A determinação de mudança na bandeira de alerta da Covid-19 em Curitiba nesta sexta-feira (20) será decidida numa disputa entre a política de Greca e as informações técnicas da Secretaria Municipal de Saúde. Os números, como o Plural adiantou, apontam claramente para mudança de bandeira para o alerta laranja. Mas em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira, o prefeito Rafael Greca (DEM) deu indicativos de não querer enfrentar o desgaste de uma nova quarentena mais rigorosa.
Greca afirmou que não deseja restringir atividades na cidade e que a população relaxou. Por outro lado, a secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, insistiu que a situação é grave, que os leitos da Rede Privada estão lotados, que Curitiba levará mais alguns dias para abrir novos leitos no SUS e que as equipes médicas estão “exauridas”.
O Plural apurou que a prefeitura está tendo dificuldade para repor as equipes necessárias para reabertura de leitos. Na coletiva, Huçulak disse que não consegue mais profissionais dispostos a “dobrar plantão”. A falta de profissionais de saúde já era um problema durante a primeira fase aguda da pandemia na cidade e agora se agrava com o cansaço do acúmulo de meses sob pressão.
Apesar do tom sombrio, a secretária insistiu no discurso da responsabilidade individual e disse que os jovens “vão para as festas” e contaminam familiares. Ao dar “bronca” nas curitibanos, ela, no entanto, convenientemente esquece que a própria SMS e a prefeitura liberaram bares, festas com até 50 pessoas e outras atividades.
Também disse ter sido “surpreendida” pelo aumento “repentino” de casos na quinta-feira passada (12), apesar do R0, um dos principais indicadores epidemiológicos que mede a capacidade de contaminação dos infectados, ter ficado acima de 1 durante o mês de outubro.
Grosso modo, o R0 mede quantas pessoas, em média, um doente pode infectar. Se ele está abaixo de 1, isso significa uma retração no número de contaminados. Se for igual a 1, há uma estabilidade na velocidade de contaminação. Mas acima de 1, o R0 aponta crescimento exponencial do número de novos infectados.
Segundo médicos ouvidos pelo Plural, o efeito de um R0 elevado acontece num período de duas semanas. Ou seja, um R0 acima de 1 em outubro apontaria para maior número de infecções em novembro. O R0 também voltou a subir no início de novembro, reforçando a mesma leitura.
Ao Plural, o médico Alcides Oliveira, que também participou da entrevista, disse que outros dados são levados em consideração além do R0, mas não detalhou quais.
Bandeira Laranja
Questionada se irá mudar a bandeira de alerta amarelo para laranja, Huçulak disse que a decisão será tomada sobre os dados desta sexta-feira. No entanto, sem a abertura imediata de novos leitos, apenas uma queda brusca no número de novos casos e de pessoas internadas em UTIs permitiria aos indicadores estipulados pela própria secretaria uma redução no índice para menos de 2.
A única novidade anunciada na coletiva de hoje foi a abertura de 24 novos leitos de UTI, o que deve acontecer na próxima semana. Destes, 10 serão instalados no Hospital Evangélico, outros na Santa Casa e Hospital Vitória.
Além disso, prefeito e secretária insistiram que estão pedindo a prefeitos da Região Metropolitana tomem medidas de contenção da transmissão do vírus e reabram leitos. Greca também pediu que a Secretaria de Estado da Saúde suspenda as cirurgias eletivas, medida já tomada pela prefeitura.
A coletiva também serviu para revelar um tom de desgaste entre a Sesa e a SMS. Ao ser questionada sobre leitos, Huçulak criticou discretamente o colega do Estado, ao dizer que estava tentando pegar os respiradores doados pela iniciativa privada (e que serão usados no Hospital Evangélico), mas que parece que “precisa a imprensa acompanhar” a retirada deles.
Estou muito feliz em ter encontrado este jornal. Me impressiona a falta de seriedade e profissionalismo dos jornais mais antigos da cidade. Principalmente em relação à pandemia, que é algo capaz de dizimar famílias inteiras. Muito obrigado Rosiane! Suas matérias são ótimas! E me ajudam a tomar decisões dentro dessa realidade da desinformação proposital.
Oi Rosiane! Assisti a Live de hoje. Suas perguntas e posicionamento foram, em minha opinião, impecáveis. A partir de agora me torno leitor e acompanho seu trabalho por acreditar que é de jornalismo sério, ético e assertivo que necessitamos. Vejo em teu trabalho indícios do que acredito ser necessário para a construção de um amanhã mais justo.
PS: infelizmente nenhuma de suas perguntas foi respondida com assertividade. Ao menos rendeu por aqui um bocado de risadas pelo desconcerto evidente no não verbal deles. A única jornalista, aliás, que fez os três se posicionarem para uma tentativa de resposta (tentativas um tanto atrapalhadas, rs).
Obrigada querido. Fico feliz de estar informando da melhor forma nossos leitores.