A incrível história de como aprendemos a salvar vidas

O desenvolvimento das vacinas é um caso de sucesso da humanidade

Epidemias sempre perseguiram a humanidade. No livro Wolf Hall, de Hilary Mantel, que conta uma história do século 16, o futuro-primeiro-ministro da Inglaterra, Thomas Cromwell, está no meio de uma situação dessas: uma doença terrível mata as pessoas em dias, Às vezes de horas. E chega o momento em que a família dele é dizimada – ele sai de casa para trabalhar e quando volta, a esposa e dois filhos foram atingidos pela praga.

Há uma diferença fundamental entre o que acontecia naquela época e o que acontece hoje. Alguns dos vírus que aparecem na Terra por esses dias podem ter o mesmo grau de letalidade que outras pragas devastadoras vistas pela humanidade. Mas agora nós conseguimos entender o que está acontecendo e, o que é mais importante, reagir ao inimigo.

Durante boa parte da História, a humanidade não contava com essa ferramenta incrível, a ciência. Se uma peste assolava uma cidade, a explicação mais provável era que os deuses estivessem se vingando de nós. Veja o caso da peça Édipo Rei: a doença terrível que se abate sobre os cidadãos é uma punição pelos crimes do rei.

Só no finalzinho do século 18, um sujeito chamado Edward Jenner percebeu o que para nós hoje parece óbvio: se você conseguisse fazer as pessoas criarem anticorpos, elas teriam como se defender da doença.

Talvez você tenha ouvido a história. Jenner percebeu que as pessoas que ordenhavam vacas (e que pegavam uma forma mais branda da varíola) não contraíam a variante mortal da doença. No desespero para achar um meio de salvar vidas, ele inoculou a secreção de uma vaca num menino e depois o expôs à varíola (imagine o risco!). Deu certo, e o garoto estava protegido contra a doença.

De lá para cá, muita coisa mudou. Os seres humanos conseguiram, por meio da microscopia eletrônica e de milhões de horas gastas em laboratórios, entender melhor os vírus e as bactérias. E ao invés de culpar a divindade, passamos e produzir medicamentos que nos protegem contra a invasão de agentes patógenos.

A evolução foi incrível. Primeiro, claro, foi preciso deixar de lado o pus da vaca e buscar métodos mais aprimorados de criar anticorpos. Durante o século vinte, a vacina típica usava ou formas atenuadas do vírus ou partes do vírus que, sozinhas, não conseguiam causar doença alguma.

O nosso corpo percebe a presença de um agente estranho e desenvolve formas de nos defendermos. Você pode até sentir uma febrinha (é o nosso sistema imunológico alertando que tem um corpo estranho no sangue), mas não pegará doenças terríveis como a varíola ou o sarampo.

Agora, com o novo coronavírus, a ciência colocou em prática com força nunca vista um outro método, que parece ainda mais promissor para nos livrar de doenças. A ideia é não precisar mais do vírus atenuado. Você cria uma molécula em laboratório e inocula um RNA mensageiro no paciente. Esse nanopedacinho de informação determina que nossas células produzam uma proteína igual à do vírus. E, com isso, nosso corpo imediatamente desenvolve a imunidade.

É o que fazem as vacinas da Pfizer e da Moderna contra a Covid, que têm atingido porcentuais de eficácia surpreendentes até o momento. Nenhuma vacina assim tem sido utilizada no Brasil, por enquanto. Mas é uma questão de tempo para criarmos mais ferramentas genéticas que nos libertarão de doenças.

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