O desemprego está em alta, mas faltam cozinheiros, garçons e gerentes nos restaurantes

Salários baixos e trabalho desgastante podem estar entre as causas da fuga do setor

Apesar da taxa de desemprego estar em 13,7%, equivalente a 14,1 milhões de brasileiros, segundos dados de julho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), donos de restaurantes sofrem com a escassez de mão de obra. Faltam profissionais em todas as áreas: cozinheiros, bartenders, garçons, sommeliers e gerentes.

“Ou eu não estou sabendo anunciar, ou estou pagando pouco, ou estou tratando mal, ou sei lá”, escreveu o empresário Beto Madalosso (Carlo Ristorante e pizzaria Madá) nas redes sociais nesta segunda-feira (1). Ele procura profissionais da cozinha, bar, salão e gerência. A cada dez candidatos, oito não se apresentam para a entrevista marcada.

Entre as centenas de comentários gerados pela postagem, muitos são de empresários da gastronomia que relatam enfrentar a mesma dificuldade. Segundo a empresária Heloise Merolli, proprietária da Vinícola Legado, em Campo Largo, o problema está nas duas pontas.

“A carga de obrigações em cima das pequenas empresas faz com que o valor de salário formal que podemos ofertar seja baixo diante das necessidades de subsistência dos potenciais empregados. E, na outra ponta, os candidatos querem receber mais do que têm formação ou experiência para pedir”, escreveu a empresária.

Para tentar solucionar o problema, a Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel-PR) lançou recentemente um curso gratuito para formar jovens de até 29 anos. Além da formação, os selecionados já saem com um emprego garantido com carteira assinada em restaurantes parceiros e salário de R$ 1.400 ao mês. Mesmo assim, a entidade não está conseguindo preencher todas as vagas das turmas.

“Muitas vezes, eles sequer sabem que um maître [gerente de salão] ou um garçom podem ganhar mais que um cozinheiro. Há uma aura sobre o chef de cozinha que não é real, enquanto que garçons e até mesmo sommeliers ficam em segundo plano”, diz o presidente da Abrasel, Nelson Goulart.

Não é de agora, mas MasterChef e outros programas de tevê criaram uma glamourização da profissão de cozinheiro, o que faz com que muitos jovens prefiram trabalhar na cozinha a no salão. Porém, segundo Goulart, garçons, sommelier e gerente podem ganhar em média 30% a mais que os profissionais da cozinha e ainda ter um trabalho que, apesar de cansativo, é menos desgastante.

Num restaurante tradicional, a jornada do cozinheiro termina após limpar a cozinha, que deve ser entregue tinindo para a equipe do turno seguinte. Enquanto isso, o garçom não é responsável pela limpeza do salão a não ser pela tarefa de arrumar as mesas e polir talheres, copos e taças. Bem menos desgastantes do que esfregar panelas engorduradas ou piso manchado de molho.

É verdade que os papéis se invertem nas casas que apostam na badalação – onde a cozinha fecha e o serviço do salão continua noite adentro -, mas, mesmo assim, os profissionais do salão continuam com a vantagem de receber mais gorjeta, o que engorda o salário. Geralmente 60% do total da arrecadação fica com garçons, sommeliers e gerentes; o restante vai para a equipe de cozinha.

“É uma lógica normal em qualquer setor: quem lida diretamente com vendas – como no caso do pessoal do salão – ganha bônus e prêmios maiores de quem está no processo de produção, como no caso da cozinha”, explica Madalosso.

Culpa dos salários baixos?

De acordo com a convenção coletiva do Sindicado de Hotéis, Restaurantes e Bares de Curitiba (Sindehotéis), o piso da categoria – que engloba todos os profissionais do setor – é de R$ 1.400 ou R$ 6,36 por hora laborada.

Empresários com as quais a reportagem conversou relatam que, em média, um cozinheiro ganha entre R$ 2 mil e R$ 2.500 por mês, na capital paranaense. Um garçom pode chegar a R$ 2.800 com as gorjetas.

“Não é um valor bom se pensar no poder de compra, na dedicação que o trabalho exige e do quanto é desgastante”, avalia Madalosso. Ele lembra que trabalhar no restaurante exige disponibilidade às sextas-feiras e sábado à noite, domingo no almoço, sem contar as datas comemorativas, que são as de maior movimento das casas: Natal, Revéillon, Páscoa, Carnaval, Dia das Mães, dos Pais e por aí vai.

Já o salário de um chef de um restaurante badalado oscila entre R$ 5 mil e R$ 6 mil ao mês. O de um gerente de um grande restaurante vai de R$ 6 mil a R$ 9 mil. Em São Paulo, este valor pode dobrar e chegar a R$ 15 mil. Goulart explica que um garçom tem muita mais facilidade do que um cozinheiro para ascender a esse cargo, o que deveria atrair mais candidatos.

A falta de profissionais qualificados faz com que chefs e gerentes, ao mudarem de restaurante, tentem levar consigo a própria equipe.

“No setor é comum tentar levar a própria equipe – garçom, chef etc. – porque é difícil encontrar pessoas qualificadas. Quando você tem uma equipe rodada que você já conhece e está acostumada a trabalhar com você é muito mais fácil”, explica o italiano Nicola Coccia, que em 2013 veio morar em Curitiba para assumir a gerência do extinto Alessandro e Frederico.

Nicola Coccia, gerente de renomadas casas de Curitiba. Foto: Andrea Torrente/Plural.

Atualmente, ele trabalha como manager no restaurante Ibérico e diz que a tarefa mais difícil é montar uma equipe profissional. Ele explica que o gerente de restaurante executa diversas funções, dependendo da casa: negocia com os fornecedores, autoriza as compras, realiza entrevistas com os candidatos às vagas e monta a equipe, além de supervisionar e coordenar os profissionais do salão no dia a dia.

