Nada no mundo virtual se compara com passear por uma livraria

Aplicativo quer recriar a experiência de descobrir livros ao acaso numa loja física, mas ele ignora um detalhe importante: o livreiro

Passando pelas notícias sobre os livros, uma no jornal “The New York Times” chamou minha atenção. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela NPD BookScan mostra que o número de livros impressos vendidos em 2021 aumentou 10% em relação a 2020. Uma notícia que deveria ser celebrada, mas o artigo não se concentra nesse número. O texto fala mais sobre a tentativa de recriar virtualmente – com um aplicativo chamado Tertulia – a experiência de entrar em uma livraria e passear por suas estantes. E o que uma coisa teria a ver com a outra?

Dos 3,2 milhões de títulos monitorados pela pesquisa, apenas 1% vendeu mais de 5 mil exemplares. Ou seja, as vendas aumentaram, mas ficaram concentradas nas mãos de celebridades e autores consagrados (a matéria cita o escritor James Patterson e o ator Matthew McConaughey, que escreveu um livro de memórias). A grande maioria dos autores vendeu pouquíssimos livros. E isso é uma notícia para lá de ruim. Significa que um autor que não seja uma celebridade, ou que não tenha um nome consagrado, terá uma estrada muito mais conturbada do que antes, e olha que antes a coisa já não era das mais fáceis.

Mas como era antes? Antes, diz o artigo, as vendas eram concentradas nas livrarias. Antes, eu acrescento, a figura do livreiro ainda era comum nas livrarias. Não são poucas as vezes em que um livro novo chega à livraria e ninguém ouviu falar sobre ele. É o primeiro trabalho da autora ou do autor, o livreiro folheia, lê uns trechos e percebe que é coisa boa. O livro vai para a mesa, fica em destaque, é indicado e começa sua jornada. Nas lojas virtuais, isso não acontece porque um livro novo não tem histórico de compra para o algoritmo rastrear, não há como ser classificado por números.

Uma rápida história. Uma vez entrei em uma livraria e fiquei olhando as lombadas até que peguei um livro de um autor chamado Bernard Malamud (1914–1986), americano, do século 20, nunca tinha ouvido falar. “O faz-tudo” era o título. Levei, adorei. O livro está em catálogo até hoje e nem uma vez vi esse livro nas indicações que os algoritmos das livrarias virtuais fazem para mim. Agora, na minha livraria, sempre que tenho chance, indico Malamud.

E é isso. O artigo cita uma série de tentativas, aplicativos e ideias para tentar recriar essa experiência de trocar uma ideia sobre um livro bom que talvez você não conheça. Contudo, a experiência de comprar um livro não envolve apenas o leitor, com seus gostos e histórico de compras. Ela envolve alguém que está do lado de dentro do balcão. O livreiro. Com as experiências e o conhecimento que ele ganhou ao longo de sua jornada de leitor.

A leitura é uma experiência única, cada um tem a sua. Não tem como organizar isso em um algoritmo. Muitas vezes um livro que parece não ter qualquer ligação com outro pode fazer sentido para a pessoa que está indicando aquela leitura e para a pessoa que aceita (ou não) a indicação.

Nada no mundo virtual se compara com entrar numa livraria, passear pelos títulos e descobrir algo novo para ler. Nada.

A importância das livrarias para a diversidade dos livros é enorme. Todo o livreiro tem suas preferências e suas manias, e isso faz com que a seleção de livros expostos numa livraria seja diferente de outras, com uma diversidade maior de títulos ganhando espaço nas prateleiras. E alcançando os leitores. É assim que deve ser.

Sobre o/a autor/a

3 comentários em “Nada no mundo virtual se compara com passear por uma livraria”

  1. JOSE FRANCISCO NERES DE JESUS

    Resumo do texto. Qual o tema plural. O escritor James pattesom eu entendi que mc conaughek vendeu mais livros ele contava uma história porque ele tinha a vida muito conturbada porque era concentrado nas maiores livrarias e com muitos artistas do ramo e como era um ator que viajava pó todas e Vivian folheando a uma por uma
    E passear pelos os títulos e descobrir algo novo.para ler então essa foi a vida do escritor James patterssom.

  2. Perfeito seu comentário Thiago. Tenho igual percepção: para mim o caminhar pelo ambiente de uma livraria, olhar, pegar nos livros, ler a contracapa , folhear mais um pouco e depois escolher o que quero é uma experiência única e especial. Gostei da maneira como você colocou este tema. #pramercer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima