Gabriel García Márquez está no palco em “Réstia de Histórias”

A peça convida o espectador para embarcar em uma excursão pelo prólogo da vida de Gabo

A primeira montagem profissional do Núcleo de Intermitências Teatrais, “Réstia de Histórias”, está em cartaz no Teatro Enio Carvalho (Espaço Cultural Falec), até domingo (9). A peça é inspirada na autobiografia “Viver para contar” (2002), do escritor colombiano ganhador do Nobel de Literatura Gabriel García Márquez (1927–2014). Com direção de Cristóvão de Oliveira, a criação é assinada coletivamente pelo grupo e a proposta é levar a plateia para algo como uma excursão pelo prólogo da vida de um dos autores mais importantes do século 20, enquanto vive uma experiência no teatro (a companhia classifica o espetáculo como teatro imersivo).

Bons momentos

“Réstia de histórias” apresenta boas ideias para contar uma história. Esse é o seu trunfo. E, para isso, tem como base um teatro que é convenção e também comunhão, algo que anda vez ou outra escapando das montagens sem qualquer necessidade. 

O Gabo (apelido de García Márquez) era a minha aposta e a expectativa foi cumprida. O papel do autor, ou melhor, do jovem aspirante a escritor é interpretado por Heleno Rohn, ator que esteve no elenco cheio de feras de “Homem ao Vento” (tragicomédia da Cia. Stavis-Damaceno ganhadora do Prêmio Shell na categoria Melhor Dramaturgia). Ele esteve muito bem lá e comprova seu talento mais uma vez aqui.

Além de estar na direção, Cristóvão de Oliveira está em cena, ao lado de mais nove atores, e no figurino, com criações que não passam despercebidas aos olhos de quem costuma assistir a produções independentes. O conjunto foi produzido com cuidado e propósito, tem até borboletas amarelas voando costuradas em camisas desde o momento em que o elenco recebe o público na antessala do teatro. O ponto alto é um fauno cinematográfico, o fraco são uns bigodes que teimam em não funcionar. 

É preciso reconhecer que algumas daquelas boas ideias terminam prejudicadas pelo espaço (como uma primeira cena antes dos espectadores serem conduzidos à plateia), contudo, fugir do palco italiano foi uma boa para o andamento da peça. Por falar em andamento, a duração se mostra bem longa. 

No final, o saldo é positivo. Entretanto, “Réstia de Histórias” não é uma peça para qualquer um. Ela funciona para quem está disposto a se lançar na entrega. Isso ficou evidente ao observar o entusiasmo vindo de uma plateia com muita gente próxima do universo do teatro, sem qualquer receio de sair das cadeiras e partir para o palco. 

A companhia

O Núcleo de Intermitências Teatrais é um coletivo teatral artístico interessado no teatro como experiência. Desde sua criação em 2016 (quando ainda era um projeto de extensão universitária na Faculdade de Artes do Paraná), o grupo investiga a releitura e a transposição de obras literárias para o teatro, investindo em uma relação imersiva com o público, na qual narrativas pessoais possam constituir a linguagem cênica. Antes de partirem para Gabriel García Márquez, pesquisaram a produção de José Saramago, a partir da obra “As Intermitências da Morte” (2005).

“Réstia de Histórias”

Espetáculo independente do Núcleo de Intermitências Teatrais, em parceria com Alameda Cia. Teatral. Até domingo (9); sexta e sábado, às 20h, domingo, às 19h; no Teatro Enio Carvalho – Espaço Cultural Falec (Rua Mateus Leme, 990 – Centro Cívico). Ingressos: pague o quanto vale.

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