Isolamento social dia 85

Querido diário: acordar muito cedo, assim, pode ter vantagens e desvantagens. Um dia posso falar delas, mas o que quero falar hoje é que essa mania me conecta com o meu avô, Seu Vidarmino.

Durante toda a minha infância, eu soube do meu avô acordar muito cedo (bem mais cedo que eu) e, quando ainda morava no interior do Paraná, ir pra sua varanda e tomar umas cuias de chimarrão enquanto a sua pequena cidade de Nova Concórdia ainda dormia. Minha avó acordaria um tempo depois e se juntaria a ele.

Apesar dos tempos verbais poderem te dar a impressão que meus avós não estão aqui, no nosso plano terreno, eles estão! Só não acordam mais tão cedo e vivem em Santa Catarina hoje em dia, na casa dos meus tios.

Talvez quando eles acordavam cedo fosse super pouco romântico pra eles. Era mais por conta do trabalho. Mas eu tinha cinco anos quando me dei conta que eles faziam isso e passei verões nos meus avós até os 14 anos. Então acordar cedo parece levar a tocha pra frente, sabe?

Ontem tememos pela tocha do meu avô. Ele foi parar no hospital, de manhã, com uma tremedeira. Não era Covid, é dengue. Dá uma aflição danada na gente, na família toda. Porque, quando seus avós são bem velhinhos, é inevitável se perguntar se é agora. O problema se fosse agora, neste período, como a gente se despediria? A gente não poderia se ver para dizer adeus em conjunto.

Isso me fez voltar a pensar em duas coisas: que enquanto o Covid acontece, as outras doenças não deixaram de acontecer. E também que quase 40.000 famílias, até agora, não puderem prestar homenagem aos seus – bem como milhares de outras famílias cujo parente faleceu de outras razões.

Meu avô voltou pra casa, melhor. Hoje acordei cedo, sabendo que a vida dele repercute em mim. Acordei com vontade de abraçar os parentes de tanta gente e dizer que cada um deles importou muito e que a vida dele repercutirá em você.

Pelo amor de tanto gente, eu realmente espero que nós possamos continuar a proteger quem precisa.

#fiqueemcasa

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