A mudança é uma oração que precisa ser entoada cotidianamente

Superar os efeitos colaterais da pandemia para além da crise sanitária envolve a constante vigilância e reafirmações cotidianas que permitam o nascimento de uma nova sociedade

Não há imunidade resguardada contra a vida em sociedade. Há a clara evidência de que estamos sempre precisando recalcular a rota e, talvez, só a doença nos faça encarar a necessidade desse movimento. Em nosso tempo, o protocolo da cura pode ser alterado e revisto rapidamente, só que passado o alarde e o sintoma da doença, tornamos a repetir o padrão antigo se não ressignificarmos e decidirmos mudar. Sem sair da espiral da Covid-19, vemos surgir uma nova ameaça viral com varíola do macaco.

Navegando dentro desse contexto, afinal, não há como refletir sem considerar o solo em que pisam nossos pés, segue a indagação: o que fizemos da pandemia? A vacina chegou e a vida entrou no normalmente aceito, porém deixamos de lado os protocolos de segurança. A doença se torna um lugar comum. O questionamento é o luxo da crítica, cada vez mais abafada pela perspectiva excessivamente racional da era moderna.

Afinal, existe antídoto para uma crise que ultrapassa a barreira sanitária e respinga em problemas sociais como o fato de que 58% das mulheres desempregadas durante a pandemia são negras, conforme aponta o Lab Think Olga 2022 sobre a Autonomia das Mulheres? Quando abrimos o convite à participação ativa de pensar o futuro em cada edição dessa coluna, propomos uma visão otimista, entendendo que não há motivos de desespero, pois é fato que uma revisão sempre é possível. Acompanhando esse movimento de questionar as narrativas atuais acreditamos na união dos diversos organismos vivos para conseguirmos nos mover para a mudança.

Nossa educação e nossa cultura privilegiam a palavra escrita, então estamos empunhando a caneta sobre o papel enquanto sussurram em nosso ouvido que “não temos tempo e precisamos de uma solução agora”. E se no lugar de tentar caminhos mágicos, encararmos que precisamos revisar nosso o modelo de organização social? Estamos desde o século XVI em um ritmo expansivo, e hoje, os sinais são alarmantes, porém precisaremos de tempo proporcional para encontrar a cura, o caminho para a mudança.

O sistema está sobrecarregado de dados. Não nos faltam informações. Sabemos quase tudo, mas ignoramos a composição do todo. Seguimos consumindo de forma desenfreada todos os recursos naturais, humanos e não-humanos. Vrau! Após chegarmos neste ano na sobrecarga da Terra em sete meses, deveríamos todos oferecer um descanso à Terra. Mas a desigualdade que envolve o planeta está longe de passar por esse conceito, por isso olhar para novos ritmos e jeito de existência são uma das chamadas mais latentes quando falamos em futuro.

A verdade é que estamos sentindo a dor na carne de uma ferida que não cicatriza. Está mesmo difícil respirar. Processar. Não é o volume, bem talvez, mas a qualidade do que ingerimos. Exportamos mais e comemos o que resta, quando deveríamos prover o melhor da nossa terra para nossa gente).

No filme “O Experimento de Milgram”, em uma das cenas o ator Peter Sarsgaard, que interpreta o psicólogo norte-americano, Stanley Milgram, menciona que manter um relacionamento e o amor no casamento é uma escolha diária ao qual se diz ‘sim’ todos os dias para seguir em frente. Esse entendimento sobre a representação do amor pode nos fazer refletir profundamente sobre as escolhas diárias e as labaredas de esperança que precisamos alimentar durante esse período em que não há solidez, uma oportunidade de olhar as conquistas que podem tornar nossa sociedade pluriversal e mais justa.

Estamos em falta, falta emprego, falta saúde, falta educação. Resta-nos, primeiro individualmente, buscar fontes para superar as lacunas deixadas por nós e ir além do bem-estar do ‘eu’ para garantir o coletivo. Será que conseguimos? É preciso tentar, comece!

Encerramos compartilhando referências desse emaranhado de reflexões, incentivando a leitura para que você construa sua própria conclusão. Esse também é um jeito de abrir espaço para outros diálogos, e que, independente da sua crença, leve essa oração adiante para outros núcleos. A travessia para um futuro com novas perspectivas é feita de diferentes ingredientes, outros elementos além dos escritos:

_ Lab Think Olga 2022 | Autonomia das Mulheres

_ Podcast Futuro Possível – Ep. 01 – Ressignificando Conflitos

_ Projeto Bruminha – Fio Cruz – Brumadinho

PS: Para quem quiser ir um pouquinho mais além, outras referências que nutriram esse texto foram o livro “Sonho Manifesto” do Sidarta Ribeiro e o conteúdo da doutora em Estudos de Gênero, Mulheres Feminismos – UFBA, Carla Akotirene Santos @carlaakotirene.

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