“Quizas, Quizas, Quizas”

Sensacional! Sabe que a escola do meu filho incentivou todos eles a trocarem cartas agora na pandemia e foi muito bonito!

Recebi esta – “carta” – mensagem do professor Luís Fernando Pereira em comentário à publicação do Abandonado num sebo.

A partir desta “carta” decidi que faria o “dois pra lá dois pra cá”, como se dança o bolero, ou seja, escrever duas colunas seguidas sobre dedicatórias e duas seguidas sobre as “cartas”.

Recebida a primeira “carta”, espichei a correspondência com o professor e perguntei o nome da escola e se podia divulgar.

Sim, é a “Escola Grão”, escreveu Luís Fernando e acrescentou: Foi super legal! As crianças esperando o carteiro! Heheheh.

Agora pergunto: “como deve estar a ansiedade das crianças?”

O isolamento social permanece e os carteiros entraram em greve. Qual será o informe que as crianças receberão por não estarem mais recebendo cartas?

A informação dada a cada criança – imagino – não será a mesma. Eu diria que a culpa da demora não é dos carteiros e sim do governo e da administração dos Correios. Os carteiros e os funcionários dos Correios lutam pelos seus direitos e em defesa da empresa.

Diria mais: há no Brasil uma política de destruição de serviços públicos, das empresas estatais e dos direitos dos/as trabalhadores/as. Claro, explicaria o que são serviços públicos e o que são estatais.

Terminaria dizendo: “quizas os carteiros sejam vitoriosos e voltem alegres distribuindo as cartas, as encomendas e esquecendo as correspondências de cobranças”.

Explicaria também o que significa a palavra quizas.

“Quizas, Quizas, Quizas” é o nome de um bolero, que os mais “antiguinhos”, como diz a Giselda, conhecem e sabem dançar no “dois pra lá, dois pra cá” e, quizas, sussurrando a canção no ouvido:

Siempre que te pregunto / Que cuándo, cómo y dónde / Tú siempre me respondes / Quizas, quizas, quizas.

Y así pasan los días, / …

Quizas pasen semanas, meses o años esperando. Esperando uma resposta de amor.

Antigamente, hoje talvez menos, muitas pessoas passaram até anos na janela esperando cartas de amor ou de alguém da família que partiu. Na janela esperava o carteiro ou ia até o correio verificar se havia chegado alguma carta, e quem tinha caixa postal já saia tremula/o de casa com a chavinha na mão. Pior, ainda, quando no caminho por nervosismo perdia a chave.

Ainda existem caixas postais?

Na minha vida de interior tínhamos uma caixa postal: nunca esqueci o número: 271.

Deixa pra lá.

Na “carta”, a Maria Giselda de Lima Fonseca comenta “Dedicatórias”, a primeira crônica aqui publicada:

Gostei muito. Acho que nós os antiguinhos têm essa respeitabilidade, com tudo que a gente ganha. Infelizmente hoje em dia com a modernidade, perdemos o significado de uma dedicatória escrita em qualquer contexto. Quem de nós escreve uma carta pra alguém? Você poderia fazer sobre os cartões de Natal, aniversário. entre outros. Tenho cartões antigos, mas não tenho coragem de jogar fora. Fico imaginando após tanto anos, o momento que a pessoa escrevia aquela mensagem.

Abraço. Vai em frente. Parabéns.

Enquanto exercia o mandato de deputado federal recebia muitos cartões de aniversário, natal e feliz ano novo. Assim que deixei a vida publica, não recebi mais. Enviavam-me não por amor e/ou respeito e/ou consideração por mim. Enviavam-me por formalidade de cargo ou de relações institucionais e/ou por bajulação.

Na modernidade perdeu-se o costume de enviar cartões de natal e de aniversário. Não sei se ainda se enviam cartões postais quando se viaja. Viajava pouco, mas sempre que viajava mandava.

Hoje não mando mais, tem WhatsApp.

Será que alguém guardou algum cartão postal que enviei?

Sempre que postei um cartão postal vinha-me a mente uma ideia poética do ato de enviar cartões e do que escrevia. Um dia ao mandar um postal pensei:

Se o nu é da região anterior,

é frontal.

Da posterior, postal.

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima