32 crianças e adolescentes são assassinados por dia no país

O poder público precisa atuar e criar medidas urgentes. As denúncias de violência contra a criança e o adolescente atingiram ano passado o maior patamar desde 2013

É com o coração apertado que temos acompanhado notícias recentes sobre agressões e mortes de crianças. O caso do menino Henry ganhou imensa repercussão. Talvez por ter o envolvimento do padrasto conhecido, ou mesmo por ter ocorrido em uma família com maior poder aquisitivo.

Infelizmente, não faltam no noticiário policial registros tão cruéis como esse. Foi assim com a pequena Ketelen Vitória Oliveira da Rocha, de 6 anos, agredida e torturada pela mãe e a madrasta em Porto Real, no sul fluminense. A situação da menina ao ser socorrida chocou até os policias. E ela não resistiu e morreu no sábado (24).

Aqui em Cianorte, o pequeno Cristofer, de apenas 3 anos, morreu em março após agressões que levaram à perfuração do pâncreas, segundo a polícia. O padrasto dele foi preso suspeito de envolvimento no caso.

O crime foi citado até pela ministra Damares Alves, que esteve na cidade paranaense para firmar um pacto para proteger as nossas crianças com o lançamento de um App de denúncias.

Emocionada, ela pediu desculpas à família de Cristofer. “Onde estava o poder público, onde falhamos como poder público que não conseguimos salvar esse menino? Vim aqui chorar, assumir a responsabilidade sobre a morte do menino. O Disque 100 não funcionou?”, questionou no seu discurso.

O poder público precisa atuar e criar medidas urgentes. As denúncias de violência contra a criança e o adolescente atingiram ano passado o maior patamar desde 2013. Em 2020, o Disque 100, plataforma do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, registrou mais de 95 mil denúncias desse tipo. Só no Paraná, de janeiro a março deste ano, foram quase 3 mil registros, com um agravante ainda mais preocupante: bebês menores de 1 ano foram as maiores vítimas.

Com a pandemia, as crianças (assim como as mulheres, idosos e pessoas vulneráveis) ficaram confinadas com seus agressores. Tanto que 67% dos casos de violência contra menores acontecem dentro de casa. No país, 32 crianças e adolescentes são assassinados por dia.

Nas próximas semanas vou apresentar na Câmara de Vereadores o pedido para resgatar programas que possam acolher melhor as crianças da cidade. Pretendo retomar, por exemplo, iniciativas como o Papo Legal e o Bola Cheia, criados pelo Fernando Francischini à frente da Secretaria Antidrogas de Curitiba em 2008 e que depois também pude comandar.

A ideia do programa Bola Cheia era retirar jovens e crianças das ruas. Ao invés de estarem a mercê do tráfico, eram envolvidas em atividades esportivas, de entretenimento, palestras e exibição de filmes. O projeto se transformou num ponto de encontro de meninos e meninas, em comunidades, acolhendo também as suas famílias.

Os resultados foram muitos positivos. Passamos de sete mil crianças atendidas, e mesmo assim, infelizmente, a ação não teve continuidade. Conseguimos reduzir drasticamente os índices de violência e tráfico nas regiões atendidas pelo programa e também identificamos muitos casos de violência doméstica contra os jovens participantes do projeto. 

Ainda hoje, quando visitamos os bairros, ouvimos o pedido constante para a retomada dessas atividades. Espero que com a redução nos casos de contágio e mortes por covid possamos reeditar uma agenda como essa com nossas crianças.

Afinal, contávamos com monitores sociais, pessoas que exerciam lideranças positivas na própria comunidade, técnicos da Fundação de Ação Social, professores de educação física da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer, pedagogos e psicólogos, que estavam atentos às crianças.

Olhar para elas, perceber se há algum machucado, às vezes ser o colo para onde possam contar alguma situação difícil, alguma agressão, pode ser um passo para salvar uma criança.


Para ir além

O Estado brasileiro é uma cova rasa de CPFs cancelados
Desvio de R$ 580 mil põe em risco proteção a adolescentes ameaçados de morte

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima