numa canção de Tom Zé para criar a peça teatral “Língua brasileira”. Para desenvolver a peça, Hirsch conta que foi atrás de Galindo porque “precisava de alguém com mais razão, mais conhecimento e, de preferência, um fado dedicado às filologias da vida”.

A peça deu origem a um disco homônimo e também ao documentário “Nossa pátria está onde somos amados”, exibido no último Festival do Rio e ainda inédito no circuito comercial. No filme, que tem depoimentos de Ailton Krenak e Davi Kopenawa, Galindo aparece também na frente das câmeras, dando uma aula para um grupo de crianças pequenas e interessadas dentro do Museu da Língua Portuguesa. (O documentário merece um texto à parte, outro dia.)

“Latim em pó”

Talvez por ser um tradutor experiente de James Joyce e não só dele, Galindo tem uma habilidade que admiro muito: ele chama as coisas pelo nome e sabe o nome de um monte de coisas. (Coisas do tipo que não se descobre fácil dando um Google.)

Essa habilidade é impactante em um livro como “Latim em pó”, que procura falar com um público mais amplo e contar histórias incríveis sobre a formação do português usado no Brasil. Essas histórias envolvem povos originários, povos africanos  – e escravizados – e a influência que suas línguas exerceram sobre o português.

Afinal, uma das certezas da linguística histórica, segundo Galindo, “é que os processos [de formação e evolução de uma língua] quase nunca eliminam algo sem deixar uma marca: uma sobrevivência”.

E a certa altura a gente entende que a língua portuguesa falada no Brasil é um idioma de sobreviventes.

Livro

Latim em pó – Um passeio pela formação do nosso português”, de Caetano W. Galindo. Companhia da Letras, 232 páginas, R$ 59,90. Ensaio.

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Livro de Caetano W. Galindo faz você gostar mais da língua portuguesa”

  1. Irinêo abusa dos adjetivos e não fornece informação que ajude a identificar o conteúdo do livro. Espero que a obra seja muuuuito melhor que este breve equīvoco.

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