Um mês após incêndio no Morro do Sabão, moradores vivem incertezas

Conheça histórias de pessoas que ficaram no morro parte do Parolin, apesar de terem perdido quase tudo

Um mês depois do incêndio no Morro do Sabão, no Parolin, em Curitiba, os moradores do local vivem incertezas. Agora, alguns deles moram na casa de parentes, outros alugaram casas em outros pontos da cidade e há quem tenha ficado no morro, em moradias atingidas parcialmente pelo fogo.

Um deles é Sebastião Dias de Moraes, de 88 anos. Quando conversou com a reportagem, na sexta-feira (25), ele se preparava para coletar recicláveis. Moraes morava sozinho numa construção de madeirite que foi consumida pelas chamas.

“Eu estava rezando”, lembra Moraes. “Aí meu filho que mora ali em cima [fora do morro] me chamou. Terminei minha oração e só saí com os documentos mesmo”, relembra. Embora a área seja uma ocupação, seu Sebastião adquiriu o terreno por R$ 30 mil. Ainda faltam R$ 5 mil para quitar a dívida. “Eu vou pagar, sim. Meu compromisso é como o compromisso de Deus com a gente. Tenho que fazer o certo”, diz.

A renda vem de uma pensão de R$ 1,2 mil e da venda dos materiais recicláveis. Agora, também recebe R$ 500 do auxílio moradia pago pela Cohab. Por enquanto, ele não sabe se vai poder reconstruir a moradia no local ou se vai mudar compulsoriamente.

Agora, uma máquina da prefeitura realiza a terraplanagem no terreno. E há uma espécie de estrada de pedras entre a lama e o lixo. Dona Nelci Nascimento, de 39 anos, é uma das poucas que também permaneceu no morro.

Quando o fogo começou, no dia 26 de fevereiro, ela estava em casa com os três filhos e o marido. A residência tinha mais alvenaria que madeira e resistiu às altas temperaturas.

O canil onde ficavam os quatro cachorros – que foram resgatados – queimou. A parede do banheiro cedeu. Assim, é preciso tomar banho sob um pallet. A porta é feita de cobertores. A casa é mantida pelo trabalho do marido – que é pedreiro – e pelo “Bolsa Família” (rebatizado pelo governo federal de “Auxílio Brasil”, mas que os beneficiários continuam chamando pelo nome antigo).

Somando o auxílio moradia da Cohab com o benefício do governo federal, a expectativa da família é conseguir arrumar o banheiro. “Mas as coisas estão bem caras. Fiz o orçamento e deu R$ 600 o mais barato”, diz.

Assim como seu Sebastião, dona Nelci não quer sair do Morro do Sabão: “Não tem como a gente construir em outro lugar, não”.

De acordo com a Cohab, o acesso que está sendo feito no Morro do Sabão deve “proporcionar melhor qualidade de vida para os moradores que ficaram no local”. A ideia é “facilitar a entrada de ambulâncias, caminhões de bombeiros e de coleta de lixo”.

Só que a abertura do acesso impactou no desenho do morro. Alguns espaços nos quais haviam casas, agora foram tomados pela estrada. Uma das habitações – totalmente destruída pelas chamas – foi a do casal Wilton Martins, de 58 anos, e Marilena da Silva Martins, de 51 anos.

“Vai passar bem aqui na frente a estrada [mostra com as mãos]. Aí vai diminuir meu terreno”, diz Wilson. Ele e dona Marilena estão na casa da filha, que faz fundos para o terreno. Do que havia na moradia antiga, não restou nada além dos documentos.

A casa da filha foi dividida e o casal recebeu doações de colegas da Igreja. Talheres, uma pia, um fogão e xícaras nas quais servem café durante a entrevista. Wilson e Marilena comemoram 34 anos de casamento no dia 7 de abril. Um detalhe que contam orgulhosos. Apesar da tragédia e da incerteza, o casal projeta um futuro mais suave.

“A gente não sabe muito bem se vai dar para ficar, se a prefeitura vai deixar”, diz Wilson. “Mas, para mim, se dessem um terreno em outro lugar não teria problema de mudar, não. Aqui mesmo no Parolin eram bom. Posso construir a casa sozinho, só falta dinheiro para os materiais. Você tem R$ 20 mil?”

A Cohab disponibilizou R$ 18,5 mil mensais para serem divididos entre 37 famílias atingidas pelo incêndio. São R$ 500 para cada uma. Depois disso, é só incerteza.

Ainda não há prazo para que o trabalho das máquinas seja concluído no Morro do Sabão. A Cohab pretende reassentar as famílias em outros terrenos seguros no próprio Parolin, para evitar que moradores percam vínculos com a comunidade, mas também não existe uma data exata para que isso ocorra.

Nesse cenário, os atingidos continuam recebendo doações – entregues na Fundação de Ação Social (FAS) ou na rua Chanceler Lauro Muller, onde mora a dona Isete do Rocio Portes, a “Elisete”. Lá é possível pegar roupas novas e tomar café da manhã e da tarde.

“Já melhorou bem o serviço da prefeitura, mas nem todo mundo conseguiu recuperar os recicláveis”, diz dona Elisete. “Queimou tudo, então perderam uma renda. Aí eu recebo as doações e faço aqui o pão, o sanduíche, um chineque, alguma coisa para ajudar não só eles, mas também quem quiser se alimentar.”

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