“Ilusões Perdidas” é prova de fogo para quem quer ser jornalista

Tanto o livro de Balzac quanto o filme de Xavier Giannoli fazem um retrato mordaz do jornalismo na França no século 19

O cinema francês é bom em fazer filmes de época. Muito bom, na verdade. Ele não está preocupado com o glamour da coisa e menos ainda com as tramas de casamento – como acontece nas adaptações que britânicos e americanos fazem dos livros de Jane Austen. No cinema francês, os filmes de época são mordazes e viscerais. Retratam uma realidade desigual e insalubre.

É como se os franceses há muito tivessem perdido a paciência para simpatizar com a corte e seus privilégios (tenha em mente que os britânicos ainda têm uma família real), e estivessem mais interessados em falar dos absurdos e da violência cometidos por uma sociedade que já não existe mais – ainda bem. Uma violência que, às vezes, é medida em palavras.

“Ilusões Perdidas”

Pois é da violência das palavras, inclusive, que fala o filme “Ilusões Perdidas”, baseado no clássico de Honoré de Balzac (1799–1850). Na história, o jovem poeta Lucian de Rubempré (Benjamin Voisin) deixa a província para tentar a sorte em Paris. E para isso ele tem a ajuda de Madame de Bargeton (Cécile de France), uma nobre que ama as artes e é um pouco mais do que uma madrinha para Lucian. Os dois têm um caso e o afeto de Bargeton por ele fica evidente quando ela exalta a poesia de Lucian como algo digno de Paris. Mas, na prática, os versos que ele escreve são de uma ingenuidade constrangedora.

Ainda assim, Bargeton usa seus contatos para ajudar Lucian a brilhar na capital. Ao menos até que sua parente Marquesa d’Espard cobrar dela algum juízo.

Balzac

Com esse ponto de partida, Balzac disseca uma parte curiosa da sociedade parisiense do século 19. Aquela parte preocupada com resenhas de livro no jornal e com apresentações teatrais.

“Ilusões Perdidas” é, famosamente, uma espécie de prova de fogo para qualquer pessoa que pense em ser jornalista. Se ao fim do livro você ainda quiser ser jornalista, terá passado no teste. Isso porque o retrato do jornalismo feito pelo escritor está longe de ser uma apologia, para dizer o mínimo.

E o filme de Giannoli é muito bem-sucedido em apresentar esse meio jornalístico parisiense e também em extrair do livro a sua essência. A maior diferença entre o livro e o filme talvez seja a impressão deixada por Lucian. No livro, parece ser possível simpatizar com ele no início da narrativa, de modo que o leitor se compadece do destino do rapaz ao longo da história. No filme, o Lucian de Benjamin Voisin não inspira a mesma simpatia.

Onde assistir

“Ilusões Perdidas” está disponível para alugar (R$ 14,90) ou para comprar (R$ 29,90) em plataformas de streaming como Apple TV e Google Play.

Livro

“Ilusões Perdidas”, de Honoré de Balzac. Tradução de Rosa Freire d’Aguiar. Penguin–Companhia, 792 páginas, R$ 59,90. Romance.

Sobre o/a autor/a

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