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País se prepara para a reabertura das atividades comerciais depois de reduzir o número de novos casos para um dígito

Alerta: Este texto é um trabalho de ficção, infelizmente.

O Brasil se prepara para começar a reabertura lenta e gradual das atividades comerciais e industriais. Há duas semanas o número de casos novos de covid-19 está na casa de um dígito e não há registro de óbitos. Há um protocolo nacional de identificação e monitoramento de pontos de contaminação, com testes disponíveis para todas as pessoas com suspeita de infecção, mesmo que assintomáticas.

A população está ansiosa, preocupada, mas também aliviada. Há quase dois meses a circulação de pessoas e atividades não essenciais está limitada. Uma campanha nacional onipresente tenta conscientizar as pessoas a praticar o distanciamento social, hábitos de higiene e uso de máscaras de pano. Apesar de eventuais disputas políticas, governadores e prefeitos estão trabalhando junto com o governo federal.

A Polícia Federal está monitorando a distribuição de boatos e notícias falsas em redes sociais, aplicativos de mensagens, Youtube e demais aplicativos de comunicação. Centenas de pessoas foram presas, indiciadas e estão respondendo criminalmente pela disseminação de “fake news”.

Agora o foco da população e do governo é assegurar o cumprimento das regras para reabertura do comércio.

O Ministério da Economia estabeleceu um programa de incentivo para empresas que investirem na manutenção de pelo menos 60% de seus funcionários em regime de teletrabalho. Outro programa qualifica equipes de segurança do trabalho a fiscalizar e implantar medidas de redução de riscos de contaminação por Covid-19.

Setores prioritários, como agricultura, indústria química e de equipamentos de saúde receberam atenção especial, com linhas de crédito para evitar demissões e adaptar seus procedimentos para a reabertura. A produção de bens essenciais, como comida e remédios se manteve com apoio técnico das universidades públicas para evitar que as empresas se tornassem pontos de infecção pela doença.

Com a reabertura, as escolas permanecerão fechadas, com previsão de retorno apenas para setembro, quando o pior do inverno e a incidência de outras doenças respiratórias diminuir. Enquanto isso, mães e pais receberam incentivos para ficar em casa com os filhos, em especial aqueles cuja ocupação não permite teletrabalho.

O programa Bolsa Família foi ampliado, teve seu valor aumentado temporariamente para atender quem perdeu trabalho. Outro programa paga um salário mínimo para trabalhadores informais e profissionais autônomos que tiveram perda de receita.

Os prédios das escolas públicas foram convertidos em hospitais de campanha nas cidades mais atingidas pela contaminação por covid-19 e em alojamento para população de rua e pessoas em áreas de risco que precisaram ser desalojadas.

Algumas unidades industriais de itens não essenciais foram convertidas com incentivo financeiro do governo e um fundo de investimento criado para patrocinar a produção de respiradores e outros equipamentos médicos essenciais, assim como máscaras cirúrgicas e equipamentos de proteção individual que estão em falta em todo o mundo.

A expectativa é que até julho o Brasil comece a exportar equipamentos para os Estados Unidos e Europa, atendendo um mercado que não tem conseguido ser suprido pela China. Será uma receita bem-vinda em tempos de retração econômica.

Apesar da quarentena de quase 60 dias, da crise econômica mundial causada pelo vírus, o Brasil poderá sair da pandemia mais forte do que entrou. A grande coalizão que elegeu a presidente teve um primeiro ano turbulento, cheio de disputas políticas, mas eventualmente entrou nos eixos e passou a atuar em equilíbrio no enfrentamento da pandemia a partir do momento em que a situação se mostrou grave.

Claro, alguns setores políticos mais radicais insistiram numa narrativa negativista, tentando acusar a presidente de usar a pandemia para fins políticos. Parte desse grupo acabou identificado como responsável por uma rede de disseminação de fake news principalmente via whatsapp e teve seu afastamento e prisão determinados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Mesmo antes da pandemia se tornar centro das atenções em todo mundo, grupos de pesquisa nas universidades públicas e privadas pelo país, financiados pela Capes e CNPq, trabalharam no mapeamento genético do vírus, no desenvolvimento de testes diagnósticos e de possíveis vacinas e medicamentos.

Pesquisadores brasileiros lideraram o estudo que descartou o uso de cloroquina, por aumentar o risco de infarto, economizando milhares de dólares em todo mundo na compra do medicamento. Por outro lado, outros grupos identificaram pelo menos cinco compostos promissores no tratamento da covid-19, além de desenvolver protocolos inovadores para reduzir o risco de óbito de pacientes entubados.

