Francischini, o “culpado útil”

Para o TSE e para o STF, encontrar um bolsonarista de destaque para cortar-lhe a cabeça às vésperas da eleição foi um bilhete premiado

Não se pode dizer que nesse julgamento de perda de mandato Fernando Francischini (União) seja um inocente útil, porque inocente ele não é. O vídeo que ele mandou para apoiadores no dia da eleição afirmando que as urnas eletrônicas prejudicavam Bolsonaro não pode ser tratado com trivialidade: é o tipo de coisa que desmonta uma democracia.

Mas dá pra dizer que ele foi um culpado útil. Para o TSE e para o STF, encontrar um bolsonarista de destaque para cortar-lhe a cabeça às vésperas da eleição foi um bilhete premiado. Era preciso mostrar ao presidente, que não para de inventar mentiras sobre o sistema eleitoral, que esse tipo de coisa não passará impune, e Francischini caiu como uma luva.

O curioso é que hoje Francischini nem é mais do time de Bolsonaro: desde 2018, o paranaense finge que é amigo do presidente, mas Bolsonaro já deixou claro que o despreza profundamente. Na eleição para prefeito de Curitiba, não só se recusou a apoiá-lo como disse à imprensa que o candidato estava mentindo ao dizer que estava a seu lado.

De todo jeito, para Francischini, continuava valendo a pena colher os frutos do bolsonarismo, e seu discurso jamais mudou. Foi por essa onda da extrema-direita que o delegado conseguiu sua votação história em 2018, com 427 mil votos. Não é algo que você jogue fora à toa.

Mas rixas à parte, para o STF o que importa é que as armas de Francischini são as mesmas do presidente. Alexandre de Moraes, Barroso e Fachin à frente, o Supremo já deixou claro que se Bolsonaro insistir em mentiras e disparos de zap com fake news pode nem chegar a disputar a eleição.

Francischini, enquanto isso, ficará sem mandato por 8 anos. Provavelmente está morto para a política eleitoral. Fez por merecer? Sim. Mas é provável que se não fosse por Bolsonaro estar na Presidência, ele jamais fosse punido por isso.

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