Poluição em Curitiba é monitorada em seis bairros

Sensores indicam que qualidade do ar está ligada à concentração de carros nas ruas

Um projeto do departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) começou a monitorar a dinâmica da poluição por materiais particulados, principalmente os liberados por veículos e indústrias, por toda Curitiba. A ideia é criar uma rede de monitoramento da qualidade do ar na Capital que, a longo prazo, possa embasar iniciativas do poder público municipal voltadas à implantação de infraestruturas capazes de diminuir o impacto da poluição na cidade.

As análises começaram em janeiro e já têm um recorte prévio. “A gente faz um perfil diário e, com isso, temos visto que em vários lugares como Batel, Mercês e Jardim Botânico [o maior nível de poluição] é sempre próximo das 8h e entre 18h e 19h, o que indica que está bastante associado ao aumento de veículos nas ruas”, explica o professor e coordenador da pesquisa, Emílio Graciliano Ferreira Mercuri.

O projeto faz parte a iniciativa ‘Curitiba, o Ar que você respira’ (CWBreathe), coordenada pelo Laboratório de Computação e Tecnologia em Engenharia Ambiental (Lactea), com colaboração da Estonian University of Life Sciences (EMÜ), em Tartu, na Estônia. Desde o início, tem gerado relatórios com indicadores mensais do nível da poluição do ar, a partir de medições feitas por meio de sensores distribuídos em seis pontos de Curitiba e em outros dois da Região Metropolitana (RMC). Apesar de alguns períodos mais evidentes, em todos os meses a qualidade da poluição do ar na Capital foi considerada boa.

Hoje, as estações estão nos bairros: Batel, Mercês, Jardim Botânico, Jardim das Américas, Orleans e Boa Vista, e também nas cidades vizinhas de Araucária e Campo Largo, onde há concentrações industriais específicas. Mas a abrangência vai crescer. Em breve, outros 20 pontos da capital paranaense ganharão os sensores, e a proposta é que a iniciativa se expanda por toda a cidade, garante o docente.

Pensando nisso, a CWBreathe abriu chamada pública para a inscrição de interessados em ajudar nos trabalhos, como já noticiou o Plural. A resposta surpreendeu: foram mais de 50 voluntários dispostos a ceder um pequeno espaço da casa compatível com a implantação do equipamento e permitir o uso da internet residencial – já que as informações são coletadas e enviadas ao sistema de maneira virtual. A tecnologia utilizada se baseia em sensores chineses de baixo custo, acoplados a microcontroladores que transmitem as informações diretamente ao servidor da UFPR.

Foto: UFPR

Ilhas de calor

As análises têm como referência a concentração no ar de materiais particulados, indicadores associados às emissões veiculares e queimas de biomassa, constituídos de partículas sólidas ou líquidas que afetam tanto o clima quanto a saúde. Os sensores usados pela UFPR conseguem medir partículas de diâmetro médio, de até 10 micrômetros, e partículas com diâmetros ainda menores, de 2,5 micrômetros, que pelo tamanho conseguem penetrar no sistema respiratório.

Por ficarem em posições relativamente próximas ao solo, os equipamentos empregados no projeto não têm capacidade para medir a poluição gerada por queimadas, mas carregam um mecanismo que consegue também constatar a temperatura ambiente e, dessa forma, identificar as possíveis ilhas de calor existentes na cidade.

“A partir disso, a gente pode usar infraestrutura verde, que são vegetações possíveis de serem colocadas próximas das vias e que podem absorver a poluição antes de chegar nas pessoas. Essas árvores servem também para amenizar a temperatura”, salienta Mercuri. “Temos que pensar que a tendência é que a quantidade de veículo vá aumentando em Curitiba, que o número de pessoas também vai aumentar e a poluição veicular vai ficar cada vez mais crítica. O impacto na saúde do material particulado é um impacto que é a longo prazo, então a ideia é tentar gerar maior qualidade de vida para Curitiba, uma cidade que sempre teve um apelo sustentável.”

Tenha um sensor em casa

O engajamento da comunidade externa não está só em ajudar na manutenção dos equipamentos. De acordo com o projeto, também é possível elaborar um sensor próprio, que gere indicadores para o banco de dados do projeto. Os equipamentos podem ser feitos espontaneamente a partir de um tutorial já disponibilizado pela equipe.

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