Frede Tizzot, o artista da sensibilidade

Com um estilo que combina xilogravura, quadrinhos e art decó, Frede Tizzot cria capas de livros e ilustra crônicas para o Plural

Bacharel em Direito e História, pai de dois garotos, marido, empresário e artista. Frede Tizzot, premiado designer e ilustrador (uma rápida olhada no “Behance revela uma lista bem grande de prêmios), lançou uma coleção de cadernos cujas capas trazem imagens publicadas pelo Plural.

Cada caderno custa R$ 29 e é vendido diretamente na Arte & Letra, livraria independente da qual Frede Tizzot é sócio.

Tizzot, desde a adolescência, gostava de desenhar. “É um dom”, diziam alguns. Reticente, achava que os desenhos estavam aquém. Ainda menino, comparava a própria arte com a de Picasso ou Monet.

A desconfiança o afastou dos desenhos e o levou para cursos mais tradicionais na graduação. Depois, já adulto, Tizzot fazia o trajeto até o escritório de metrô, em São Paulo. Sempre passava na frente de uma escola de desenho e, num dia, decidiu entrar.

O recomeço o conduziu para diversos lugares – tanto de um ponto de vista artístico quanto geográfico. Seu estilo único combina xilogravura (que aprendeu pela internet) com quadrinhos e art decó.

“Você sabe que, outro dia, um cliente estava aqui e viu a capa de um livro que fiz para a editora Record. Ele disse: ‘Nossa, isso aqui é muito “Arte e Letra”. Vamos ver quem fez a capa’. Quando abriu o livro, viu que tinha sido eu”, diz Tizzot.

Enquanto fala, ele mostra o romance de Luci Collin, “Com que se pode jogar” (2011), que foi reeditado pela Arte & Letra. O volume tem capítulos que funcionam de forma independente e conta a história de três mulheres que discutem laços afetivos. A conexão entre elas é um homem.

“Esse aqui, eu pensei em trazer as mulheres sob a silhueta desse homem, mas havia outros elementos que também são importantes, e tinha tanto espaço para ilustrar…”, diz. Tizzot abre e mostra a ilustração inteira. Beija-flor, pimentas amassadas, flores e intensidade. (Dá vontade de comprar o livro.)

A história da história

O escritor Marcos Pamplona, cronista do Plural, compartilha comigo o desejo de comprar o livro. “A ilustração é muito sedutora e leva ao texto”, diz Pamplona, referindo-se às ilustrações que Tizzot faz para sua coluna. “As ilustrações são como um convite para a crônica. É a porta de entrada: que universo é esse? O que está por trás desta imagem?”

Tizzot e Pamplona não conversam sobre ilustrações e crônicas. Pamplona diz que prefere que o artista faça aquilo que sente. Tizzot, por sua vez, capta a ideia do texto e, com traços característicos, instiga, complementa e amplia a história do cronista.

Uma das ilustrações que Frede Tizzot fez para a coluna de Marcos Pamplona.

Um dos textos de Pamplona é O quintal. O quintal é uma crônica memorialística e conta sobre brincadeiras de garoto na casa da avó. “A imagem que desencadeou essa crônica foi exatamente aquela que ele desenhou: um menino brincando com o carrinho debaixo de uma hortênsia. Essa imagem captou a fonte de toda crônica”, diz Pamplona.

Para além de cores e traços, Frede Tizzot é um artista que sente. Lê e relê o briefing (quando disponível). Na maioria das vezes, faz os papéis de diretor de arte, designer e ilustrador de forma simultânea.

Enquanto estuda um texto, anota à mão as primeiras ideias. A ilustração funciona como a história da história. Porém, nem sempre o caminho é tranquilo. Ele conta que, às vezes, a pessoa que pede a ilustração, seja ela escritora ou não, já tem uma ideia pronta. “E você quer atender essa necessidade, mas também fazer a sua arte e não perder o job. Mas para mim o ideal é criar de uma forma livre”, diz o artista.

O primeiro leitor

Luís Henrique Pellanda, que também faz parte do escrete de cronistas do Plural, diz que tem sorte ao trabalhar com ilustradores excelentes. Cita Benett, Ducroquet e emenda: Tizzot está no primeiro time.

Em 2015, Tizzot foi capista do livro “Vazante”, de Pellanda, publicado pela Arte & Letra. “O ilustrador de um cronista é, na verdade, o seu primeiro leitor”, diz Pellanda. “É quem primeiro lê a nossa crônica e, dela, faz uma releitura também artística. É preciso ser um ótimo leitor para fazer isso.”

Enquanto releio a entrevista – feita por WhatsApp –, volto à área de busca do site do Plural para procurar uma crônica específica, cuja ilustração reproduzo abaixo:

Ilustração: Frede Tizzot

O texto se chama “A crônica não mata – parte 17“. Quando li pela primeira vez, ri sozinha na redação (de outro veículo). Aconteceu a mesma coisa agora, ao reler. E, assim como no passado, o que me convidou a entrar no texto foi a ilustração acima. Penso sobre o que aconteceu para esse homem estar transtornado no desenho.

“Um ilustrador tem que ter a sensibilidade necessária para ilustrar um texto e não o esgotar num primeiro olhar, e também para não contradizer o que está escrito ali. E o Frede tem essa sensibilidade, de sobra”, diz Pellanda.

Tizzot, pelo mundo

De Curitiba, o artista expôs em Amsterdã depois de conhecer um amigo holandês que estava no Paraná atrás de Dalton Trevisan.

Tizzot gargalha e joga a cabeça para trás. “Essa história é muito louca.”

O holandês, casado com uma brasileira, queria fazer um documentário e entrevistar “O Vampiro de Curitiba”. Durante a pesquisa, ele chegou à Arte & Letra, que havia reeditado há pouco um Trevisan.

A entrevista com o autor curitibano, como você pode supor, não aconteceu. Mas, da conversa com Tizzot, surgiu uma exposição na Holanda, que desencadeou a mudança para a Itália a fim de cursar mestrado. Além de diversos trabalhos em agências de criação pela Europa.

Aí veio a pandemia. Ele voltou às tardes de outono de Curitiba com a família e, agora, divide o tempo entre o trabalho (livraria, frilas e um estúdio de tatuagem) e o skate, que pratica com os filhos.

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