Denise Fraga faz refletir sobre a efemeridade da vida na peça “Eu de você”

Como a grande atriz que é, Denise Fraga dominou sozinha o palco do Guaíra com um trabalho corporal leve e fluído

Foi impossível não se identificar com as histórias que a atriz Denise Fraga trouxe na peça “Eu de você”, apresentado nesta terça-feira (5), no Teatro Guaíra, dentro do Festival de Curitiba. A atriz foi recebida na capital paranaense para a apresentação do primeiro monólogo de sua carreira.

A peça foi construída baseada em histórias de pessoas comuns coletadas por meio de um post nas redes sociais e de um anúncio em jornal. Com o entrelace dessas vivências, Denise Fraga compôs uma história única, tendo como fio condutor a vida de Deise, funcionária de um escritório que vive uma rotina atribulada, acordando às 6h e percorrendo um dia agitado, exaustivo e mecânico, sobrecarregada pelas exigências que o mercado de trabalho impõe.

As histórias interpretadas podem ter sido vivenciadas por qualquer um de nós da plateia. Ao longo da narrativa, o espetáculo faz críticas ao machismo, à violência urbana, às estruturas trabalhistas vividas nos dias atuais, misturando humor e drama na medida certa.

Ficção e realidade

Fraga abre o monólogo no meio da plateia, fora do palco. Todos ficam curiosos e surge o questionamento: ela está sendo Denise ou já entrou no personagem? Em seguida, sobe ao palco e continua suas narrativas, misturando ficção e realidade.

Ao longo do espetáculo, o texto vai intercalando histórias de vida fazendo com o que a imaginação da plateia crie diferentes cenários, mesmo que no palco esteja simplesmente uma cadeira e os recursos técnicos de iluminação e sonoplastia. Para ilustrar algumas das histórias, a atriz cantou ao som de instrumentos como bateria, piano e baixo, todos tocados por mulheres.

Uma cadeira

A partir da cadeira em cena, o público pode criar no imaginário diversos cenários, indo de uma sala de estar comum ao Parque Ibirapuera.

Em determinado momento, a cadeira se transformou em uma sala aconchegante onde a atriz interpretava uma filha mostrando o álbum de fotos para a mãe que sofria de Alzheimer.

Quando colocada no centro do palco, a cadeira se transformou em um outro sofá, no qual um casal discutia a relação e a mulher criava coragem para enfrentar o relacionamento abusivo e voltar a ser dona de si mesma.

A plateia

A plateia se transformou em mar, em lago, em sala do chefe – na qual Deise era sempre chamada. A interação constante entre atriz e plateia fez com que ela saísse diversas vezes do palco, contracenando diretamente com as pessoas nos bancos, quebrando a parede entre mundo mágico e o mundo real.

O fato dessa interação acontecer frequentemente acabou sendo prejudicial para os espectadores que estavam sentados nos balcões. Sem a visibilidade privilegiada, perderam momentos do espetáculo por não conseguirem enxergar o que estava acontecendo lá embaixo, apenas ouvindo o que Denise dizia.

Apesar disso, em cada nova história, a atriz causava uma sensação diferente no público, que foi capaz de ir das lágrimas ao riso em questão de segundos. Ela soube preencher todo o palco branco com um trabalho corporal leve e fluído, dominando o espaço como a grande atriz que é.

Movimento

Tanto a sua entrega em representar diversos personagens durante o espetáculo, quanto o uso de variados elementos de sonoplastia e iluminação, deram muito movimento às cenas, prendendo o espectador durante os 90 minutos de espetáculo.

“Eu de você” é sutil e arrebatador ao mesmo tempo. É suave ao retratar as dores do cotidiano e a fragilidade do ser humano. É possível rir com os olhos encharcados por ver e sentir a vida acontecendo ali no palco. “Eu de você” faz a gente se ver no outro e refletir sobre a efemeridade, as dores e as sutilezas da vida.

Festival de Curitiba

Para conferir a programação completa e comprar ingressos on-line, acesse o site oficial do evento (aqui). Também é possível comprar ingressos na bilheteria do Festival de Curitiba, no piso L3 do Shopping Mueller. A programação tem ainda vários espetáculos gratuitos e outros em que você paga o que puder ou quiser.

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