As enchentes que afogam os direitos humanos

População de Curitiba sofre com alagamentos e está indignada com a falta de apoio e suporte da gestão municipal

O início deste ano foi marcado por fortes chuvas, que consequentemente causaram diversas enchentes na cidade de Curitiba. Famílias perderam alimentos, móveis, eletrodomésticos, além da qualidade de suas residências, que ficaram completamente imundas e com odor de esgoto.

Parolin, Mossunguê e Água Verde foram os bairros mais atingidos nas últimas chuvas. Visitei um dos bairros atingidos, nas proximidades do Rio Guaíra, e a situação era deplorável. Moradores diziam ter que construir suas casas com uma base alta para ter a possibilidade da água não adentrar mais em suas casas, além da preocupação da estrutura física das residências, por conta do impacto e dos efeitos da água.

Diante de tudo isso, encaminhei ao Ministério Público e à Defensoria Pública do Paraná denúncias sobre essa situação. As promotorias de Habitação e Urbanismo e de Meio Ambiente abriram procedimento de notícia de fato para fazer a apuração. Isso significa que a partir de agora, o Ministério Público realizará diligências, pedirá informações e notificará a prefeitura questionando e cobrando ações concretas sobre o fato, para encaminhar soluções.

Tudo isto ocorre pelo descaso da gestão pública com os sistemas de drenagem da cidade, obras estão paradas há anos e não são continuadas de forma efetiva para que possam dar vazão a esses problemas. É necessário que neste momento haja um mapeamento e monitoramento das áreas que são passíveis a alagamento, além de prever formas de contenção, já que as obras seguem estagnadas.

Além de todo prejuízo ambiental que as enchentes causam no solo urbano, os moradores que sofrem com o alagamento de suas residências estão indignados com a falta de apoio e suporte da prefeitura, solicitando que visitem os bairros afetados. Ainda, é preciso disponibilizar uma equipe preparada e de pronto atendimento para prestar suporte a estes habitantes, que são contemplados por crianças e idosos que precisam permanecer em suas casas alagadas por não possuírem outro local para irem.

Esse descaso apenas continua escancarando as prioridades dessa gestão, que ainda não conseguiu avançar na integração meio ambiente e vida urbana, e segue sendo ausente nas periferias da cidade. É visível as classes e as pessoas que são melhores atendidas, é visível para quem são as propostas de políticas públicas e onde o dinheiro público está sendo investido.

É preciso interromper a perpetuação de um histórico social e urbano em que não se vê necessidade em atender as classes mais baixas, que habitam próximos a rios e córregos, e não por vontade própria, mas sim, porque o município não dá conta de fornecer qualidade de vida para todos os moradores sem ser excludente e retirar dessas pessoas a possibilidade do acesso à cidadania, infraestrutura urbana e equipamentos que deveriam ser direito de todas e todos.

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