Djibouti é um pequeno país localizado no nordeste da África. Pouco conhecido por aqui, foi colônia da França e teve sua liberdade conquistada apenas em 1977. É uma nação com grandes contrastes sociais e que, até bem pouco tempo, não tinha realizado um longa de ficção sequer. Juventude (Dhalinyaro), dirigido por Lula Ali Ismaïl, é não só o primeiro filme do país, como também o primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher.
Na história, Asma (Tousmo Mouhoumed Mohamed), Hibo (Bilan Samir Moubus) e Deka (Amina Mohamed Ali) são três amigas que estão prestes a terminar o ensino médio e atravessam a fita se preparando para os exames de seleção da faculdade. Enquanto isso, vivem o turbilhão hormonal adolescente, esgueiram-se entre a tradição religiosa (o país é fortemente muçulmano) e o machismo estrutural. Em Djibouti, quem tem condições para tal, prefere ingressar em uma faculdade fora do país, o que faz com que essas amigas saibam que aquele é o último ano em que estarão próximas umas das outras, de suas famílias e de seus amores.
Lula Ali Ismaïl emigrou para o Canadá por volta dos 14 anos, quando sua família deixou Djibouti em uma onda migratória que fugia da instabilidade política da região. Em 2011, ela lançou o média-metragem Laan, de 27 minutos, também sobre três jovens amigas. Em Juventude, essas amigas vêm cada uma de uma diferente classe social, o que permite a Ismaïl exibir diversos aspectos de seu país. Mas o filme acaba pecando por ser demais expositivo, preocupado em revelar ao mundo cada pequeno traço de exotismo cultural. É natural, já que se trata de um país pouco conhecido no ocidente e com uma filmografia praticamente inexistente. Contudo, quando o filme se concentra mais em sua narrativa e se esquece dessa vontade antropológica, vemos com mais clareza as sutilezas e a sensibilidade da direção.
Juventude é muito sincero em seus objetivos e na sua busca por observar de muito perto essas três amigas e sua sociedade. Há alguma fragilidade na obra, frente a pouca experiência do país na realização de longas de ficção, mas, ainda assim, são fragilidades que não são capazes de apagar o fulgor da narrativa. A delicadeza com que Ismaïl conduz suas personagens e os espectadores é algo reconfortante, o que desemboca em um final igualmente potente e belo.
Por se tratar de uma obra naturalista, com forte vocação pelo real, as atuações – muitas vezes vacilantes – são um desses problemas. Mesmo assim, embora não homogêneas, há momentos em que a diretora e sua tríade de atrizes alcançam lugares raros. Raro como esse cinema que nasce por lá.
Sobre o/a autor/a
Aristeu Araújo
Cineasta e crítico de cinema. Dirigiu oito curtas-metragens e há vinte anos escreve sobre filmes.