Mídia gratuita deixou eleição de Deltan, Beto Preto e Laiola bem baratinha

Presença constante na imprensa ajudou a eleger deputados federais no Paraná

A lista de votos dos deputados federais eleitos no Paraná mostra que o valor investido em cada eleição varia muito. A eleição mais barata, proporcionalmente, foi a de Deltan Dallagnol (Podemos), que precisou gastar R$ 5,76 por voto – mais ou menos uma latinha de refrigerante. O voto mais caro entre os eleitos foi de Beto Richa (PSDB), com R$ 47 por eleitor – mais de meio quilo de picanha.

A variação é grande por vários motivos. Beto Richa, por exemplo, precisou investir mais porque estava tentando superar mais de um escândalo. Foram três prisões e todo tipo de denúncia. Alguns candidatos tiveram de investir quase o teto de gastos para conseguir entrar com o mínimo de votos. Caso de Luísa Canziani (PSD), por exemplo.

Leia mais: Como Curitiba votou, bairro a bairro

No caso dos votos mais baratos, porém, há um fator em comum. Os três primeiros lugares neste quesito foram Deltan Dallagnol, Beto Preto (PSD) e o Delegado Matheus Laiola (União). Todos eles estão indo para o primeiro mandato em Brasília, mas isso não é o mais importante. O que conta é que, por motivos diferentes, todos tiveram uma quantidade imensa de mídia gratuita antes da candidatura.

No caso de Deltan, obviamente, o motivo da presença constante em jornais, tevês, rádios etc foi a Lava Jato. Desde 2014 o antigo coordenador da força-tarefa era citado diariamente nos boletins das operações – e como a imprensa, em geral, comprava a versão dos investigadores, Deltan sempre aparecia bem na fita. Se alguém fosse tentar comprar esse tanto de tempo nas principais emissoras de tevê (sem nem falar no resto) teria de desembolsar uma montanha de dinheiro.

Leia mais: Quais cidades elegeram deputados federais no Paraná

Beto Preto também esteve na mídia direto durante os dois anos da pandemia. Como secretário da Saúde de Ratinho Jr. (PSD), aparecia para comentar os números, anunciar medidas de restrição e para tentar acalmar os ânimos. Não é coincidência que a secretária municipal de Saúde de Curitiba, Marcia Huçulak, também tenha sido eleita.

No caso de Matheus Laiola, a presença na tevê e no rádio se devia principalmente a um belo trabalho de relações públicas. Tudo que a Delegacia de Meio Ambiente fazia sob a gestão dele era enviado para imprensa. Bastava pegar um passarinho em situação ilegal e os jornais eram avisados – e, na falta de um filtro melhor, os colegas publicavam quase na íntegra, e com um viés sempre positivo, o dia a dia do delegado, que – ressalte-se – é muito bem pago para fazer esse trabalho.

Talvez isso pudesse servir de alerta para os profissionais de imprensa – seria bom que os repórteres e editores percebessem o papel que têm na construção da imagem de pessoas que mais tarde terão ganhos eleitorais significativos. O poder da imprensa não está só na destruição de reputações. Pelo contrário: seja por querer ou não, os colegas estão diariamente construindo “mitos” eleitorais.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

À minha mãe

Aos 50 anos, a vida teve a ousadia de colocar um tumor no lugar onde minha mãe gerou seus dois filhos. Mas ela vai vencer

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima