As prioridades dos nossos atuais governantes já nos são suficientemente claras, eu sei. Mas ainda assim ver um governador e um prefeito posarem num evento que promove tecnologia como a resolução de todos os problemas me causa um sentimento estranho.
O organizador do evento diz que no Smart City Expo 2024 prioriza-se “o cidadão como protagonista da inovação”. Em que bairro mora esse cidadão?
Em pesquisas sobre o título (que sim, me incomoda bastante) de Cidade Mais Inteligente do Mundo, encontrei, no site da Prefeitura de Curitiba, um texto muito bem articulado que cita algumas qualidades da cidade que justificariam o prêmio:
“Cidade da primeira universidade do Brasil, da primeira rua exclusiva para pedestres e referência em transporte público, planejamento urbano e preservação ambiental, Curitiba vem recuperando nos últimos sete anos seu DNA de inovação, graças a iniciativas de cidade inteligente desenvolvidas pela gestão do prefeito Rafael Greca.”
O que me soa irônico é que no início da semana passada (19/03), um dia antes da inauguração do evento, houve vários alagamentos em Curitiba e região por conta das chuvas fortes. Uma cidade inteligente é a que tem câmeras e ônibus elétrico ou a que oferece infraestrutura decente e digna para toda a sua população?
Uma cidade inteligente é a que promove um evento com convidados internacionais para subir num palco com iluminação elaborada para falar sobre inovação tecnológica e o uso de inteligência artificial ou a que garante um transporte público realmente prático e funcional para todos?
Inovação sem visão social serve para quê? E para quem?
A tecnologia pela tecnologia não atende quem mais precisa do amparo do estado. É desse lugar que eu falo. Aqui, de dentro da favela, eu não vejo ou me sinto beneficiada por nenhuma das coisas que o prefeito gosta de ostentar, que fazem de Curitiba uma “cidade inteligente”.
Este texto faz parte do Periferias Plurais, um espaço em que o Plural convida jovens de Curitiba e região para falar de suas vidas e suas comunidades. O projeto é patrocinado pelo escritório de advocacia Gasam.
Sobre o/a autor/a
