O amor está online

Eu adoro pesquisas, inclusive aquelas que aparentemente não têm serventia nenhuma. Por exemplo, quando pesquisadores americanos cruzaram dados e descobriram que as taxas de suicídio são maiores nas cidades dos Estados Unidos em que as rádios tocam música country.

Ou quando os cientistas Philip May e Ivan Shwab concluíram que, apesar de ficarem o dia inteiro arremessando insanamente seus bicos contra troncos de árvores, pica-paus não sofrem de dor de cabeça; seus crânios evoluíram para minimizar os impactos.

Ou ainda aquela pesquisa que definiu que o chulé humano atrai o mosquito da malária.

Os exemplos são muitos. E, além de divertidos, podem ser um excelente quebra-galho quando você acorda em um sábado de manhã e não tem muita ideia do que escrever de interessante para mandar pro jornal.

Pois na semana passada esbarrei com um estudo da Universidade de Standford – “Como casais se conhecem e permanecem juntos”, de 2017. Nele, pesquisadores descobriram que, desde 1995, a taxa de casais heterossexuais que se conheceram pela Internet subiu de 2% para 39%.

Existem muitas formas de encontrar um chinelo velho para o seu pé cansado, mas a cantada online é a única das catalogadas pela pesquisa que vem crescendo. E, ao contrário do que se poderia imaginar, os relacionamentos que se originam daí não são necessariamente efêmeros.

É cada vez menor o número pessoas que conhece o seu xodó através da família (com certeza, uma má ideia), do trabalho (bota má ideia nisso) ou da igreja (???!!!). O índice cai até mesmo quando o assunto são bares e restaurantes.

Portanto, se você está aí triste, ensimesmado, sorumbático e encalhado, tem mais chances de virar o jogo se montar um perfil espirituoso no Tinder do que se sair para uma noitada. O que não significa que você não deva mais sair para noitadas, claro. (Ainda não inventaram de um jeito de beber cerveja pela Internet, mas quero confiar no ímpeto desbravador da ciência.)

Entre os casais homossexuais, os números daqueles que se encontraram pela Internet são ainda maiores, e chegaram a 65% em 2017. A explicação da pesquisa é que, por serem proporcionalmente um número menor da população, os homossexuais têm mais dificuldade para se encontrar, e por isso aderiram em peso aos chamados “aplicativos de paquera”. Mas me permito também especular que uma outra possibilidade é que a Internet acaba por ser um ambiente mais seguro para quem está em permanente risco de violência na rua, principalmente quando arrisca uma cantada.   

Enfim, o amor está online. E eu tenho para você a prova definitiva sobre isso.

Conheci minha namorada em um grupo de WhatsApp, apesar de compartilharmos um mesmo círculo de amigos. Estivemos nas mesmas rodas, mas em épocas diferentes, e quando eu estava começando a frequentar alguns ambientes nos arredores da reitoria da UFPR (cof, cof), ela estava de mudança para São Paulo, onde passou mais ou menos cinco anos.

Só quando um amigo em comum decidiu enfiar todo o pessoal das antigas em um mesmo grupo de zap foi que eu tomei consciência da existência da Vanessa. Umas piadinhas aqui, umas insinuações ali, a descoberta do gosto pelo Corinthians e por alguns livros em comum e, plá!, éramos um casal.

Quer dizer, foi quase assim. Eu sou provavelmente o camarada com menos jeito para cantadas que se tem registro no hemisfério ocidental, de modo que demorei um ou dois meses para chamá-la pra sair.

Mas, depois disso, foi um pulo para a escova de dentes se instalar no armarinho do banheiro alheio. Enquanto isso, descobri que não detesto tanto assim Friends, na verdade até simpatizo com o Chandler. E ela descobriu o charme dos foras da lei nos filmes sobre o velho oeste americano.

Nada disso teria acontecido sem um empurrãozinho da tecnologia, capaz de vencer até mesmo as minhas limitações como Don Juan. E se você está aí triste, ensimesmado, sorumbático e encalhado, não convém subestimar isso.

E sabe por quê? Bem, escrevo este texto na tarde de sábado, e amanhã tem Corinthians e Palmeiras. Como de hábito, começo a rilhar os dentes com um dia de antecedência. Nesses momentos, é sempre bom ter companhia

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