Brasil ladeira abaixo. E na terra plana…

Não foi por falta de alerta antes da eleição de Bolsonaro, para quem a Covid-19 era uma “gripezinha” e a Amazônia uma terra de ninguém

Depois de ouvir as lamúrias de um eleitor, outrora irascível seguidor de Bolsonaro, há quem tenha pensado com seus botões. Isso mesmo, botões, posto que é do tempo da galocha. Galocha no sentido figurado, já de uso popular, diga-se a bem da verdade, já que a galocha real, em sua primeira leva era destinada à elite para proteger e enfeitar os calçados da nobreza. 

Assim sendo, ainda matutando com seus botões, ele voltou ao site Conversa Afiada dos tempos do saudoso Paulo Henrique Amorim. 

A ficha completa 

Do (certeiro) comentário de PHA: 

– Uma das marcas registradas do deputado e ex-capitão Jair Bolsonaro sempre foi não medir palavras, dando a entender que não pensava antes de abrir a boca em público. Foi assim que se sobressaiu na obscura bancada do baixo clero na Câmara. Escapou do ostracismo pela incontinência verbal. 

Com 28 anos de mandatos em Brasília, lançou-se ao Planalto sem qualquer chance visível. Continuou falastrão na campanha, venceu as eleições e pensou-se que moderaria o discurso, para se adequar à liturgia e à representatividade do cargo que passou a ocupar. 

Sete meses e meio de mandato demonstram que Bolsonaro continua o mesmo, sem dar importância aos estragos institucionais que provoca, não só internamente. 

Nos últimos dias, o presidente tem sido especialmente produtivo em falar o que não deve, em usar termos chulos, em investir contra o decoro da Presidência da República. 

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Crédito da foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil.

À costumeira agressividade de quando trata de temas políticos, sempre abordados de maneira radical, Bolsonaro acrescentou uma fixação escatológica. É no mínimo exemplo de má educação, de inconveniência. Por partir de um presidente da República, não passa despercebido no mundo, afetando a imagem do país, com prejuízos concretos. No descontrole em que se encontra Bolsonaro, interesses diplomáticos envolvendo a economia já começam a ser afetados. 

Ainda de PHA: 

A oposição à preservação do meio ambiente, uma característica da extrema direita mundial, tem sido exercida como se Bolsonaro ainda estivesse no baixo clero. Seu governo, com o ministro do Meio Ambiente à frente, Ricardo Salles, procura romper por completo o acordo com Alemanha e Noruega, que sustentam o Fundo Amazônia com bilhões em doações, para apoio a projetos sustentáveis na região. 

A dirigente de um dos mantenedores do fundo, Angela Merkel, chanceler da Alemanha, foi desrespeitada pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, que, no estilo Bolsonaro, declarou que ela tem apresentado tremores em público depois de receber uma “encarada de Trump”. 

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, fala à imprensa.

Pobre Amazônia 

Ainda de PHA: Com o desconcertante ataque ao Fundo Amazônia, entre outros atos, Bolsonaro dá pretexto para que França e Alemanha, cujos agricultores e certas indústrias desgostam do acordo entre a UE e o Mercosul, tirem o apoio ao tratado comercial. Um revés para o Brasil. 

A vitória da chapa peronista Alberto Fernández/Cristina Kirchner nas primárias argentinas contra o presidente Mauricio Macri, de centro-direita, mereceu de Bolsonaro uma reação também nada protocolar. Alertou os gaúchos para o risco de a “esquerdalha” transformar a Argentina em nova Venezuela, e o Rio Grande do Sul, outro Roraima, porta de entrada de venezuelanos no país. 

Bolsonaro se esquece do Mercosul, do nível de integração que já existe entre os dois países, com a Argentina sendo forte importador de produtos manufaturados do Brasil. O presidente se torna um risco para o país. 

O jornal austríaco Die Presse publicou uma reportagem em que chama o presidente (sic) Jair Bolsonaro de “idiota”. Com o título “O Brasil elegeu um idiota”, a publicação comenta as teorias conspiratórias criadas por Bolsonaro e sua tentativa de reescrever a história. 

Papa Francisco.

Bolsonaro criticou a mensagem divulgada pelo papa Francisco em favor da proteção da Amazônia, e afirmou que a floresta “é nossa”. A declaração tenta rebater uma publicação do pontífice: – Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. 

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima