O nosso clima (nem sempre) temperado

#descrição imagem mostra nevoeiro em parque curitibano, em alusão ao frio no Paraná.
Curitiba tornou-se uma cidade conhecida por vários motivos – e um deles, de marcantes passagens, é o frio – uma espécie de marca registrada da capital

Pelo que consta, meteorologicamente falando, o clima de Curitiba é temperado. E aí, há quem tenha comentado com seus botões (do casacão de inverno), já que permanece recluso em casa sem aquecedor ou lareira:

– De fato. Clima temperado. O ruim devidamente temperado com o péssimo. Tanto que o nosso general inverno já foi promovido a marechal… Curitiba, a fria. Antonomásia surgiu em 1967, por conta do jornalista e escritor pernambucano Fernando Pessoa Ferreira (1932-2010).

Brincadeiras à parte, oficialmente, o inverno começa, ou começaria dia 21, às 00h32, para terminar em 22 de setembro, às 16h20 (horário de Brasília). Começaria, mas, como sempre, São Pedro resolveu antecipá-lo.

Para amenizar as coisas, vale lembrar alguns registros:

* Curitiba – uma cidade tão boa que até o inverno vem passar o verão aqui.

Um anônimo – não o veneziano, aquele do filme de Enrico Maria Salerno, com Tony Musante e Florinda Bolkan.  

E temos outro personagem em animação que se tornaria uma das boas lembranças de velhos tempos, o porcalhão Sujismundo, criado por Ruy Perotti em 1972.

Já apontada como a capital mais fria do Brasil e, depois, com direito a neve e, agora, até ciclone(s), o tempo curitibano tem dado o que falar. E, é claro, não é de hoje. Um episódio: no dia 27 dezembro de 1971, Vinicius de Moraes (Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, 1913/1980) inaugurou (regado a boas doses de uísque) o Teatro Paiol. Alguns meses depois, um jornalista curitibano, de passagem pelo Rio de Janeiro, foi à redação do Jornal do Brasil, o JB, para rever um amigo. Na saída, topa com Vinicius de Moraes, o Poetinha, que o reconhece e estende a mão para cumprimentá-lo. Poetinha era o apelido que lhe foi dado por Tom Jobim.

– Tudo bem? Você é de Curitiba, não é?

Diante da resposta confirmando a procedência, veio a previsível pergunta:

– Curitiba ainda tem aquele ventinho frio que se esconde nas esquinas e ataca quando a gente passa pela Rua XV?

A resposta, com um sorriso:

– Sim, ele continua marcando presença…

O que justifica o título

Segundo os especialistas no assunto, Curitiba é considerada a capital mais fria do país devido a sua localização. Mais próxima da zona polar do sul, registra baixas temperaturas especialmente no inverno, quando a inclinação da Terra distancia a região dos raios solares.

Ainda dos meteorologistas:

– A capital paranaense não é a que está no extremo do território brasileiro: Florianópolis e Porto Alegre estão mais ao sul. Mas há dois fatores que influenciam o clima curitibano: a posição e o relevo. Curitiba está a 935 metros acima do nível do mar, enquanto Florianópolis e Porto Alegre são cidades com altitude zero ou quase isso. Mas o título de campeão mesmo cabe a Urupema, município catarinense, considerado, sem contestação, o mais frio do Brasil.

E, para quem anda reclamando do frio em Curitiba, há lugares bem piores. Caso de Yakutsk, capital do estado de Yakutia, na Sibéria. A cidade de 200 mil habitantes é (com título no Guinness, o livro dos recordes) a mais fria do planeta.

Uma manchete histórica

Em 17 de julho de 1975, Curitiba viu suas ruas e praças ficarem cobertas de neve.

Em se tratando de neve, vale lembrar 17 de julho de 1975. Um dia para não esquecer. Até porque entrou para a história a manchete do jornal O Estado do Paraná:

CURITIBA BRANCA DE NEVE

Como já foi registrado, o autor da grande sacada foi o jornalista Mussa José Assis (Pompeia, 1944 – Curitiba, 21 de fevereiro de 2013), mestre de uma geração de profissionais. Ele estava na praia quando soube da notícia, pelo rádio. Como grande jornalista que foi, tratou de voltar para Curitiba. E, como comentaria mais tarde, com os colegas de redação, já na subida da serra ficou matutando como seria o título para a manchete de primeira página.

Chegando ao jornal, que tinha sede nas Mercês, dedilhou na máquina de escrever e entrou para a história. Juntamente com a neve. Até então, Curitiba só tinha oferecido tal espetáculo em 1928. E muita gente ficou sabendo que neve consiste na precipitação de flocos formados por cristais de gelo. Com intensidade leve, moderada ou forte. Como explicaram os entendidos no assunto, cada floco de neve é formado por água congelada em forma cristalina. Com capacidade de refletir a luz, adquire aparência translúcida e coloração branca.

Já quando se trata de granizo, não é motivo de festa aqui por nossas bandas. O fenômeno é caracterizado pela precipitação de água no estado sólido, ou seja, em forma de gelo. Essas partículas são transparentes ou translúcidas e apresentam tamanhos e pesos variados.

Quem bate?

E vale lembrar também um comercial das Casas Pernambucanas, para apresentar sua linha de cama, mesa e banho para o inverno. Modernizado pela agência J. Walter Thompson, contava com o jingle que se tornaria famoso. Criado por Heitor Carillo, ele chegou às televisões brasileiras em 1962. O comercial original foi produzido pela Lynxfilm, produtora de Ruy Perotti e César Mêmolo Junior.

Quem bate? É o frio…
Não adianta bater que eu não deixo você entrar
As Casas Pernambucanas é que vão aquecer o meu lar
Eu vou comprar flanelas
Lãs e cobertores eu vou comprar
Nas Casas Pernambucanas
E nem vou sentir o inverno passar.

PS: e hoje, infelizmente, como se não bastasse o frio, temos de enfrentar a Covid-19 e, também letal, o desgoverno do genocida e seus parceiro$.


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