Tomará posse nesta segunda, dia 4 de julho, Ana Julia Ribeiro (PT), na Câmara de Curitiba. Ana Julia assume a vaga de Renato Freitas, cassado por seus colegas de legislativo por entrar em uma igreja. A nova vereadora fez mais de quatro mil votos, apesar de ser jovem e estar começando a carreira política, na qual se lançou após participar das ocupações de escolas públicas em 2016 e fazer um discurso icônico em defesa do movimento na Assembleia Legislativa.
A futura vereadora é, como seu colega Renato, muito diferente do perfil tradicional da vereança curitibana. É jovem, não carrega um sobrenome “tradicional”, nem tem o pai como padrinho político, além de ser, claro, mulher, o que aumentará o número de cadeiras ocupadas por elas para 9, um recorde na Casa.
A posse dela, porém, marca o fim de uma chance importante do PT mandar um recado a seus colegas de legislativo. Além de Ana Julia, são suplentes do partido o ex-vereador e ex-deputado Angelo Vanhoni e o inédito Mandata das Pretas, uma chapa coletiva formada por duas mulheres negras, a fotógrafa e fotojornalista Georgia Prates (que já foi parte da equipe desse Plural* e acabou de ganhar um prêmio em Cannes) e a líder comunitária Andreia Soares de Lima, do Parolin.
Observação: fomos informados que a Andreia Soares de Lima não é mais parte da Mandata das Pretas desde 4 de julho de 2021. O comunicado sobre o assunto está disponível aqui. Mas a titular da Mandata, Giorgia Prates, permanece.
Ambas estão muito mais próximas do perfil que Renato Freitas representava que Ana Júlia. Além disso, Georgia e Andreia seriam já as segundas mulheres negras a serem vereadoras na cidade, outro marco importante. E Giorgia seria a primeira mulher lésbica a ocupar um mandato legislativo em Curitiba, o mesmo legislativo que outro dia aprovou um título de cidadania honorária a uma senhora que promove “cura gay”.
Mas mais importante ainda, Andreia e Giorgia representam a periferia que pouco está representada na Câmara. Aquela que aparece nas fotos de divulgação da Casa quando meia dúzia de parlamentares visitam o Parolin para ouvir dos moradores algo que não é novidade: que a região é negligenciada e que qualquer dano causado pelo desastre da vez – enchente, violência, falta de comida, etc – podia muito bem ter sido evitado se o Poder Público não esperasse uma tragédia ocupar as manchetes dos jornais locais.
Com elas na Câmara, os parlamentares terão que ver a população do Parolin, da Vila Torres e tantos outros locais da cidade como iguais. Não vai ser fácil para eles, já podemos prever.
Se Ana Julia e Vanhoni renunciarem ao mandato de Renato Freitas, certamente Georgia e Andreia darão a ele um destino mais parecido com o que ocupante de direito tinha imaginado.
Alguém pode argumentar que substituir Renato por alguém tão combativo quanto pode reduzir qualquer chance da oposição de deixar sua marca nessa legislatura. Como se a oposição tivesse algum espaço de manobra dentro da atual Câmara de Curitiba. Além de Renato, o PT têm na Casa a veterana Professora Josete e Carol Dartora.
Apesar da cidade ser comandada por Rafael Greca, que agora está no PSD do governador Ratinho Júnior, os vereadores da cidade se dedicam mais a fazer oposição ao PT, que tem só três das 38 vagas da Casa. Os vereadores da base governista já se empenharam tanto nesse papel que já registraram absurdos nos anais da Câmara, como acusar a “esquerda” de “promover pedofilia”.
Mas o mais essencial aqui é que se os vereadores da cidade estão em guerra contra os negros, os gays e a periferia, é extremamente justo que a tentativa deles de calar uns seja contra-atacada com uma ação que devolva essa voz a quem é de direito.
Nota da autora: o Plural não impõe qualquer restrição a participação de seus integrantes em partidos e agremiações. No entanto, repórteres são chamados a se declararem impedidos quando a pauta envolve algo no que estão envolvidos.
Sobre o/a autor/a
Concordo com o que a “Celine disse:
4 de julho de 2022 às 07:48”.
A cúpula do PT-PR é elitista.
“Tudo culpa do PT”… tão clichê… começa mal no título e só piora no texto. Transformar o ataque ao mandato do vereador Renato Freitas em um tipo de disputa interna só serve a quem gosta de atacar o partido. Se foi essa a intenção, parabéns. No mais, Renato e Ana Júlia são duas grandes lideranças e com muito mais capacidade de se entenderem do quem tenta lhes impor algo diferente.
