não tá no gibi

fechei o braço esquerdo com cem anos de solidão antes do primeiro aluguel. 500tão é quatro mês de internet e depois do último arrastão o boleto de água veio 250. os registros eram de cobre aqui na rua. agora são de plástico. do ombro ao pulso tenho seis personagens e papo de setenta borboletinhas. se eu mandasse as ilustrações do livro todo ia ficar tipo o josé arcadio. corpo fechado. cabeça aberta. na venezuela dizem que lo único que nos llevamos son nuestros tatuajes. lo que deixamos hay que deixar entonces. hay que hacer.

no museu o movimento é maior dia de sábado domingo e feriado. na quarta também dá um peguinha porque a entrada é 0800. já trampei com barista que não curtia o néctar e o bagulho que mais me deixa pensando tá em como aguenta sem cafeína. galera entrando e saindo o tempo todo. atrás da máquina não muda muito. nos últimos dois meses saíram três pessoas. tudo certo nada resolvido. a real é que geral quer uma vida melhor ainda que isso varie de cabeça pra cabeça. na da giulia sou tipo um cacto porque as flores também tão ali. ela me disse isso na despedida. disse isso e me deu um vasinho. acho embaçado saber como e quando as pessoas lembram umas das outras. não faço ideia quantas floradas dão numa memória. sei que depois de quase dois anos a antúrio vermelho aqui de baia abriu. fica na porta de entrada. estimula a atividade e energiza o pico.

já mais pra lá do que pra cá um tal de eric arthur blair recebeu orientação médica para sair do reino unido e tratar a tuberculose. diz a lenda que ele passava muitas horas no cômodo mais úmido de onde morava. eric morreu em 1950. em 1949 terminou 1984 e em sua lápide não diz nada do pseudônimo. na da clarice diz que dar a mão pra alguém foi o que ela esperou da alegria. na do fernando sabino que ele viveu como homem e morreu como menino. será que morrer é dormir? será que rola sonhar? madruga dessas não anotei porque sentia que tava gravado. entrei num banheiro e dentro tava uma criança de olhos azuis e vermelhos. ela tinha a minha cor e o cabelo crespo. tava descalça sem peita e com uma berminha de pano. era linda. não queria que eu saísse mas com cuidado soltei nossas mãos. fui sabendo que só eu podia ver ela. fui sabendo que voltava.

na primeira vez o padeiro tava levando uma sova porque não queria mais cavar trincheira. na segunda ele tava com uma espada no pescoço porque não queria morrer. na terceira rolou um ataque suicida em massa mas ele recebeu ordens de ficar e contar como foi. três vezes o comandante tirou o do padeiro da reta. o padeiro não acreditava na guerra e o comandante se pa que se via nele. cartas de iwo jima tá no meu top 3 do clint eastwood. bom mesmo seria não ter história assim. a fernanda pira no primeiro poderoso chefão e ficou balançada com a filha perdida. às vezes ela passa a noite me falando da ferrante. às vezes a gente revê aquela entrevista do chico.

entrei o osny me apontou as cadeiras sentei em uma botei as paradas na outra. ele deu a volta na mesa. apontou pras paradas

– até o banco?

levantei olhar a rua

– manja aquela casa grande branca ali?

– do outro lado da rua?

– é

– hum

– era uma confeitaria nas antiga. um dia a bike tava presa na grade e vi um cara mexendo no banco

– e aí?

– fiquei olhando pra nuca dele

– até que ele olhou pra trás

sentei

– então quer dizer que você tira o banco e ninguém leva

– é… dá pra levar sem banco também. um tempo depois esqueci de bater o cadeado e baubau

– mas como que pedala sem banco?

– da próxima vez que tu ver tu flagra

– nesse caso quer dizer que é uma bicicleta roubada então

– é?

dos dois colírios um ele deu de amostra grátis. economizei 60tinha na farmácia. ia abastecer o fusca mas guardei pra trocar a lente. o grau nunca diminui. o cheiro da gasolina sempre amolece. menos que thinner. mais que esmalte. minha mãe escondia os vidrinhos.

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