O mundo está nos alertando: precisamos de novos hábitos

O que podemos fazer para que o mundo seja melhor em 2021?

Claro que pode ser irritante, em meio a uma pandemia cruel como a do coronavírus, o discurso de que toda crise traz oportunidades. Afinal, muita gente perdeu familiares e pessoas queridas, e é preciso respeitar a sua dor.

No entanto, com a crise da Covid mudando tanta coisa em nossas vidas (isolamento, home office, relacionamentos em novos formatos) é difícil não pensar que podemos – e devemos – repensar nossas vidas e, quem sabe, adotar alguns novos hábitos a partir de agora. Inclusive para sermos mais saudáveis, em todos os sentidos.

Na verdade, a mudança de ano em geral já serve para essa reflexão. As pessoas fazem promessas, repensam seus erros e veem o ano como uma chance de serem melhores. Mas quais hábitos a pandemia ressaltou, e como podemos mudar, como indivíduos e sociedade, neste ano que vai começar?

Olhos abertos

Segundo Michele Bravos, diretora-executiva do Instituto Aurora, um ganho que todos poderemos ter é se permanecermos de olhos abertos para problemas que ficaram ainda mais evidentes com a pandemia.

“A precarização do trabalho, o racismo estrutural, a violência de gênero, a mudança climática são situações que não podem ser diminuídas ou tratadas com indiferença”, diz ela. “Se permanecermos de olhos abertos e com disposição para agir, no sentido de transformar as desigualdades que vimos, acho que já estaremos caminhando em frente.”

Daniela Nunes, coordenadora acadêmica do Instituto Legado, parece otimista com a possibilidade de mudanças. Segundo ela, o isolamento causado pelo vírus não nos tornou mais egoístas; pelo contrário, aumentou a empatia.

“Vimos ao longo do ano, inúmeras campanhas com diferentes finalidades para contribuir com aqueles que estavam passando por maus bocados neste período. E acredito que este processo de empatia pelo outro é a nossa maior oportunidade. Uma oportunidade de entendermos que estamos todos no mesmo barco e temos que remar juntos para que ele não afunde”, diz ela

Mais que isso, segundo Daniela Nunes, a pandemia demonstrou que somos todos humanos e igualmente vulneráveis. “Se conseguirmos que aqueles que enxergaram esta oportunidade se engajem individual ou coletivamente na solução de problemas, sociais e ambientais, quanta transformação ainda está por vir? Não podemos continuar vivendo de forma dividida, já que pandemias, problemas econômicos e ambientais, mesmo que de maneiras diferentes, afetam a todos”, afirma.

Relacionamentos

Um dos pontos mais sensíveis quando falamos na pandemia são os nossos relacionamentos, com os outros e com o mundo. “O isolamento social e o trabalho remoto fizeram com que a gente passasse muito mais tempo em casa e se voltasse mais para as nossas relações familiares e mais próximas. Acredito que isso tenha questionado o papel de cada pessoa nas relações dentro de casa e tensionado a distribuição de tarefas e do ato de cuidar. O que é bom! É importante avaliar e realinhar a forma como nos relacionamos uns com os outros”, diz Michele Bravos.

O home office, em alguns casos, trouxe desafios importantes, como na educação. “Já em outras situações, o home office funciona muito bem e prova que é possível trabalhar com muito mais qualidade de vida e, literalmente, de qualquer lugar – desde que tenha acesso à Internet.”

Daniela Nunes concorda com a importância da tecnologia. “Imagino como seria viver uma pandemia antes que a Internet estivesse nos patamares que temos hoje. Viveríamos um isolamento ainda maior”, diz ela.

“Mas aí vem um outro tipo de dor… a dor da dificuldade de acesso”, ela lembra. Para Nunes, para que a Internet tenha o impacto social que pode ter, é preciso que chegue a mais gente e que dê autonomia às pessoas. “Aí estaremos em um processo de mudança, que pode nos ajudar a superar problemas que nos rodeiam, sejam eles provocados pela pandemia ou não”, ela afirma.

O que fazer?

Para Michele Bravos, que no Instituto Aurora tem a missão de educar em direitos humanos, o importante é estimulam a construção de uma sociedade pautada em valores como igualdade, respeito, liberdade, solidariedade, empatia, cooperação, entre tantos outros. “Esses valores garantem que todas as pessoas – independente de gênero, raça, classe social, idade, crença, nacionalidade – vivam com dignidade”, diz ela.

“Se nós adultos pensarmos e agirmos mais assim, estaremos transmitindo maior consciência social às novas gerações. Por sua vez, crianças têm sempre muito a nos ensinar. A lente pelas quais elas veem o mundo é quase sempre bem menos embaçada que a nossa”, afirma.

Para Daniela Nunes, a resposta sobre quais atitudes tomar “é muito simples”. “A dica é fazer tudo o que está ao seu alcance.” De acordo com ela, vVivemos rodeados por situações problemas, desigualdades, preconceitos, problemas sociais e ambientais. “Mas se queremos realmente que algo mude, temos que ser protagonistas da mudança, dentro da nossa própria capacidade”, ela diz.

Segundo Nunes, o importante é olhar pela janela e descobrir como podemos alterar, intervir, corrigir, ou exigir alterações de situações com as quais nos deparamos no cotidiano. “Temos individualmente nossas próprias oportunidades de gerar mudanças, que consigamos realizá-las um dia de cada vez, um passo de cada vez.”

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