Feira de publicações independentes Estopim resiste em 2022

A edição de 2022 da Feira Estopim acontece sem investimento público, mas se mantém pelo esforço e a vontade de seus criadores

O poeta francês Stéphane Mallarmé em seu famoso poema “Um lance de dados” (1987) afirmou que tudo no mundo existe a fim de terminar como um livro. Já o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou em 2021 que no Brasil só os ricos leem e que os livros deveriam perder a isenção fiscal, dificultando ainda mais o acesso às publicações.

A declaração do ministro, talvez seja o retrato de sua estante de livros, que aparece vazia em diversas entrevistas feitas durante o período pandêmico e que gerou várias discussões nas redes sociais e que resultou na mobilização #defendaolivro.

Paulo Guedes traz à tona mais uma vez uma das diversas consequências geradas pela colonização portuguesa, que proibiu até 1808 a edição e a circulação de livros no Brasil. O que nos obrigou em diversos momentos de nossa história defender o acesso e o direito a publicar o livro. Já que para alguns, é mais interessante ter um quarto de empregada do que uma biblioteca em suas casas, como constata o artista e pesquisador Fabio Morais.

O que não contava o atual ministro, é que para toda ação existe uma reação, mesmo que não programada. Os saldões de livros, organizados pelas universidades em conjunto com livrarias e editores, vieram como uma resposta ao governo bolsonarista. Oferecendo diversos livros com descontos acima de 50%, facilitando, mesmo com todas as dificuldades impostas pela quarentena e a crise econômica, que autores encontrassem seus leitores, e vice e versa. Pois, como afirma o professor e pesquisador da UFMG, Amir Brito Cadôr, publicamos para encontrar camaradas, ou seja, “publicar é uma forma de promover encontros e um chamado à participação dos leitores para que se tornem também autores”.

Feira Estopim

Neste cenário de encontrar seus camaradas, em diversas regiões do Brasil surgiram feiras de publicações independentes, que auxiliam o artista-autor a circular e vender o seu trabalho, de encontrar uma saída para mostrar um pouco de si e de sua produção sem depender de um uma estrutura muito grande, acordos editoriais, editais públicos e instituições.

As feiras de publicações reúnem uma gama muito grande de materiais expostos que extrapolam o formato convencional do livro e que permite o artista a explorar novas formas de mostrar seus trabalhos. Dentro os diversos tipos, encontramos objetos, cadernos, fanzines, publicações de artistas, ilustrações, impressos artesanais, prints etc, de diversos tamanhos, formatos, cores, texturas e escolhas gráficas.

E para que a feira aconteça não precisa de muita estrutura física, às vezes, algumas mesas, cadeiras e uma boa divulgação. No Brasil, muitas feiras começaram neste mesmo formato, unindo o tesão dos autores em publicar com a vontade de criar circuitos diferentes para mostrar seus trabalhos, e depois foram crescendo. Exemplos disso, são as feiras Tijuana, no Rio de Janeiro e São Paulo, a Faísca Festival, em Belo Horizonte e a Motim no Distrito Federal.

Em Curitiba, tivemos diversas ações incentivando a produção de publicações artísticas e independentes. Entre elas, destaco a contribuição da Feira Estopim, idealizada pelos artistas Luana Navarro e Guilherme Jaccon e que acontece nos dias 12 e 13 de novembro no espaço cultural Alfaiataria.

A Feira que começou no Solar do Barão, famoso pelos ateliês de gravura, foi crescendo e possibilitou seis encontros nos últimos anos entre artistas, autores e seus públicos. A última edição (2021) realizada de forma online e com recursos públicos, trouxe como diferencial palestras, oficinas e distribuição de publicações artísticas gratuitas. Possibilitando a formação de novos autores e ampliação do cenário em Curitiba. Além de um espaço para os artistas venderem seus trabalhos, já que estavam impedidos pela pandemia de mostrar e vender seus trabalhos em espaços independentes e por não se adequarem às regras das feiras de livros tradicionais.

A edição de 2022 da Feira Estopim acontece sem investimento público, mas se mantém pelo esforço e a vontade de seus criadores com o apoio de artistas do Paraná e de vários outros estados brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás, que participaram vendendo seus trabalhos, lançando livros e oferecendo atividades formativas.

O Esquenta Estopim, evento pré-feira, já estão acontecendo trazendo a exposição de mesa “Em nome da mãe e do pai”, da artista Luiza Kons e as oficinas “Escritas Lesbianas: Literatura Sapatão Latino-Americana”, “Escrita Criativa Anticolonial” e “Fuçando os escombros: Jogos de tradução para não-tradutores”. A programação e mais informações podem ser acessados no instagram da Feira: https://www.instagram.com/estopimplataforma/

Serviço

O que: Feira Estopim
Quando: 12 e 13 de novembro
Horário: 13h às 20h
Quanto: Entrada gratuita.
Onde: Alfaiataria Espaço de Arte — R. Riachuelo, 266 – Centro, Curitiba – PR

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