Acho que essa matéria coloca em foco o PT de forma equivocada, o problema foi a cassação do Renato. O problema é a esmagadora maioria retrógrada da câmara, não o PT. A matéria também é ingênua do ponto de vista da dinâmica interna do partido, o respeito à lista é uma garantia de democracia interna. Fora isso é uma especulação da matéria achar que os eleitores do Renato estariam mais bem representados pela Georgia do que pela Ana Julia. Além disso tudo, essa proposição é um desrespeito à representatividade da própria Ana Julia, que também é um quadro político novo, vem de família popular, é um mulher super jovem e com militância autentica. (P.S.: sem dúvida a Georgia seria um grande ganho para a câmara, por muitas outras razões além das indenitárias. Nesse tocante, só uma correção, já que é um argumentode ineditismo equivocado do texto, a vereadora em exercício Maria Letícia é lésbica).
Oi Mariana, não se trata de uma matéria, e sim de um artigo de opinião. Obrigada pela. audiência, Rosiane
A única coisa que essa reportagem mostra é a falta de democracia dentro do PT e a falta de apoio real que Renato Freitas tem dentro do próprio partido.
Que coisa mais ridícula ficarem brigando em cima de uma cassação que foi feita ilegalmente! O protesto deveria ser por justiça por Renato.
O PT no Paraná não parece ter muita democracia internamente. As mulheres, pretos e LGBT são só paquitas e degrau pros brancos nos cargos políticos e lideranças. Daí por conta dessa falta de democracia interna sai essas brigas de pátio de escola. Me poupe né gente?! Se concentrem em trazer o Renato de volta – daí ele se candidata pra Senador, ganha e o Paraná fica um pouco melhor. Só o Renato pode ganhar do ex-governador que mandou a cavalaria em cima dos professores no Centro Cívico na década de 80.
Quanto desperdício de energia dentro do PT, o foco tem que ser retornar o Renato Freitas pro mandato legítimo DELE!
No Sábado passado (mêses depois do início dos ataques mais brutais e racistas na história de Curitiba), o PT FINALMENTE iniciou moção em solidariedade a Renato Freitas.
Quem quer que “tome posse” na segunda dia 05 julho 2022, é mera inquilina temporária. Eventualmente, o judiciário VAI ter que retornar o mandato pro Renato.
As raízes podres de dentro do judiciário já começaram a ficar às mostras. Eu não sabia que a juíza Patrícia Gomes Bergonse foi quem julgou OS PROFESSORES culpados pelo MASSACRE … DOS PROFESSORES em 2015 e não do governador na época, Beto Richa. Até o nosso saudoso Paulo Henrique Amorim escreveu sobre isso. Vocês podem por favor escrever um artigo sobre decisões feitas pela Bergonse no passado?
Plural, dá pra vcs por favor adicionarem um toggle / widget no website de vcs pra dark mode – esse fundo branco do site de vcs dói mto a vista quando a gente lê as notícias de noite.
Quem que está lidando com o recurso do Renato Freitas? Tem alguma chance desse recurso ser atendido amanhã de manhã (segunda-feira 04 julho 2022) e o Renato retornar pro mandato dele? Tem muita ilegalidade nisso tudo, inclusive racismo e fake news, e me espanta que o TSE ou o STF não interviram nessa perseguição que Renato vem sofrendo.
Oi Lucimara, vou repassar seu pedido ao nosso desenvolvedor. Sobre o Renato, o TJ rejeitou o pedido de liminar. Falta o julgamento do mérito. Improvável que aconteça antes da posse da Ana Júlia. Quem cuida da defesa dele é o advogado Guilherme Gonçalves. Obrigada pela audiência
Discordo em gênero, número e grau. Que tal fazermos política com justiça nas urnas.
A cassação do Renato é um desrespeito ao jogo democrático e aos votos que o elegeram. Essa possibilidade é dobrar o desrespeito e jogar no lixo também os milhares de voto na Ana Júlia e os públicos que ela representa.
(Outra coisa, a Ana Júlia é branca?)
A Movimenta Feminista Negra está chamando ato de repúdio amanhã às 14 horas em frente a Câmara de vereadoras de Curitiba.
Concordo em gênero, número e grau. Apesar de o vereador Renato Freitas ainda estar lutando para recuperar o mandato, a posse da Mandata das Pretas seria uma potente resposta à ação racista da Câmara Municipal de Curitiba.