Sempre é bom refrescar a memória

Há quem (ainda) recorra a certas palavras que, de uso mais do que comum, acabaram sumindo do dia a dia e, hoje, soam desconcertantes

 No bar, de repente, alguém chega todo esbaforido:  

– Tem um cara caído na esquina! Depois de chamar o Hugo, tá pedindo socorro…  

E alguém reage de pronto:  

– Vamos ajudar! Chama o Samdu!  

Breve silêncio, até que um terceiro interfere:  

– Acho melhor chamar o Samu… Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.  

– É… de fato. É que eu sou meio das antigas. Do tempo do esculápio, CTN, Companhia Telefônica Nacional, do futebol com os clássicos CAP-CAF, CORI-CAF, mais o BNH, o IBAD e a cueca samba-canção.  

Urgência e emergência  

Criado em 2003, como parte da Política Nacional de Urgências e Emergências, o Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU) era bancado pelo governo federal, governos estaduais e municípios.  

E aí alguém quis saber (que diabos!) o que era esse tal de IBAD. Silêncio quase sepulcral. O jeito foi matar a charada – ou refrescar a memória dele e de muita gente entre os demais.  

Caiu primeiro de abril  

A ditadura civil-militar foi instaurada no dia 1º de abril de 1964, após a deposição do presidente João Goulart, eleito democraticamente e herdeiro político de Getúlio Vargas. Como bem registrou o livro Cães de Guarda, Jornalistas e Censores, do AI-5 à Constituição de 1988 – livro de Beatriz Kushnir, 2004, Boitempo Editorial. Sobre a autora: mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense e doutora em História Social do Trabalho pela Unicamp.  

O motivo “oficial” para o golpe, deflagrado na noite de 31 de março, foi o “espectro do comunismo”, alimentado pelo suposto alinhamento de Jango com ideologias de esquerda tendo em vista suas propostas políticas ousadas, como a reforma agrária e a nacionalização de empresas em diferentes setores da economia.  

PIG em ação  

Ainda do livro:  

– Além de apoio financeiro, logístico e militar do Tio Sam, alguns setores da própria sociedade brasileira, severamente bipolarizada na época, com apoio de parte da chamada grande imprensa, grandes proprietários rurais, boa parte da classe média e de grupos conservadores e anticomunistas da Igreja aos golpistas deixou claro que o golpe não foi apenas militar, mas civil /militar, destaca Beatriz Kushnir. Basta ver a participação do PIG – Partido da Imprensa Golpista – como bem definiu o jornalista Paulo Henrique Amorim (1943-2019), no seu site Conversa Afiada.  

Há outras obras a respeito do que ocorreu no Brasil:  

– 1964: A Conquista do Estado, do cientista político uruguaio René Dreifuss.  

– De Getúlio a Castelo, do historiador norte-americano Thomas Skidmore.  

– O Ato e o Fato, de Carlos Heitor Cony, reunindo suas crônicas publicadas no jornal Correio da Manhã, a partir do dia 2 de abril de 1964.  

– A Ditadura EnvergonhadaA Ditadura EscancaradaA Ditadura DerrotadaA Ditadura Encurralada – do jornalista Elio Gaspari, junho de 2016.  

PS: quando o jornalismo não é plural, dá zebra.  

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