“A leitura é um direito e deve ser democrática”, diz novo diretor da Biblioteca

Luiz Felipe Leprevost fala ao Plural sobre seus planos para a BPP

O escritor Luiz Felipe Leprevost foi anunciado na semana passada como novo diretor da Biblioteca Pública do Paraná. Formado em artes cênicas, Luiz Felipe já publicou romances, livros de contos e de poemas. Embora tenha dois irmãos na política (o deputado federal Ney Leprevost e o vereador Alexandre Leprevost), nunca tinha exercido cargos públicos. Por e-mail, Luiz Felipe falou ao Plural sobre os desafios que o esperam.

Se não estou enganado é tua primeira passagem pela administração pública. Quais são os desafios iniciais de um trabalho como esse?

De fato. E não poderia haver melhor estreia para mim. De todas as áreas artísticas em que atuei, a literatura foi a mais constante e guiou todas as outras. O meu amor pelos livros acabou por me conduzir até a Biblioteca Pública do Paraná. Falo com humildade, mas também com a alegria de quem acredita que pode verdadeiramente contribuir. As primeiras ações, assim de imediato, deverão nos orientar à retomada das atividades presencias da Biblioteca. Isso com todos os cuidados sanitários, claro, que a pandemia ainda exige.


Você é conhecido não só por teu trabalho, mas também por ter boas relações no meio cultural. Em que isso pode facilitar o trabalho, já que a BPP no fundo é uma espécie de “hub” cultural?

Fico grato que você tenha uma percepção sobre eu ter boas relações no meio cultural. Todas elas foram desenvolvidas por meio de uma vivência intensa e genuína, pelo fato de eu também ser um artista e desejar profundamente que a cultura e a arte tivessem e tenham lugar na minha vida e na das pessoas de modo geral. Sei que poderei contar com os artistas e os trabalhadores da cultura (começando pelo quadro de bibliotecários e servidores da própria Biblioteca) para que a BPP seja ainda mais um centro cultural de referência – inclusivo, pulsante e inventivo –, em que as artes em sua pluralidade possam circular e ser oferecidas em retribuição à população.

A Biblioteca ainda é um lugar principalmente de livros físicos. Mas hoje muita gente já lê mais e-books ou em outras mídias. É uma preocupação isso? O que pode ser feito para que a BPP tenha mais intersecção com essas tecnologias?

Hoje a Biblioteca está presente na internet, com suas próprias redes e publicações digitais do selo Biblioteca Paraná, gerando conteúdo, interagindo de modo veloz e eficiente com o público, do Paraná e do Brasil todo. O Jornal Cândido (com formato novinho em folha desde setembro, voltado para a leitura em meios digitais), o Prêmio Biblioteca Digital (que promove a produção e circulação de e-books) e nossas ações de incentivo à leitura nas redes sociais e no YouTube, são exemplos salutares dessa extensão de possibilidades que, junto com os livros físicos, vêm ajudando atualmente a Biblioteca a “lançar mundos no mundo”, com diz Caetano Veloso em sua canção Livros. Em outra via, nossa equipe técnica mantém um trabalho de pesquisa permanente sobre serviços digitais e digitalização de acervo, buscando se preparar para as transformações que as grandes bibliotecas do mundo estão começando a realizar.

Uma das funções de uma biblioteca pública é incentivar a leitura, especialmente no público mais jovem. Como fazer isso?

Creio que para obtermos êxito nessa tarefa, antes de mais nada, precisamos lembrar a todos (até mesmo a nós adultos) que a leitura é um direito, que ela deve ser democrática e pode ser prazerosa. É necessário que a leitura seja oferecida de modo horizontal, como algo possível de ser incorporada e não como monumento inacessível. A Biblioteca Pública já desenvolve um trabalho com o público infantojuvenil que é referência nacional. São cerca de 20 projetos somente nessa área. Nossa prioridade, nesta fase pós-pandemia, é trazer de volta as crianças para a BPP, investindo ainda mais nas ações que já existem e criando novas oportunidades de acesso à cultura para as famílias.

Cultura não tem sido uma prioridade no Brasil no atual governo. O governo federal acabou com o MEC, a Secretaria de Cultura do Paraná foi extinta. Há um descaso com o setor?

Gosto de parafrasear a seguinte ideia de Paulo Leminski: a cultura e a arte são os poros pelos quais a humanidade respira. As pessoas têm uma necessidade orgânica, muito profunda, de viver e sentir a cultura. Toda tentativa de cercear essa intrínseca necessidade será inglória. Sobre o Paraná, antes mesmo de entrar na Biblioteca, eu percebia que a Superintendência da Cultura vinha atuando com agilidade e competência, apresentando sempre uma série de projetos. Agora, acompanhando mais de perto, confirmo se tratar de uma equipe comprometida, que tem tratado as questões de modo executivo e não menos sensível, respirando cultura 24 horas. Pela cultura, pela arte, pela educação, com a leitura, esse é, sem dúvida, um caminho próspero.

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