O outro lado (quase oculto) das Olimpíadas

A participação de mulheres no Comitê Olímpico só foi aceita em 1981; e, antes, o nazismo e o fascismo marcaram presença, acionando o racismo para a expulsão de medalhistas negros

Há quem tenha ficado de olho nos resultados dos Jogos Olímpicos, no desempenho dos atletas, sempre em busca do ouro. Nada contra, mas, vale a pena, e muito, um mergulho na origem e na história dos Jogos Olímpicos. E, por conta da revista Aventuras na História, da Editora Caras, São Paulo, na verdade um livro, para ler e guardar, digno de uma publicação bem acessível na estante, é possível conhecer as inúmeras e terríveis batalhas para tornar realidade as Olimpíadas. E o outro lado dos eventos. Na capa, temos uma pequena foto de Hitler fazendo a saudação nazista e o título Política nas Olimpíadas – a história dos Jogos Olímpicos é também a história dos jogos de poder.  

Breves trechos da matéria de Alexandre Carvalho, a partir da página 30 do exemplar, que teve Izabel Duva Rapoport no comando da edição e Marli Mari na edição de arte:  

– Basta ver que o COI – Comitê Olímpico Internacional – teve de superar. Isso porque, como ressalta a publicação, “quando a politicagem entra em cena, por força de interesses pessoais, nem mesmo as competições que nasceram em 1896, com bons propósitos, estão imunes”.  

Jogos só para machos  

Lançada em junho de 2003, a revista vem cumprindo o papel para o qual se propôs: “apresentar ao público fatos históricos desconhecidos de um jeito apaixonante”. Um dos exemplos: “As mulheres só foram aceitas no Comitê Olímpico em 1981, mais de oito décadas após a fundação da entidade”. Isso mesmo, mais de 80 anos. Afinal, era um “esporte de elite, com jogos para macho”. De volta a 2021: as atletas do Brasil conquistaram o maior número de pódios registrado por brasileiras em uma única edição.  

– As atletas brasileiras brilharam em Tóquio, fechando os Jogos com o melhor desempenho até agora em todas as Olimpíadas de que participaram. Elas subiram ao pódio em Tóquio 9 vezes, ante 5 vezes no Rio, em 2016. O maior número até então havia sido em Pequim, nos jogos de 2008, quando conquistaram 7 medalhas. E se considerarmos a proporção entre o total de medalhas que o Brasil traz para casa e o total amealhado por mulheres, o desempenho delas também foi o melhor já registrado.  

A vez dos deficientes físicos  

Pierre de Coubertin foi o idealizador dos Jogos Olímpicos da era moderna. Foto: reprodução.

Foi o Barão Pierre de Coubertin quem promoveu a reorganização dos jogos visando  igualdade, inspiração, determinação e coragem -, o que, décadas depois, se tornariam os Jogos Olímpicos modernos. Paralimpíadas: o embrião do evento surgiu em 1948, na pequena cidade inglesa de Stoke Mandeville. O médico alemão Ludwig Guttmann, diretor do centro nacional britânico de traumatismos, que reabilitava soldados feridos da Segunda Guerra Mundial, criou um evento esportivo exclusivamente voltado a deficientes físicos. Com a ajuda de Demetrius Vikelas, Coubertin e os demais membros do comitê geral conseguiram organizar os primeiros Jogos Olímpicos modernos no verão de 1896, na cidade de Atenas.  

A eterna juventude (olímpica)  

Além dos Anéis Olímpicos, as Olimpíadas possuem outros símbolos famosos: a tocha, o lema, as medalhas e os mascotes. A tocha olímpica representa a pureza da eterna juventude olímpica. Simboliza o elo entre o berço das Olimpíadas na Grécia e as cidades-sedes, que recebem os Jogos contemporâneos.  

O que significa as 5 bolas da Olimpíada: os aros representam a união dos 5 continentes e pelo menos uma de suas cinco cores está presente na bandeira de cada um dos Comitês Olímpicos Nacionais vinculados ao COI.  

Da Grécia Antiga à Era Moderna  

Em 1894, o historiador francês Pierre de Coubertin (conhecido como Barão de Coubertin), inspirado nas histórias sobre as Olimpíadas da Grécia Antiga, fundou o Comitê Olímpico Internacional (COI), órgão responsável por organizar os Jogos Olímpicos da Modernidade. Pierre de Coubertin foi um pedagogo e historiador francês que teve grande importância no ressurgimento dos Jogos Olímpicos. Biografia resumida: – Em 1887 fez campanhas em Paris para promover os esportes nas escolas. – Organizou e liderou o processo que reestabeleceu as Olimpíadas da Era Moderna.

Obrigado, Pierre de Coubertin. O autor da célebre frase que, em outras palavras, diz que o que realmente importa não é vencer, mas sim competir. Na íntegra: A coisa mais importante nos Jogos Olímpicos não é vencer, mas participar, assim como a coisa mais importante na vida não é o triunfo, mas a luta.  

Do racismo ao Diamante Negro  

Leônidas da Silva, o inventor da bicicleta no futebol. Foto: reprodução.

E, como o que manda em (quase) tudo é a grana, a profissionalização do futebol no Brasil foi um grande passo para a redução do racismo. Como os atletas passaram a ser contratados e pagos de acordo com seu nível técnico, a cor de pele dos jogadores passou a ser uma questão menos importante. A nova situação do futebol brasileiro propiciou o reconhecimento de talentos como Leônidas da Silva, o Diamante Negro, que encantou o mundo na Copa de 1938, na França. Antes disso, a presença de negros na Seleção Brasileira ainda era vista com maus olhos.  

Em 1921, por exemplo, o então presidente Epitácio Pessoa sugeriu que não fossem convocados jogadores negros para a disputa do Sul-Americano daquele ano para que fosse projetada no exterior “uma imagem composta pelo melhor da sociedade brasileira”. No entanto, a popularização do futebol ao longo do século passado o expandiu a todas as camadas sociais – e negros como Domingos da Guia, Leônidas, Barbosa, Nilton Santos e outros foram conquistando seu espaço nos clubes e na Seleção, agregando valor ao futebol brasileiro. E chegamos ao título de o país do futebol.  

PS: país do futebol, apesar dos que jogam contra, do esporte à política. 

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