Um Afonso Pena inspirado em desenhos britânicos e americanos

Aeroporto em São José dos Pinhais mantém o mesmo layout das pistas desde a década de 1940

Nenhum aeroporto é igual a outro. Mas não dá para ignorar uma semelhança quase umbilical entre vários aeroportos brasileiros, incluindo o aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, com aeroportos dos Estados Unidos e do Reino Unido. E tal semelhança só aparece quando olhamos de cima.

O layout é quase o mesmo: duas pistas de pouso e decolagem se cruzando em ângulos que vão de 30 a 60 graus. Em alguns casos, uma terceira pista pode fechar uma espécie de triângulo.

Para explicar o motivo disso, vou voltar um pouco no tempo para falar da construção do Afonso Pena. Ao contrário do mito que se espalhou, o aeroporto não foi construído numa região propensa à formação de nevoeiros para despistar aeronaves inimigas durante a Segunda Guerra Mundial, como “um trunfo de guerra” no apoio aos Estados Unidos. A decisão do Ministério da Aeronáutica na época foi meramente técnica.

Sim, os Estados Unidos tiveram sua dose de participação no empreendimento. Não pagaram, nem construíram, como em alguns casos no Nordeste brasileiro, mas cederam uma assessoria técnica por meio do Corpo de Engenheiros do Exército americano. Pois bem, foi exatamente essa consultoria que fez com que o aeroporto Afonso Pena tivesse o formato que mantém até hoje, mais de 70 anos depois.

Esse desenho é inspirado em um padrão adotado pelo Reino Unido e, posteriormente pelos Estados Unidos, no período da Segunda Grande Guerra. A ideia desse layout é permitir pousos e decolagens em qualquer condição de vento, especialmente nos aeroportos com três pistas, que fechavam uma letra “A”, por isso foram classificados como “Class A Airfields”. Além disso, o uso de mais de uma pista poderia permitir operações mais rápidas, o que era extremamente desejável durante a guerra.

E foi assim que aconteceu com o aeroporto Afonso Pena. Por aqui, foram construídas duas pistas de 1.800 metros de comprimento, uma cruzando a outra em um ângulo de 43 graus, sendo a principal paralela ao pátio e ao terminal de passageiros. Vale lembrar que a inauguração do Afonso Pena ocorreu em janeiro de 1946, após o fim do conflito. Ou seja, um aeroporto civil com cara militar.

O layout do aeroporto em São José dos Pinhais não mudou nesse tempo todo. A única diferença é que uma das pistas ganhou uma ampliação de 415 metros. É assim também com o aeroporto de São Luís e a antiga Base Aérea de Natal. O aeroporto de Recife já foi assim também, mas uma das pistas foi desativada.

Aeroporto de Exeter, na Inglaterra, mantém resquícios do desenho original. Foto: reprodução/Google Earth.

Alguns aeroportos no Reino Unido e nos Estados Unidos mantêm sinais da década de 1940. Construído pouco antes da Segunda Guerra, o aeroporto de Exeter, no condado de Devon, na Inglaterra, é um exemplo. Apesar de usar apenas uma pista hoje, a outra segue por ali, mesmo que usada para estacionamento de aeronaves.

Já no caso do aeroporto americano de Garden City, no Kansas, o desenho segue o mesmo. A pista principal segue intacta, enquanto a segunda foi deslocada na década de 1980, mas mantendo o layout. Havia ainda outras três pistas, menos usadas, e que foram há muito desativadas.

Aeroporto de Garden City, nos Estados Unidos, tem layout bastante similar ao do Afonso Pena. Foto: reprodução/Google Earth.

O desenho do aeroporto Afonso Pena deve continuar o mesmo por muito tempo. Arrematado pelo Grupo CCR em leilão realizado em abril, o aeroporto vai ganhar a tão esperada terceira pista, mas longe das atuais. Assim, as pistas se cruzando devem ser mantidas, mesmo que haja a possibilidade da menor delas ser desativada futuramente — um dos estudos da concessão previa isso.


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