Aos 85, Ignácio de Loyola Brandão prepara romance distópico sobre pandemia

Autor estará em Curitiba nesta semana para palestra na série Diálogos Contemporâneos

Ignácio de Loyola Brandão chegou àquela fase da vida em que o escritor começa a receber prêmios pelo conjunto da obra. Já foi assim com o Prêmio Machado de Assis, dado pela Academia Brasileira de Letras. Já foi assim, aliás, com a própria escolha dele para a academia. E em 2021 também veio o título de personalidade literária do ano pelo Jabuti.

Apesar das retrospectivas (neste ano, por exemplo, comemoram-se 40 anos de um de seus livros mais importantes, “Não Verás País Nenhum”), Brandão está na ativa. Escreve neste momento um romance sobre a pandemia, mas com um cenário bem mais avassalador do que esse que vivemos. Mais uma distopia em sua carreira, que acumula romances, contos e milhares de crônicas.

Nesta semana, Brandão estará na Capela Santa Maria, em Curitiba, para uma palestra na série Diálogos Contemporâneos. A palestra de Brandão está marcada para dia 3, às 19h, com mediação de Luci Collin. Os ingressos são gratuitos.

Você teve um papel decisivo na prosa de experimentação brasileira, com o Zero, por exemplo. Você acha que aquele caminho continua fértil? Há boa prosa experimental no Brasil hoje?

Nenhum caminho se fecha na arte, na literatura. O tempo inteiro você faz  e refaz sua trajetória à sua maneira. Cada um cria a estrutura que acha mais conveniente para o que tem a dizer. Muitas vezes você inova e dá oportunidade ao outros de tomarem coragem e se arriscarem por  novas vertentes. Na arte, na literatura, tudo que se pede é coragem, vontade, desafio. Neste omento – e há alguns anos – não vi nada experimental, audacioso, rompedor, mas gostaria que me desmentissem.

Você já fez de tudo um pouco nos teus livros. Experimentação, realismo mágico (se é que esse é o nome correto pro teu caso), realismo “feroz”, como disse o Antonio Candido. Com qual estilo você se identifica mais hoje? Faltou alguma coisa que você sempre quis fazer?

Se é que tenho estilo. Um autor  não é o melhor para julgar, avaliar, comentar sua própria obra. Para isto existem os teóricos, os doutores da academia, os ensaístas e estudiosos.  Olho o mundo à minha maneira. Cada livro é um livro. Cada novo livro será outro livro. Tirando um, gostei dos que fiz. Mas te digo que tenho um romance que adoro, amo, Dentes Ao Sol.

Hoje você tem passado boa parte do tempo como cronista, também fez vários livros com formas curtas. Ainda sente desejo de fazer uma forma mais longa, como um romance?

Hoje? Sou cronista há 40 anos. Somente no jornal O Estado de S. Paulo estou desde 1993. Já escrevi mais de 2.500 crônicas para jornais e revistas do Brasil, do Mexico, Alemanha, Colombia e Portugal e de Araraquara onde nasci… Desejo de algo mais longo? Sim, tanto que terminei um novo romance de 350 laudas, que guardei para o próximo ano, porque neste momento estamos lançando  a edição comemorativa dos 40 anos de Não Verás PaÍs Nenhum, já traduzido em 14 países. Mas em 2019 publiquei um romance também distópico: “Desta Terra Nada Vai Sobrar a Não Ser o Vento que Sopra sobre Ela”.

O novo romance/outra distopia, como gostam de dizer referindo-se a mim se passa dentro da pandemia que assola o Brasil ha sete anos e sete meses. Morreram 214 milhões de pessoas e o país está inteiro ocupado por túmulos e mais túmulos. A história regrediu, vivemos na pré-historia. Da qual saímos para formar um novo Brasil.

O titulo deste romance é:

“Como chegar
ao fundo do poço
sem perder de vista
as estrelas?”


O título de um dos teus livros. “Não verás país nenhum”, frequentemente é usado para metáforas políticas, especialmente no momento de caos em que vivemos. Ainda há espaço para otimismo no Brasil?

Otimismo não sei, mas há espaço para sonhar, questionar, lutar, resistir

O que você tem lido hoje? Quem são os novos autores que te influenciam?

O que tenho lido hoje: Djamilla Ribeiro, Antonio Torres (acaba de lançar um lindo romance: Querida Cidade, Miriam Leitão, Eliane Brum, Eliane Bei, Selva Almada (Não é um rio), Alain Corbin (História do Silêncio), Moacyr Scliar (A Mulher que escreveu a Bíblia: delicioso). E a poética biografia de João Gilberto escruta por Zuza Homem de Mello, um encantador literário-musical. Novos que me influenciam? Nesta idade (sou atemporal) o que tinha de me influenciar já me influenciou há muito. Mas, de repente, surge algo espantoso e me rendo.

Sobre o/a autor/a

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