Chef virar empresário é raridade

Cozinheiros que ascendem aos postos de chefs de cozinha de fama nacional ou internacional é fato raro, ao contrário do que realities show culinários fazem acreditar. A imagem do chef criativo que passa o dia na cozinha provando ingredientes e testando receitas também é uma falácia.

“Tenho múltiplas funções: desde desenvolvimento criativo dentro da cozinha a treinamento de cozinheiros e desenvolvimento de novos chefs, treinamento de sala, equalização arquitetônico das casas”, resume Lênin Palhano, chef e sócio proprietário do Obst. e, em breve, também do Ninna Cozinha, ambos em Curitiba.

Palhano é o que pode ser definido como ponto fora da curva. Formado na faculdade de gastronomia da Opet, ele começou a carreira lavando pratos numa rede de fast food. Foram 15 anos de sacrifícios e luta para escalar a hierarquia da cozinha – auxiliar, cozinheiro e chef – e, finalmente, se tornar empresário aos 34 anos.

chef lenin palhano
Chef Lênin Palhano é ponto fora da curva na gastronomia curitibana. Foto: Munir Bucair Filho/Divulgação

Hoje sofre com escassez de mão de obra, principalmente na área de coquetelaria, vinho e gerência: 90% dos currículos recebidos são de cozinheiros. Duas vezes por semana oferece treinamento para a equipe do restaurante, como por exemplo conversas com fornecedores, e todo dia faz uma reunião de 20 minutos para tirar dúvidas e prestar esclarecimentos.

Segundo Madalosso, os comentários a sua postagem escancaram uma polarização entre quem contrata e o quem é contratado. Os primeiros reclamam da falta de interesse e comprometimento; os segundos lamentam pouca valorização, salários baixos e condições trabalhistas ruins.

“Não há uma convergência. Por isso tem muita gente procurando emprego e muita gente procurando trabalhador. É um paradoxo: existem vagas abertas e existem pessoas procurando trabalho, mas não dá match”, diz o empresário.

Sobre o/a autor/a

12 comentários em “O desemprego está em alta, mas faltam cozinheiros, garçons e gerentes nos restaurantes”

  1. Salario medíocre, trabalho maçante , vc fica sem vida, sem benefícios …. Trabalhei 12 anos no ramo, e me arrependo amargamente. Fujam dessa área se tiver como!!!

  2. Sou gerente de restaurante, e a muito tempo mas principalmente depois da pandemia ficou bem mais difícil de empregar pessoas. Coloco anúncio e simplesmente as pessoas debocham da vaga, e aí eu pergunto se realmente vale a pena essa situação, ( tô quase desistindo)…kkkk, desistir jamais!!

  3. Marcelo Jorge Araujo do couto

    Meu nome é Marcelo tenho 50 anos
    Estou a procura de uma oportunidade para vaga de garçom executivo.
    Atendimento a diretoria e presidência.
    Tenho experiência em carteira de trabalho
    Telefone para contato é:21 984757455
    E-mail: [email protected]
    Dês de já agradeço a atenção.

  4. Roberto Carlos agostinho

    Fui dono de Restaurante na Praia grande e vendi ele já faz 15 anos agora quero voltar a trabalhar no ramo tenho 53 anos de idade e muita Experiência que poderia ajudar em um restaurante mais tem que ser em Guarulhos onde moro meu contato 011 9 63206947 Roberto pode de garçom o que eu preciso e de trabalhar tenho família pra sustentar Obrigado

  5. Meu nome é Daniel Crispim.
    Procuro uma oportunidade como Gerente de Restaurante. Tenho experiência na área de salão, compras e administrativa financeira.
    Quem souber de alguma vaga, peço que me retorne.
    Obrigado
    41 999059895
    [email protected]

  6. Verdade absoluta os patrões estão roubando as comissões dos garçons na cara de pau em todo o Brasil e ficando milionários com essa prática de roubar a comissão dos garçons ainda tem muitas casas de alto padrão que estão forçando os garçons trabalharem os dois turnos a semana inteira isso é um absurdo.

  7. Vão sobreviver com um salário pra aturar gente chata mal educada e arrogante ,trabalhar aos finais de semana e datas especiais pra ganhar essa merreca tá explicado o motivo de cada 10 8 não ir na entrevista

  8. wanderlei aparecido de araujo

    Sou garcon a pelo menos 20 anos… Já fui gerente , já fui maytre. O maior problema está na falta de clareza de uma boa parte dos proprietários.. São vários e vários que cobram comissão sobre vendas e usam não para tonificar seus funcionários e sim para pagar a folha .. Por isso muitos funcionários de salão resolveram migrar para cozinha para não depender de comissão que não é repassada..

  9. Ignácio Dotto Neto

    “A cada dez candidatos, oito não se apresentam para a entrevista marcada.”
    Em 2012, trabalhei na Agência do Trabalhador (SINE) e já acontecia esse fenômeno. Merece uma pesquisa e uma matéria só sobre isso. Não tenho qualquer palpite sobre o motivo. Mistério…

  10. Olá Andrea, muito boa a matéria. Quero apenas pontuar que a minha afirmação foi que: a carga de obrigações em cima das pequenas empresas faz com que o salário formal que podemos ( nós, pequenos empresários do setor) ofertar seja baixo diante das necessidades de subsistência dos potenciais candidatos.
    Não acusei o setor de pagar pouco aleatoriamente, e evidentemente é uma percepção individual da qual certamente há exceções.

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