Como as pesquisas são realizadas em universidades públicas com recursos federais, os resultados serão de propriedade do governo brasileiro. Isso colocou o país em posição estratégica importante para produzir tanto vacinas quanto medicamentos de baixo custo para a população brasileira e venda para outros países.

Como parte de um consórcio de países que trabalha pela criação da vacina, o Brasil deverá poder estar entre os primeiros a ofertar a vacinação a sua população. Além de uma grande notícia para a saúde pública, será também excelente para a economia, uma vez que ajuda o país a retomar a atividade produtiva.

Grupos de pesquisa nas universidades, dessa vez nas Ciências Humanas e outros setores, também atuam no estudo de estratégias para promover a aceleração da mudança de comportamento, no estudo de condições psicossomáticas e psicológicas causadas pela quarentena.

Pesquisadores de inúmeras áreas foram fundamentais no mapeamento da distribuição de boatos e fake news online e no cálculo de potencial de contaminação de locais públicos, tornando a definição de políticas públicas mais eficazes.

Milhares de jovens afastados das aulas nas universidades, que estão suspensas, se envolveram em desafios para desenvolver produtos para enfrentamento da pandemia. Isso resultou na criação de inúmeras soluções, algumas das quais já fazem sucesso no comércio eletrônico.

O Ministério da Educação, chefiado por uma profissional com extensa experiência na área, tomou a polêmica decisão de suspender completamente as aulas e conceder período sabático aos professores, que têm a opção de gozar de período de férias ou realizar cursos de aprimoramento, inclusive mestrados e doutorados online.

Outra parte dos docentes manteve a atuação no desenvolvimento de atividades online cuja participação é facultativa.

As aulas no Ensino Superior e Ensino Médio serão retomadas esta semana depois que os critérios e metodologias para o ensino à distância foram definidos com clareza. Mesmo assim, parte das disciplinas se manterão suspensas até a retomada das atividades presenciais.

Escolas privadas em todo país receberam incentivos fiscais para manter seus funcionários e desenvolver soluções para a retomada das aulas com redução no risco de contaminação. Há uma forte crise principalmente entre as escolas de ensino infantil, que perderam alunos e receita e o Ministério e secretarias de educação trabalham para evitar a redução de vagas no setor.

No Ensino Superior, os cursos de medicina, enfermagem e demais áreas de saúde trabalham para concluir a formação de profissionais. O Programa Mais Médicos, que em 2019 aumentou para 20 mil o número de profissionais, chegou a 25 mil médicos em março de 2020, garantindo atendimento especializado especialmente no interior do país.

A presença dos profissionais do programa foi fundamental para identificar e monitorar casos de covid-19 em cidades pequenas. Isso limitou a expansão da doença pelo território nacional e ajudou na manutenção do trabalho na produção de alimentos.

Além disso, enfermeiras, técnicas em enfermagem e demais trabalhadores do setor, inclusive terceirizados de limpeza e manutenção, foram incluídos num programa nacional de seguridade que garante o salário e demais direitos em caso de contaminação pela doença. O recurso para de um fundo criado a partir dos valores devidos pelos planos de saúde ao SUS.

A presidente aproveitou a pandemia e a crise social e econômica que se seguiu para concretizar medidas sociais importantes, mas que enfrentavam resistência num congresso majoritariamente devotado a pautas e valores da elite econômica.

Nos próximos dias a presidente deve, pela quarta vez desde o início da pandemia, se dirigir ao país via rede nacional de rádio e tv. Como das outras vezes ela irá pedir que a população homenageie os profissionais de saúde na linha de frente e as vítimas da doença no país. E irá se solidarizar com as famílias que perderam entes queridos e lembrar a todos que a segurança da população depende da adoção individual das medidas de higiene e distanciamento social.

As falas dela à população recebem muitas críticas de quem a considera “fraca demais” e “pouco combativa”. Mas na última transmissão o Datafolha verificou que 62% da população aprova a postura da presidente e 68% se sentiu tranquilizado pela comunicação presidencial. A verdade é que ela conseguiu dialogar com diferentes setores e isso foi importante para que o país atuasse em uníssono na pandemia.

No próximo pronunciamento a presidente também deverá apresentar um cronograma concreto de reabertura, inclusive com os indicadores que serão usados para avaliar o adiamento ou não das fases previstas. Deverá insistir que o Brasil chegou até aqui porque a população e o governo trabalharam juntos. E que a caminhada a partir daqui deverá depender do comprometimento individual com o bem coletivo.

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