Curitiba vai ganhar uma livraria de rua. E olha só que lugar lindo vai ser

Livraria da Telaranha na Ébano Pereira vai ter café, exposições, gente bacana e, claro, muitos, muitos livros

Se você também sente falta de livrarias de rua em Curitiba, tem que agradecer o momento em que Bárbara Tanaka abriu seu Instagram e deu de cara com um post do perfil O Centro de Curitiba. Estava lá a foto de um casarão recém-restaurado bem pertinho da Rua XV e que era exatamente o tipo de lugar que ela queria. Junto com seu sócio de nome fidalgo, Guilherme Conde Moura Pereira, Bárbara decidiu: seria ali a sede da Livravia Telaranha.

Os dois já vêm fazendo barulho com a publicação de livros (se você ainda não tem a manha da editora Telaranha, clique aqui). Mas agora queriam um lugar para vender os livros deles e os dos outros e que não tivesse aquela carinha de shopping center. O casarão, alugado no mesmo dia, tinha o perfil perfeito. Na Ébano Pereira, perto da Biblioteca Pública, tem tudo menos ar de centro comercial.

Bárbara falou com o Plural sobre a ideia da livraria, que deve estar aberta já nos próximos meses.

Abrir uma livraria de rua a essa altura do campeonato não é muito arriscado?
Há sempre um risco envolvido no trabalho com os livros, mas está sendo uma boa aventura desde o início da editora. Às vezes é complicado, porque é um campo que envolve muita paixão, mas tentamos enxergar o livro também como um negócio, um ganha-pão. As pessoas quase nunca veem a área da cultura como uma possibilidade de trabalho, porque o cenário sempre parece apontar para a via negativa, mas ainda acreditamos que é possível. Todo mundo precisa de um pouco de invenção.

Telaranha editora
Guilherme Pereira e Barbara Tanaka estão à frente da Editora Telaranha. Foto: Arquivo pessoal

Trabalhamos no mercado editorial há muitos anos e, em todo esse tempo, procuramos estar atentos às mudanças, aos diferentes perfis de leitor e também às tendências de consumo. Observamos a queda de gigantes do varejo de livros, como a Saraiva e a Cultura, por esquecerem que o foco deve ser sempre o leitor. Acreditamos no potencial da leitura e as livrarias de rua têm muito a ver com isso. A vida se faz na rua, e as pessoas, principalmente depois da pandemia, estão buscando encontros e experiências. Por isso, também planejamos uma livraria integrada a um café, que proporciona um espaço de encontros, combina com a leitura e já faz parte do dia a dia do curitibano.

Também vemos um movimento muito interessante no Centro de Curitiba. Nos últimos anos, o Centro ficou bastante abandonado, havia muitos imóveis para alugar. De uns meses para cá, percebo – também como moradora – que há uma dinâmica de reocupação dos espaços, da rua, coisa que é necessária para qualquer núcleo urbano.

Que tipo de livro vocês pretendem vender?
Queremos abarcar a maior bibliodiversidade possível dentro do nosso espaço físico. Teremos títulos mais comerciais, mas também livros de editoras independentes que não têm grande circulação. Em 2023, circulamos em feiras literárias fora de Curitiba e sempre nos surpreendemos com quanta coisa interessante está sendo produzida. Empreendemos nossos esforços em fazer uma curadoria cuidadosa, interessante e que esteja sempre em movimento. Um dos desejos é montar uma mesa central com um tema que muda quinzenalmente e reúne livros que, aparentemente, não têm a ver entre si, mas, de alguma maneira, constituem uma boa vizinhança. É uma ideia meio warburguiana, na tentativa de compor um pequeno atlas de livros.

