Caatinga está entre os biomas mais ameaçados do país

Uma das maiores áreas de vegetação típica do Brasil reserva fauna e flora típicas e conta com belezas naturais como o Parque do Catimbau

Símbolo de resistência por sua capacidade de sobrevivência em meio à seca, a caatinga, um bioma exclusivamente brasileiro, vem sendo ameaçado. De acordo com os dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) do Brasil, quase metade do território da caatinga já foi desmatado. A vegetação, que se estende do norte do Ceará ao norte de Minas Gerais, ocupa o 3° lugar no ranking de desmatamento do país.

As consequências disso são diversas, comprometendo a vegetação e levando o bioma à desertificação. A vegetação e os animais não conseguem se adaptar às novas condições climáticas, provocando a extinção de espécies, a erosão e o empobrecimento da terra. O principal fator causador do problema é a ocupação do solo para pecuária.

Trilha das Torres, localizado no Parque Nacional do Catimbau/Pernambuco
Foto: Lucivania Bezerra de Santana

Segundo o biólogo e pesquisador Felipe Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, mestre e doutor em Ecologia de Ecossistemas Tropicais, os interesses econômicos se sobrepõem aos interesses ambientais na região. “A maior parte da caatinga desmatada foi convertida em pastos. Diferente do que se pensava, os habitantes que vivem na região da Caatinga, vivendo dela, fazendo roças temporárias, não são os responsáveis pela degradação desse bioma. Hoje, entende-se que essa dinâmica de desmatamento é algo caro, então isso é uma conversão ligada a grandes latifúndios”, explica.

Por apresentar um patrimônio biológico que não se encontra em nenhuma outra parte do mundo, a caatinga apresenta uma grande importância para a biodiversidade do planeta. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade- ICMBio (2018) informa que o bioma apresenta um total de 1.182 espécies avaliadas. De acordo com Flora do Brasil (2021), a Caatinga é rica em biodiversidade, abrigando cerca de 4.963 espécies de plantas. Entre eles, destacam-se os cactos, as bromélias e as leguminosas.

Trilha da igrejinha localizada no Parque Nacional do Catimbau
Foto: Emanuela Gueiros

A principal iniciativa de conservação da caatinga é do Departamento de Ecossistemas do MMA. Trata-se do Projeto GEF Terrestre – Estratégias de conservação, restauração e manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal. No entanto, o monitoramento da degradação da região é realizada por outros institutos. Um deles é o Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas), que monitora a vegetação em áreas de preservação ambiental.

De acordo com Felipe Melo, a importância da conservação vai além da fauna e flora. “A caatinga é uma força de formação do Brasil. Boa parte da identidade cultural do nosso país está ligado a esse bioma. A música, a literatura, entre outras manifestações culturais estão entrelaçados a essa floresta seca que apresenta uma importância não apenas regional, mas a nível nacional, na formação da identidade brasileira”, ressalta o pesquisador.

Característica da caatinga

De origem tupi-guarani, o nome Caatinga significa “floresta branca”. Essa denominação se refere ao que tem mais forte em sua característica, que devido aos longos períodos sem chuva a vegetação precisa criar mecanismos de defesa para sobreviver ao clima semiárido, resultando em folhas secas que não resistem e caem, dando espaço a paisagens claras e esbranquiçadas em seus troncos de árvores.

Parque Nacional do Catimbau

Considerado umas das sete maravilhas de Pernambuco, o Parque Nacional do Catimbau, conhecido como Vale do Catimbau, preserva uma das últimas reservas do bioma caatinga do Brasil. Instituído sob o decreto de 13 de dezembro de 2022 e localizado a 290 km de Recife, ele abrange os municípios de Buíque, Ibimirim, Sertânia e Tupanatinga, totalizando 62 mil hectares de áreas protegidas. Possuindo mais de 42 sítios arqueológicos catalogados, o Catimbau é considerado o segundo maior parque arqueológico do Brasil, perdendo apenas para a serra da Capivara, localizada no Piauí.

Paredão do Lápias localizado do Parque Nacional do Catimbau. Foto: Lucivania Bezerra de Santana

Esses sítios arqueológicos são dotados de riqueza histórica e cultural que despertam o interesse de pesquisadores de diversas áreas. É o caso da arqueóloga Ana Luiza do Nascimento Oliveira, que começou a fazer suas pesquisas na década de 90, escalando o sítio Alcobaça, na qual gerou as primeiras escavações sistemáticas da região.

“O sítio Alcobaça me impactou pelo tamanho do painel de pintura rupestre, que é composto por mais de 70 metros de extensão, e além disso, esse sítio nos permitiu perceber formações de vestígios e dotações em torno de 2000 mil anos. É importante ressaltar que o Vale do Catimbau é uma área de convergência de diferentes grupos que passaram por ali, pois as pinturas rupestres dos sítios arqueológicos nos mostram através de estudos que foram pintados por grupos diferentes”, diz a arqueóloga.

Trilha das Torres/ Parque Nacional do Catimba. Foto: Emanuela Gueiros

De acordo com Jailton Fernandes, atual chefe do Catimbau, “o parque apresenta um valor ambiental e histórico inestimável, sendo ele de extrema importância para população local também pela atividade turística, movimentando o comércio, serviços de hospedagem e alimentação, além da produção artesanal. Os serviços de guias/condutores realizados por moradores da vila do Catimbau são uma importante fonte de renda para eles, existindo duas associações que coordenam essas atividades”.

Além de atrair turistas de todo território nacional, as paisagens presentes no Catimbau são fontes de inspirações para cenários de filmes e telenovelas. A exemplo disso, temos a novela “Mar do Sertão”. Exibida pela Rede Globo recentemente, a narrativa teve diversas cenas gravadas no parque, chamando a atenção do público e fazendo com que crescesse de forma considerável o número de turistas interessados em conhecer o local.
No ano passado foram registrados um total de 8.508 visitantes e esse ano, só nos três primeiros meses, visitaram o Parque 2.341 pessoas.

Paisagem típica da Caatinga em um fim de tarde no Parque Nacional do Catimbau. Foto: Lucivania Bezerra de Santana

Sobre o MapBiomas

O MapBiomas é uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia onde são realizados mapeamentos anuais da cobertura e uso do terra e monitoramos à superfície de água e cicatrizes de fogo desde 1985. Nesse site também são validados e elaborados relatórios para cada evento de desmatamento detectado no Brasil desde janeiro de 2019, por meio do MapBiomas Alerta.

Registros de pinturas rupestre em parques arqueológicos do Catimbau. Foto: Lucivania Bezerra de Santana

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