Renato Freitas critica PM por 483 mortes e secretário de Ratinho pede punição a deputado

Renato Freitas. Foto: Alep
Ao invés de se chocar com mortes causadas pela corporação, secretário de Segurança, Coronel Hudson, quer punir quem falou do assunto

O secretário da Segurança do Paraná, Coronel Hudson, enviou um ofício à Assembleia Legislativa pedindo que o deputado Renato Freitas (PT) seja repreendido. O motivo: Renato, um deputado negro de origem periférica, ousou questionar a atuação da Polícia Militar depois do balanço de mortes em “confronto” deste ano – foram 483 mortes causadas por PMs em 2022.

Renato contou histórias de abusos de policiais, de violência sem motivo, e disse que a formação dos cadetes acaba gerando uma tropa treinada mais para matar do que para “servir e proteger”. “Quando eu vejo um policial de madrugada na periferia eu não vejo as palavras servir e proteger. Eu vejo os crimes que ele cometeu, porque trago as marcas desses crimes na pele”, afirmou.

Crítico contumaz da violência policial, Renato já levou tiros de borracha e foi preso diversas vezes, pela Guarda Municipal e pela PM, geralmente por não baixar a cabeça diante de arbítrios. Chegou a ser preso por guardas que subiram em seu corpo e o algemaram, ainda que ele não representasse perigo a ninguém, quando já era vereador por Curitiba.

Foi um discurso forte e necessário: a cada ano, a PM mata mais n o Paraná. Hoje, são mais casos do que dias no ano e o número não para de crescer. Enquanto isso, em estados como São Paulo e Santa Catarina, que colocaram câmeras nos uniformes dos PMs, o que blinda contra confrontos “fake”, inventados só para justificar as mortes, os casos despencaram.

Coronel Hudson, que no ano passado admitiu prevaricar por não cumprir a ordem judicial que o obrigava a retirar golpistas que bloqueavam estradas no Paraná, não gostou. Se ofendeu. Disse que Renato desrespeitou a PM generalizando as críticas e que deve responder por isso.

Nem mesmo no governo Ratinho, que está longe de primar por direitos humanos e que se recusa a colocar as câmeras nos uniformes dos policiais, a atitude do coronel foi bem vista. Hudson, segundo a versão oficial que corre nos bastidores, agiu por conta própria e levou uma reprimenda pelo gesto.

Agora, Renato poderá contra atacar. E na Assembleia, que sempre evitou o assunto e prefere tratar de banalidades e títulos de cidadania honorária, a coisa pode esquentar. Até porque, do outro lado, a bancada da bala tem representantes que defendem a PM mesmo nos casos mais truculentos.

É o caso do delegado Tito Barichello, que no discurso de Renato pediu aparte e levou uma invertida. Renato disse que na Assembleia os deputados têm paridade de armas, e que bastaria a Tito se inscrever para falar. Já sobre armas de fogo, essas só o delegado tem, disse Renato, e elas seriam sinônimo de “opressão e covardia”.

Tito, que recentemente pediu que se aliviasse a barra de 19 PMs afastados pelo Gaeco e pela Justiça por indícios de execução de pessoas, se resumiu a sorrir com ironia.

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