À beira da rua, bem ao contrário de um shopping. Foto: Bárbara Tanaka

Em que sentido vai ser diferente de uma livraria de shopping por exemplo?
No mesmo sentido que um cinema de rua é diferente de um cinema de shopping. Lembro-me muito de uma conversa que tive com a escritora Assionara Souza anos atrás. Ela me chamou a atenção para a experiência de sair de uma sala de cinema e cair direto na rua, como parece que você ainda estava dentro do filme, e os ruídos, as fragrâncias da cidade te inebriam e você vê tudo em câmera lenta, sem saber distinguir a realidade da ficção. Ela disse isso em 2015, não havia nenhum cinema de rua na cidade. Hoje, vou ao Cine Passeio e entendo exatamente o que ela falou. Acho que parar para tomar um bom café na companhia de bons livros e, logo depois, viver a rua é uma experiência bem mais enriquecedora do que folhear as páginas entre a luz fria e os barulhos do shopping.

Como vocês escolheram o lugar?
Estávamos há meses pensando em abrir uma livraria. Muito porque sentimos uma demanda para isso em Curitiba – há excelentes, mas poucas livrarias na cidade. A última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2020, apontou que 63% da população curitibana considera-se leitora, o que dá aproximadamente 1,1 milhão de pessoas. É um público expressivo, embora o trabalho de formação de leitores continue sendo muito necessário.

O desejo já existia e só se concretizou porque encontramos um imóvel incrível, que tem tudo a ver com a nossa proposta. Por acaso, vimos uma publicação no Instagram do jornal O Centro de Curitiba que mostrava um casarão tombado que havia sido recém-restaurado no Centro da cidade. No mesmo dia, entrei em contato com a imobiliária e agendei uma visita para a manhã seguinte. Pisamos no imóvel e já imaginamos cada pedacinho da livraria. Tinha que ser ali, no Centro da cidade, perto da Rua XV.

Sede da livraria foi descoberta no Instagram. Foto: Bárbara Tanaka

Conta mais sobre esse edital para artistas gráficos.
Na semana que vem, vamos abrir um edital para artistas que queiram expor trabalhos autorais na livraria. Percebemos que há um interesse cada vez maior das pessoas por artes gráficas, gravuras, encadernação, papelaria criativa… E, ao mesmo tempo, existe muita coisa interessante sendo produzida no Brasil. Reservamos um espaço para reunir e colocar à venda alguns desses trabalhos, como uma forma de reconhecer artistas locais. A ideia é que seja rotativo, para que mais artistas possam participar.

E os livros da Telaranha? Tem novidades para o catálogo?
Estamos muito animados com os próximos lançamentos da editora! Teremos uma diversidade de gêneros, com publicações de poesia, prosa, livros-objeto, além de uma coleção de plaquetes com vários autores, que será o primeiro lançamento do ano.

Sobre o/a autor/a

19 comentários em “Curitiba vai ganhar uma livraria de rua. E olha só que lugar lindo vai ser”

  1. Cláudia Mara Stulzer

    Apaixonada por essa matéria, confesso que sou nova na área.
    Porém o tema me fascina, livros “tocáveis” encontros com estranhos, conversas agradáveis.
    Isso é espaço pra lá de bom.
    Não conheço ninguém da matéria, mas desejo todo sucesso do mundo e estou ligada. Quero conhecer e aproveitar.

  2. Syomara T. Guerra

    [email protected]
    Parabéns a vocês. Curitiba precisa de uma livraria do estilo que vocês estão propondo. Desejo que seja um ótimo lugar para a comunidade. Com café para a comunidade. Sugiro, também que haja um local coberto para acolher os cães dos leitores, que parem interessados em ver o local e comprar um livro,. ou um objeto.
    Sou jornalista, trabalhei na minha profissão em diversos lugares. Aposentei e atualmente sou mosaicista, escritora, trovadora, poetisa. Pertenço à várias entidades em Curitiba e em Goiás.
    Aguardo contato, mais uma vez SUCESSO PARA O EMPREENDIMENTO. Saudações Syomara Guerra

  3. Ester Maris Leandro de Souza

    Parabéns pela iniciativa, o leitor curitibano está ansioso pelas portas abertas deste nobre empreendimento visando abrir ainda mais mentes e corações!!! Bem vindos, pois quem lê mais erra menos.

