Novo filme da franquia Harry Potter retoma ideias musicais conhecidas

Terceiro longa de Animais Fantásticos aposta em material sonoro passado para dar sentido a uma história que navega à deriva desde o primeiro filme

O novo longa da saga derivada da franquia Harry Potter chegou aos cinemas no feriado de Páscoa, com o título Animais Fantásticos e Onde Habitam, os segredos de Dumbledore. Consiste numa obra que traz consigo a aparente intenção de colocar a história nos trilhos do Expresso Hogwarts, missão difícil quando se tem um volume considerável de contradições e easter eggs ruins ao longo de dois sofríveis filmes introdutórios. Para se ter uma ideia, toda a questão envolvendo os ditos “animais fantásticos” é praticamente jogada para dentro da maleta de Newt Scamander, de onde sequer deveria ter saído, para, finalmente, chegar àquilo que interessa: a maneira com que Dumbledore vai derrotar Grindelwald, algo anunciado desde Harry Potter e a Pedra Filosofal (2000) como sendo “o maior duelo de varinhas de todos os tempos”. Apesar da expectativa envolvida, o tal duelo talvez aconteça no próximo filme.  

Apesar das muitas tiradas, ora engraçadas, ora irritantes, ora simplórias, ora inteligentes, o filme ainda vale parte do ingresso, porque esboça um caminho interessante para o desenvolvimento de questões maiores, envolvendo, inclusive, discriminação racial e de gênero. Não me refiro à questão pessoal do romance que Dumbledore e Grindelwald viveram no passado, mas sim à eleição de uma mulher para o comando do Mundo Bruxo. Neste caso falo da brasileira Maria Fernanda Cândido, que interpreta Vicência Santos. Ela aparece em momentos importantes, apesar de pronunciar somente uma fala em todo o filme. Também o Brasil surge timidamente apresentado, por meio de uma imagem do Palacete do Parque Lage, no Rio de Janeiro, que quase passa desapercebida pelos menos atentos. Além disso, dá-se a ideia de que a bruxa Vicência Santos seja, de fato, latino-americana, porque seu sobrenome é gritado por uma multidão em ritmo de salsa. Isso mesmo, salsa. Ficou um tanto ridículo e denota justamente o fato de que, nas américas, tudo o que não é estadunidense é latino e ponto final. Pelo menos não misturaram o Brasil com Buenos Aires ou outras bizarrices já vistas.

Trilha Musical

Feito este preâmbulo sobre o filme, vamos à música. Novamente a trilha sonora ficou a cargo do veterano James Newton Howard, que assinara os temas incidentais dos outros dois longas da saga. Seu trabalho, como de costume, é executado com precisão e com a característica de escrever uma trilha que não busca por protagonismo. O que estou tentando dizer é que ele compõe temas que se inserem à narrativa de forma discreta, sem se destacar em demasia.

É uma virtude, no entanto, neste caso, me parece que essa discrição foi além da conta. Uma das razões é a ausência de um tema marcante que caracterizasse o mago Dumbledore, servindo com uma espécie de leitmotiv para esta personagem central em toda a saga, principalmente agora, quando seus conflitos pessoais foram esclarecidos. Um tema específico e marcante poderia ser utilizado adiante, nos próximos filmes.

No caso do leitmotiv, Howard usou da mesma estratégia da qual já havia lançado mão no filme anterior, quando a Escola de Hogwarts apareceu pela primeira vez ao som do tema de Harry Potter. Agora foi a mesma coisa, bonito, porém manjado. A novidade é que, em outro momento, Howard utilizou a parte B do tema, pouco usada mesmo na franquia original, e que serve perfeitamente às cenas de luta. Considerando todas as contradições dos filmes, não se pode negar a possibilidade de que Howard tenha ido além do possível, considerando-se o roteiro cinematográfico de qualidade questionável ao qual foi submetido.

Música e serviço

A grande sacada musical do filme se dá no plano visual, numa cena localizada no Ministério da Magia Alemão, onde um jantar está sendo servido e desdobramentos importantes ocorrerão. Ali, uma orquestra de câmara é regida por um Elfo Doméstico e, quem leu os livros ou assistiu aos filmes originais sabe que os Elfos são escravos de famílias bruxas abastadas, logo, destinados às mais baixas tarefas, apesar de serem seres mágicos poderosos. No caso do referido maestro, ele rege uma orquestra sem músicos, na qual os instrumentos tocam sozinhos, de forma mágica. Nenhuma novidade também, afinal de contas o cão de três cabeças, que guardava o porão no qual a Pedra Filosofal ficou escondida no primeiro filme de Harry Potter, dormia ao som de uma harpa encantada, que tocava sozinha. O que esta cena traz de interessante é que se vê o estrato social no qual o mundo bruxo, ao menos aquele que remete à Alemanha Nazista, colocava seus músicos, junto às funções de serviço, todas feitas com magia. Em outras palavras, executar um instrumento, quando se tem poderes mágicos, seria tão simples quanto entregar uma taça.

Canção

Pela primeira vez em todos os filmes ligados ao universo de Harry Potter surge uma canção a fim de servir de tema para alguma coisa. Trata-se de Heaven, gravada por Gregory Porter, que toca nos créditos finais do longa. Música de melodia bem construída, com acordes escolhidos de forma criteriosa e um belo acompanhamento de piano, apoiado por coberturas de cordas e madeiras, mostra-se uma agradável surpresa ao final. Não chega a ter importância decisiva, mas está lá, então vamos ouvir.

Para ir além

Heaven, na voz de Gregory Porter

Trilha sonora do filme

https://www.letras.mus.br/playlists/1213502/

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