Greca: de Chapeuzinho Vermelho a Lobo Mau

Em plena crise, Greca tem dificuldades para responder perguntas

Em 2016, quando Rafael Greca (DEM) venceu a eleição para prefeito, a imagem que circulou Brasil afora foi dele cantando a música da Chapeuzinho Vermelho para meu marido, o jornalista Rogerio Galindo, então repórter da Gazeta do Povo. Era uma entrevista para que o novo prefeito fosse questionado sobre seus planos para a cidade, mas Greca achou que o certo era a imprensa se juntar à sua comemoração de vitória. “Vem ser feliz comigo”, disse ele.

Tudo bem, Greca é um personagem folclórico em Curitiba. Não faltam histórias sobre suas atitudes histriônicas. Muitos dos que votaram por sua permanência na prefeitura certamente o veem como um apaixonado pela cidade, um homem culto, conhecedor de todo canto da história local, apreciador da arte e da beleza.

Reeleito há poucos dias, porém, Greca não está no mesmo bom humor de 2016. Nesta sexta (20) ele teve que, ao lado de sua secretária, falar sobre o avanço previsível de casos de Covid-19 na capital. Aproveitou para culpar a população, que “relaxou”, disse que os prefeitos da Região Metropolitana também precisam “agir”.

Quando o prefeito e a secretária terminaram seus discursos, os jornalistas foram inscritos para, um a um, poder questionar ambos. Quando finalmente chegou a minha vez, fiz quatro perguntas à secretária (confira minha reportagem sobre o assunto). As perguntas foram:

1) Por que a prefeitura foi surpreendida pela onda de novas infecções na semana passada quando o R0 (número de pessoas que cada infectado contagia) já estava acima de 1 em outubro?

2) Por que a prefeitura não considera o R0, o cálculo de esgotamento da estrutura e o índice de isolamento social no painel de monitoramento Covid-19 da cidade?

3) Por que não se divulgam os dados de leitos da rede privada? (Cuja lotação afeta, como a própria secretária confirmou na coletiva, a rede pública)

4) Quantas pessoas estão internadas nas UPAs hoje e qual o tempo médio de permanência dos pacientes Covid que estão nesse protocolo respiratório nessas unidades?

A secretária começou a me responder declarando não saber “de onde eu tirei os dados”, que estão no boletim semanal de dados da própria secretaria que ela dirige referente a 13 de novembro (disponível aqui). Depois passou a dizer que os indicadores da prefeitura são semelhantes aos do Rio Grande do Sul, sem abordar diretamente os itens que apontei.

O médico Alcides Oliveira, então, assumiu o microfone para poder me responder. Disse que o R0 não é o único indicador e que o Comitê (de Técnica e Ética Médica, que assessora o prefeito na condução da resposta a pandemia) considera outros fatores. Insisti e questionei quais eram esses outros fatores que anulavam o efeito do aumento do R0 no comportamento da pandemia na cidade.

Pronto, foi a senha para assessoria de imprensa me alertar que eu estava impedindo meus colegas de fazer perguntas, muito embora ninguém tivesse se manifestado nesse sentido. Também avisou que as respostas a mim se encerrariam ali (ignorando outras duas perguntas não respondidas).

Voltei a insistir em pedir que o médico detalhasse o processo de decisão. Foi então que o prefeito interferiu para sugerir que eu “lesse no site da prefeitura” os indicadores, dando por encerrada minha participação.

Triste ver um personagem que na minha infância (quando Greca se elegeu prefeito a primeira vez eu tinha 13 anos) era exemplo de cultura e elegância recorrer a simples grosseria e autoritarismo para não responder perguntas.

Em 20 anos de jornalismo aprendi que nenhum político eleito gosta de ser questionado, seja direita, esquerda, para frente ou para cima (como diria outro personagem folclórico, o ex-vereador Professor Galdino). Às vezes eles têm razão, as perguntas podem não ser justas. Mas é vital que, justas ou não, elas sejam feitas. E sejam respondidas. Com tempo, com calma, com precisão e com respeito.

Não em respeito a mim, que sou só uma intermediária. Mas à população que precisa ser informada. A mesma população que, para Greca e Huçulak, é culpada pelo aumento da contaminação por Covid-19 na cidade, como se eles nada tivessem a ver com isso.

Transparência não é algo que uma administração pode alegar no grito. Ela precisa ser demonstrada diariamente. Não cabe à prefeitura nem à secretaria de Saúde decidir quem tem ou não direito de ler e questionar as informações fornecidas.

Ao assumir essa postura autoritária, Greca e Huçulak se aproximam muito do negacionismo “cada um por si” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de uma maneira muito mais ambígua, mas igualmente danosa, por não dar um norte claro à população.

No momento, a liderança de Greca e Huçulak parece apenas transmitir claramente uma mensagem: não se questiona nada que eles decidam. É uma estratégia que tem suas vantagens, mas que ignora que, assim como a pandemia é fenômeno comunitário, lidar com ela exige que a cidade atue como comunidade.

Temos um longo e triste caminho pela frente sob o julgo do coronavírus. Nossas reservas financeiras e físicas estão se exaurindo. É preciso pensar em maneiras de ser uma cidade viva, vibrante, ativa sem aumentar o risco de contaminar as pessoas. Seria bom que, ao invés de se isolar, o prefeito pudesse contar com a inteligência que atribui a cidade.

Afinal de contas, na história da Chapeuzinho Vermelho, quem age sozinho é o lobo mau.

Sobre o/a autor/a

8 comentários em “Greca: de Chapeuzinho Vermelho a Lobo Mau”

  1. Cara jornalista, vc se engana c o fato deste prefeito ter sido algum dia elegante, cavalheiro, ele sempre foi grosseiro, arrogante e classista. Tenho conhecimento disto através de pessoas q trabalharam diretamente c ele e a “1ª dama”, cometem assédio moral c funcionários da prefeitura e utilizam dos mesmos p trabalhos pessoais. Não creio q pessoas q agem assim, possam ser tidas como elegantes ou de alguma forma preocupados c o povo curitibano.

  2. O mais triste é que a presença de um porco, como Francisquini, no pleito, tenha tirado tantos votos do Goura, por exemplo. Bolsonarismo conspurca tudo por onde passa.

  3. O mais triste é que a presença de um porco, como Francisquini, no pleito, tenha tirado tantos votos do Goulart, por exemplo. Bolsonarismo conspurca tudo por onde passa.

  4. obrigado, obrigado, obrigado. é um alento saber que não sou só eu que ando inconformado com a postura autoritária da prefeitura. parabéns e obrigado pelo teu trabalho. vida longa ao plural!

  5. A minha consciência está limpa por não ter votado nesta caricatura
    de prefeito municipal e que não me representa.
    Está mais para rei momo do que prefeito.

  6. Leonildo Andrade de Santana

    Não sei como a população gosta do beiço mole e fala mole, o histórico dele ainda tem o afundamento da “NAU”, esqueceram? Por isso fui de 12 Goura, complicado vai ser aguentar até a próxima eleição, mas tem curitiboca que gosta de fala mole.

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