Bastam 15 minutos de filme para Spielberg fazer sua mágica

Estreia nos cinemas “Os Fabelmans”, com a história de um menino fascinado por filmes e incentivado pelo amor da mãe

A melhor coisa que a indústria cinematográfica de Hollywood produziu no último ano foram os 15 minutos que abrem “Os Fabelmans”. Não que o resto do filme autobiográfico de Steven Spielberg não seja bom – ele é. Mas esse trecho de 15 minutos reúne quase todas as qualidades de Spielberg como cineasta – e nenhum dos defeitos.

Essa introdução começa com o pai e a mãe de Sammy Fabelman encorajando o menino a entrar no cinema para ver “O Maior Espetáculo da Terra”, um clássico que Cecil B. DeMille lançou em 1952. Sammy tem medo porque a sala é escura e as pessoas na tela são gigantes.

O pai, um matemático que mais tarde trabalharia para a IBM, explica para o menino como a projeção de 24 quadros por segundo cria a ilusão de que as imagens estão em movimento. Então ele não precisa ter medo. São, basicamente, fotografias ampliadas pelo projetor.

Depois de alguma conversa, Sammy entra na sala. Porém, os adultos não foram capazes de prever o impacto do filme sobre o menino, em especial de uma sequência que envolve um acidente impressionante com trens (impressionante para uma criança dos anos 1950, de qualquer forma).

Sammy fica obcecado pela imagem dos vagões descarrilando a ponto de pedir de presente miniaturas de trem apenas para simular outras vezes o acidente visto no filme.

Miniaturas são caras e o pai não entende por que Sammy age como quem quer destruir o brinquedo. É a mãe, Mitzi, que tem um estalo e entende os motivos do menino que nem mesmo ele é capaz de articular. “Ele quer ter o controle”, diz Mitzi para si mesma.

Spielberg

E é aqui que você começa a entender a influência que a mãe de Spielberg – quer dizer, de Sammy – teve sobre o futuro do filho. Interpretada por Michelle Williams, Mitzi é uma força da natureza e, como tal, não pode ser contida. Ela é uma daquelas pessoas que parecem amar a vida. Não há outra forma de dizer isso.

Ela é também uma mulher que não se encaixa nos padrões da época. Sob o olhar reprovador da sogra, a gente descobre que Mitzi prefere jantar usando pratos e talheres de plástico porque, no fim, pode embolar tudo dentro da toalha de papel e jogar no lixo. Ela não tem tempo a perder com louça suja.

Para evitar que Sammy estrague as miniaturas de trem simulando o acidente de “O Maior Espetáculo da Terra”, Mitzi tem uma ideia. Ela pega a filmadora do marido e explica o plano para o filho: ele pode fazer o trem bater e descarrilar mais uma vez, e filmar o acidente de mentira para poder assistir quantas vezes quiser.

“Os Fabelmans”

Só que Sammy é um prodígio e mesmo usando uma câmera filmadora pela primeira vez, consegue fazer uma sequência de imagens que deixa Mitzi boquiaberta. Ele se desculpa com a mãe porque teve de bater o trem várias vezes para poder fazer as cenas como queria. Preocupado, ele pergunta o que ela achou. “Achei o maior espetáculo da Terra!”, diz ela.

Mitzi ama a criatividade. É ela quem encoraja Sammy a continuar usando a filmadora. E de certa forma é ela que vai mostrar para o filho a força que o cinema tem para revelar coisas boas e difíceis a respeito da vida.

Onde assistir

“Os Fabelmans” estreia nos cinemas nesta quinta-feira (12).

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