“Esperando Bojangles” e a dificuldade de suportar a realidade

Filme é ideal para espectadores mais sentimentais; nele, o diretor Régis Roinsard deixa evidente seu carinho pelos personagens

O filme “Esperando Bojangles” trata, a princípio, de loucura. Mas essa loucura pode ser entendida como uma metáfora sobre uma pessoa que, drasticamente, não consegue suportar a realidade, buscando sobreviver inventando uma vida “original”, de festa e de ilusões. No caso do filme, a personagem utiliza esse recurso até ele se esgotar.

George e Camille se conhecem em uma elegante festa e, imediatamente, identificam-se um com o outro. Ele, um intruso, passa de grupo em grupo se apresentando como um sujeito rico e sedutor: o filho de um milionário americano ou um nobre romeno descendente do Conde Drácula. Sua perspicácia encanta e engana muitos dos convidados. Na sequência, vê uma bela mulher, Camille, que dança (sozinha) e age como uma princesa em um castelo, ou algo do gênero. Eles reconhecem um no outro as suas personalidades “originais”, apaixonam-se e casam.

“Esperando Bojangles”

O casal tem um filho, que é educado para ser um garoto extraordinário e, realmente, a criança é inteligente e conhece os assuntos do mundo adulto melhor do que os próprios. E a família, quase diariamente, convida amigos e promovem festam extravagantes, muitas vezes temáticas (algo bastante ingênuo, na verdade), e Camille, assim, consegue um escudo contra a realidade.

Os anos passam e a realidade, inevitavelmente, mostrará a sua cara feia: é necessário cumprir regras, trabalhar, ir para a escola, pagar as contas, entre outras exigências da vida diária muito distantes do mundo da fantasia. George e o filho adaptam-se ao “mundo real”, diferentemente de Camille. A essa altura, mesmo em um castelo na Espanha às margens do Mar Mediterrâneo (um mimo oferecido por um amigo milionário), as suas fantasias já não fazem mais efeito.

Adaptação

O filme “Esperando Bojangles” (baseado num livro de Olivier Bourdeaut) é dirigido por Régis Roinsard, conhecido pelo filme “A Datilógrafa”. Apesar da história interessante e das belas imagens, o filme não encanta e tem pouco impacto. As cenas em que ambos buscam a diversão a qualquer custo são interessantes, e os momentos mais dramáticos resultam pesados, apenas.

Mas o filme não é, de modo algum, totalmente descartável, sobretudo para o espectador mais sentimental (por que não?). A razão é que o diretor deixa evidente o seu cuidado e até carinho pelos personagens, e nos sensibilizamos com isso.

E há os dois protagonistas. No papel de George, temos o sempre interessante Romain Duris, conhecido já por tantos filmes, como “De Tanto Bater Meu Coração Parou”, “Paris” e a “A Datilógrafa”. Ele esbanja simpatia no início de “Esperando Bojangles”, mas torna-se cada vez mais convencional e “apagado” ao longo do filme (uma opção do diretor, uma vez que o personagem precisa trabalhar e sustentar a família?).

Virginie Efira

Mas a grande figura do filme é Virginie Efira, conhecida pelo papel da personagem-título de “Benedetta”, o polêmico filme de Paul Verhoeven. A atriz transita da alegria à loucura e ao desespero com muita eficiência, além de representar belamente o papel de uma mãe que tem a angustiante convicção de ser cada vez menos capaz de cuidar do filho.

Virginie Efira possui uma beleza de efígie, especialmente em sua cena de nudez, e é a principal razão para assistir a “Esperando Bojangles”, o que, diante do talento e encanto da atriz, é um motivo mais do que legítimo.

Onde assistir

“Esperando Bojangles” está em cartaz no Cineplex Batel, do Shopping Novo Batel.

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