Prezado leitor, ao escrever o meu primeiro artigo de 2022 nesta coluna, quero iniciar te desejando boas vindas ao novo ano que está começando. Afinal, se você está lendo esse texto, você é sobrevivente de uma tragédia. Sobrevivemos à política genocida de Bolsonaro e à política de desumanidade da gestão do prefeito Greca. Sobrevivemos a um período muito difícil, onde tentaram roubar da gente algo fundamental: a felicidade!
Mais de 600 mil pessoas morreram de Covid-19, em decorrência da atuação negacionista no enfrentamento da pandemia dessa doença. Voltamos ao mapa da fome. Brasileiros disputaram restos de ossos encontrados no lixo. Direitos dos trabalhadores foram retirados e o desemprego bateu recordes. Nossas florestas foram intencionalmente queimadas pelas chamas da ganância.
Em Curitiba, mais de 51 mil famílias passaram a usar lenha para cozinhar os alimentos, pois já não conseguem comprar o botijão de gás. O prefeito Greca tentou impor a “mesa autoritária”, um projeto para proibir e multar quem doasse alimentos para pessoas em situação de rua. No final do ano, a prefeitura se recusou a reabrir a Casa de Passagem Indígena, obrigando mulheres grávidas, crianças e idosas indígenas a dormir na rua, sob frio e chuva.
Em todas essas situações, nós mulheres somos as mais afetadas. Quando fazemos o recorte para as mulheres negras, os dados oficiais mostram que as consequências são ainda mais agravantes. Por outro lado, apesar de sermos maioria da população e do eleitorado, somos minoria nos espaços onde são tomadas as decisões que influenciam diretamente nas nossas vidas.
O Paraná, por exemplo, nunca elegeu uma mulher negra como deputada estadual ou federal. Na capital do estado, as mulheres são 80% dos servidores públicos municipais, no entanto representam só 34% do secretariado do prefeito Greca. Não tenho dúvida de que essa essa falta de representatividade e pluralidade, fundamentadas no machismo e no racismo que estruturam nossa sociedade, tem relação direta com os desafios de vida que todas e todos estamos enfrentando.
Mas neste ano, juntas e juntos vamos virar a mesa do poder. O ano de 2022 será decisivo para a democracia brasileira. E o trabalho começa agora! Assim como fizemos em Curitiba, onde, após 327 anos de história da cidade, fui eleita a primeira mulher negra vereadora, podemos escrever um novo capítulo da história brasileira. Por isso, eu convido você para construir conosco essa revolução. Se organize, lute, transforme!
Sobre o/a autor/a
Carol Dartora
Feminista negra, historiadora, especializada em Ensino de Filosofia e mestra em Educação pela UFPR. É a primeira mulher negra eleita deputada federal pelo Paraná.