  4. Ana Márcia Hauagge de Oliveira

    Super legal! Amo entrar em livraria, me deparar com tantos mundos expostos nas prateleiras. Quando me deparei com a reportagem, fui logo devorando as palavras para saber sobre a novidade. Que linda a história da Telaranha, parabéns e muito sucesso aos sócios empresários e também sócios na caminhada compartilhada através do Amor. Até breve!!

  5. Jorge L B Oliveira

    Fica a uma quadra do meu escritório. Passo em frente todos os dias. Ida e volta. Acompanhei todo o trabalho de reforma do prédio. Conversei algumas vezes com o pessoal que trabalhava no local. A cor forte me chamou a atenção. Disse para o pintor que o trabalho dele estava ficando bonito. Isso foi num dia de sol mais forte após uma noite de chuva. Havia manchas na parede. Ele, com muita paciência, ia de mancha em mancha dando mais algumas pinceladas. Só faltou caminhar até o meio fio, virar-se olhando para a parede e repetir Michelângelo: “Parla!” Em vez da parede, falei eu: “Está ficando caprichada esta pintura. Parabéns!” Ele me olhou com um olhar do tipo “o que você tem a ver com isso”, sorriu e agradeceu. Perguntei se sabia o que iria funcionar ali. Não tinha a informação. Embora a cor da casa fosse berrante, nada disse também. Sempre gostei desta casa e da outra ao lado. Pensava: “quando tiver muita grana vou comprar isto aqui!”. Bom saber que o dono alugou para alguém que vai montar uma livraria. No caminho de Drummond havia uma pedra. Agora, no meu caminho, além das pedras soltas na calçada onde mosaicos se desmancham, haverá, felizmente, uma bela hospedaria de livros.

  6. Parabéns, prezada/o. Estaremos lá para visitar, cumprimentar e comprar. Dentre muitas outras editoras gostaria de sugerir as universitárias (já temos a excelente livraria da UFPR -Reitoria), Mnema, Boitempo, Autonomia Literaria/Jacobin e outras. Vinde a nós Humanas, Ciências Sociais, Literatura e Artes. Muito sucesso. Grande abraço.

  7. Livia Araújo Brito Lima

    Parabéns pela iniciativa. Também sou professora de literatura da rede pública metropolitana e, como disse o Valnei Francisco, muitos alunos nunca conheceram uma biblioteca. Seria muito bom se pensassem em algum programa de visitas às escolas promovendo seus livros ou algo do tipo, como uma roda de leitura com as crianças.

  8. Excelente iniciativa. Esta livraria vai se tornar no centro cultural que esta faltando em Curitiba. Parabens ao Guilherme Pereira e a Barbara Tanaka.

  9. Ótimo ideia para lançar livros ter um.bo. café para qualquer hora tipo o café SENAC ALI ao lado de da Renée e ótima
    Para você procura ter palestras do diversos
    Assuntos assim. Chama atenção
    Divoga nos o ônibus de turismo Curitiba E linda
    E vocês vai com fé Deus abençoa

  10. Parabéns pela iniciativa. Creio que temos apenas o Chain e a Arte e Letra como livrarias de rua, além de vários sebos.
    Quanto aos supostos 63% de leitores em nossa capital, não creio neste número. Leitor de um livro por ano não é leitor.
    Pretendo ser um frequentador desta nova livraria. Parabéns pela iniciativa.

  11. Valnei Francisco de França

    Excelente ideia. Resgatar esse ar leitor “da rua” eu acho promissor. Sugiro que os proprietários olhem com carinho para as Escolas. Tive muitos. E saber, ser acolhido, folhear, ouvir, assistir faz parte do crescimento humano.

  12. Valnei Francisco de França

    Excelente ideia. Resgatar esse ar leitor “da rua” eu acho promissor. Sugiro que os proprietários olhem com carinho para as Escolas. Tive muitos Alunos que nunca entraram em uma livraria. E saber, ser acolhido, folhear, ouvir, assistir faz parte do crescimento humano.

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