Lula, Fernando, Chico e Marguerite

Lula
Três autores consagrados, e três opiniões diferentes, de uma escritora que não leu nenhuma resenha sobre as obras - antes de cometer essa que segue

Fernando Morais é um biógrafo bastante conhecido e tem várias obras publicadas, todas de sucesso. Ex-jornalista, suas pesquisas e entrevistas fazem de seus livros um belo mergulho na vida dos biografados. Além disso, organiza toda a barafunda de dados com uma capacidade invejável.

Comprei Lula, da Companhia das Letras, assim que saiu. Que livro, gente, que livro!

Fui na palestra do Fernando Morais em Curitiba, no projeto Diálogos Contemporâneos, já com o livro lido. Ele responde às perguntas somente com o que ele quer falar, e se repete muito. Idade – e pós-Covid das brabas. Como ele consegue escrever tanto e tão bem? Mistérios.

Alguém questionou, nas redes sociais, se tem alguma coisa da vida do Lula “que a gente ainda não saiba”.

Tem, e muita. 

A questão não é essa. Como Morais narra é que são elas. Um livro de 400 páginas é lido como se tivesse 50. 

#paratodosverem Escritor Fernando Morais aparece em frente ao mar
Fernando Morais lançou biografia de Lula após 10 anos de acesso direto ao ex-presidente. Foto: divulgação

A fase em que ele foi preso por Sérgio Moro é fundamental para se entender o Brasil de hoje. Mas, a obra inteira também é. 

Dois episódios narram a honestidade (e a falta de?) de Lula jovem. No primeiro, Lula é tentado a ganhar dinheiro de forma desonesta, e recusa. Isso porque todos os filhos de dona Lindú teriam vergonha da mãe, se assim o fizessem. 

No segundo, Lula, que havia perdido um dedo na Metalúrgica Independência, depois de um tempo na mesma empresa, vai para outra metalúrgica. É chamado para fazer hora extra num final de semana. Mas os irmãos foram passar o sábado e domingo em Santos. Lula apanhou o dinheiro, adiantado pelo patrão para comida e transporte naquele fim de semana, e foi com os irmãos se divertir. 

Segunda-feira, ao chegar no trabalho, foi questionado – e não mentiu. Demissão imediata. 

Foi na mesma metalúrgica que Lula recebeu seu primeiro décimo-terceiro salário, benefício criado por Goulart em 1962, mas que só entraria em vigor em 1965.

(Aliás, falando em dinheiro, Lula recebeu indenização pelo dedo amputado. Comprou um terreninho e a cozinha de dona Lindu: armário, mesa e quatro cadeiras).

Uma revelação interessante é que Lula, apesar de ter um irmão comunista, acreditava nos militares depois de 1964. Acreditava, como a maioria dos brasileiros, que tinha sido feita, mesmo, uma “revolução contra o comunismo”. Ele e os operários colegas. Só quando começou a faltar emprego – e, portanto, dinheiro para os pobres – é que a luz acendeu.

Não vou revelar mais spoilers. Espero ansiosa pelo segundo volume.

Duras

Marguerite Duras. Foto: arquivo

De Marguerite Duras, Escrever é uma obra monumental, que requer a imediata leitura de outras obras da mesma autora. É publicada pela Relicário, uma editora que se revela preciosa no mercado brasileiro.

O livro saiu em 1993, dois anos e meio antes de sua morte, aos 82 anos. É tido como “um dos testamentos literários da autora”, segundo a editora brasileira.

Tem cinco ensaios independentes; Escrever é o primeiro, onde Duras “entrega confidências sobre seu trabalho e seus amores, sobre a infância e, sobretudo, sobre a solidão e as angústias que permeiam a criação literária”.

Realmente, a obra é tudo isso, eu diria, obrigatória para quem escreve.

Chico

Chico Buarque.

O livro de contos do Chico Buarque, na minha modesta opinião, é dispensável. Anos de Chumbo e Outros Contos, também pela Companhia das Letras, é uma leitura que não marca.

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