Novos tempos com os velhos transtornos

Do telefone fixo ao celular, passando pela TV em preto e branco e a internet, vale a pena ir às origens de coisas que mudaram o nosso dia a dia

Tempos atrás, o sujeito saía de casa e, de repente, no meio do caminho, parava, apalpava o bolso e fazia uma careta:  

– Xi! Esqueci a grana e a carteira de identidade…  

Hoje, embora até seja mais difícil (é, os novos tempos), o que geralmente faz a pessoa voltar para casa, e de modo acelerado, geralmente é o celular – que ficou no bidê da cabeceira da cama.  

E, sobre o cada vez mais admirável, ou desconcertante, mundo novo, há quem tenha voltado no tempo. O primeiro telefone, ou melhor, telephone. Isso mesmo, e graças a um cientista e empresário escocês: Alexander Graham Bell. Ele mesmo. Como ficou registrado, no dia 10 de março de 1876 foi realizada a primeira bem-sucedida transmissão elétrica de voz por um aparelho. Mas, tempos depois, Graham Bell seria banido do pedestal da fama.  

Isso porque o Congresso dos Estados Unidos, por conta da Resolução 269, de 15 de junho de 2002, decidiu reescrever a história: o aparelho foi inventado por volta de 1860 pelo italiano Antonio Meucci, que o chamou de “telégrafo falante”.  

Uma coisa, porém, é absolutamente certa: o primeiro telefone chegou ao Brasil em 1877. Fabricado na oficina Western and Brazilian Telegraph Company, foi produzido especialmente para o imperador Dom Pedro II, sendo instalado no Palácio Imperial de São Cristóvão.  

E surgiu a televisão  

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil.

Os registros históricos destacam que, embora a televisão tenha sido resultado de uma série de descobertas sucessivas, aquele que é conhecido como o pai do aparelho é o norte-americano Philo Farnsworth (1906-1971). E a TV, que surgiu no século XX para “transmitir imagem e som a longas distâncias”, imperou por décadas como o principal meio de comunicação social até ganhar cores.  

Quanto à Internet, ela surgiu nos anos 60, nos Estados Unidos, quando da chamada Guerra Fria. O Departamento de Defesa planejava criar uma rede de comunicação de computadores em pontos estratégicos.  

O inventor da World Wide Web, a tal Rede Mundial de Computadores, Tim Berners-Lee, passou a ser considerado o pai da internet. E, preocupado, conclamou pessoas, empresas e governos a promover ações concretas contra a manipulação política, a invasão de privacidade, fake news e outras forças que ameaçam a segurança da vida online. Como se comprovaria até hoje, não obteve sucesso.  

Sites a dar com o pé  

Pelo último “censo”, existe hoje no mundo cerca de 630 milhões de sites, número que cresce a cada dia. Afinal, estima-se que a população global chegou a 7,8 bilhões, em julho do ano passado. E as Nações Unidas calculam que a população humana chegará até 11,2 bilhões em 2100. Isso sem levar em conta a tal gripezinha.  

No Brasil, a conexão de computadores por uma rede somente era possível para fins estatais. O inventor Martin Cooper (1928) é um engenheiro visionário que foi o líder da equipe que criou o DynaTac, da Motorola, o primeiro aparelho relativamente portátil do mundo da telefonia. Leve, o celular pesava menos de um quilo, mais precisamente 793 gramas.  

Em 3 de abril de 1973, liderado por Martin Cooper, a Motorola apresentou e fez a primeira ligação de um telefone celular, com o DynaTAC 8000, que só chegou a ser comercializado em 1983. Aparelho de primeira geração. E a ideia era colocar mais telefones em carros, já que muitos achavam que este seria o futuro da indústria, e não nas mãos das pessoas.  

A chegada do celular ao Brasil ocorreu em 1990. Tremendo sucesso. Mas com cerca de 20 anos de atraso em relação a países como Estados Unidos. E, naquela época, era difícil imaginar que 30 anos depois o país teria mais celulares que habitantes. O então chamado Motorola PT-550 passou a ser vendido inicialmente no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo.  

Ascensão e queda  

A arquiteta Chu Ming Silveira foi a idealizadora do orelhão brasileiro.

E não dá para esquecer o triste fim do telefone público que marcou época com o apelido de orelhão. Foi criado pela arquiteta Chu Ming Silveira (Xangai, 4 de abril de 1941/São Paulo, 18 de junho de 1997), que veio para o Brasil com a família, em 1951. Isso quando estava à frente do Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira, em 1971.    

O modelo permitia ao usuário a melhor acústica possível ao fazer uma ligação em via pública. E virou produto de exportação para países como Peru, Colômbia, Paraguai, Angola, Moçambique e China. Tremendo sucesso. Seu formato peculiar permitiu muitos apelidos, como orelhão, tulipa e capacete de astronauta. Seu nome oficial, no entanto, era Chu II, já que o Chu I, apelidado de Orelhinha, tinha formato menor e destinava-se a ambientes fechados.  

O primeiro orelhão foi inaugurado no Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1972. Cinco dias depois, ocorreu a inauguração em São Paulo. E, na década de 1990, as fichas telefônicas deram vez aos cartões telefônicos. Com o passar tempo, os orelhões foram alvo também de vandalismo, furto de fiações e peças de metal.  


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