As 10 fake news mais absurdas sobre a pandemia

Plural reuniu algumas das mentiras mais bizarras verificadas pelo Projeto Comprova sobre a pandemia de covid-19 e a vacinação

Desde o surgimento do coronavírus, as fake news se espalharam exponencialmente pelo mundo. No Brasil, a desinformação sobre número de casos e óbitos pela covid-19, a letalidade do vírus, e medidas de prevenção e de tratamento fez com que pessoas deixassem de se proteger e se vacinar contra a doença.

De órfãos poloneses usados em experimentos da vacina a imunizantes sendo criados a partir de células de fetos abortados, o Plural selecionou alguns dos conteúdos mais absurdos a respeito do coronavírus e das vacinas checados pelo Projeto Comprova desde o início da pandemia. Confira: 

Confira a lista

1. Vacina contra covid-19 não provoca Aids

Durante uma de suas lives semanais, em 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que pessoas completamente vacinadas contra a covid-19 teriam risco de infecção pelo HIV, que causa Aids, o que não é verdade. Para justificar sua declaração, Bolsonaro disse, dias depois, que havia se baseado em uma matéria da revista Exame.

No entanto, além de não ter citado a Exame em nenhum momento durante a live, ao falar sobre a relação entre vacinas e Aids, Bolsonaro segurava um papel com uma notícia impressa do site negacionista Before It’s News, que havia publicado conteúdo com o mesmo teor de sua fala seis dias antes da live. O papel com a logomarca do portal estava virado para a câmera e não é possível saber exatamente o que Bolsonaro estava lendo.

A live em que Bolsonaro fez as declarações foi excluída pelo YouTube e pelo Facebook, e o presidente passou a ser investigado pela Polícia Federal (PF) a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) por ter associado, falsamente, a vacinação contra a covid-19 ao risco de desenvolvimento de Aids.

2. Vacina contra covid não causa câncer e não tem relação comprovada com herpes-zóster

Ao contrário do que afirma um médico em vídeo publicado no Instagram, é falso que as vacinas contra a covid-19 causem câncer e outras doenças respiratórias. Segundo especialistas ouvidos pelo Projeto Comprova, também não há nenhuma comprovação científica ligando casos de herpes-zóster aos imunizantes.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou que não há qualquer evidência sobre a relação de herpes-zóster com o uso das vacinas contra covid. A agência não recebeu notificações de eventos adversos relacionados a essas doenças.

De acordo com a Anvisa, todas as vacinas analisadas e autorizadas são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos, e seguem sendo monitoradas. 

3. Brasil não foi escolhido pela OMS como um dos três países que melhor atuaram no combate à pandemia

É falso que o Brasil tenha sido escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos três países que melhor atuaram no combate à pandemia. O autor do vídeo verificado pelo Comprova diz embasar a informação em uma matéria da Agência Brasil. Contudo, a publicação não menciona esse dado. 

O texto trata da escolha do país para integrar o Grupo de Negociação Intergovernamental (INB), que reúne outros cinco países de diferentes continentes. O foco do INB é planejar um instrumento — como um tratado ou acordo — para o fortalecimento global no combate a futuras pandemias. Ao Comprova, o Ministério das Relações Exteriores esclareceu que a escolha foi feita em consenso entre países-membros da OMS e que levou em consideração, entre outros fatores, a experiência brasileira em negociações diplomáticas.

4. Leite materno não substitui vacinação de crianças contra a covid

O leite materno não substitui a vacinação de crianças contra a covid-19 como quer fazer crer o ex-senador Magno Malta (PL-ES) em vídeo publicado no Facebook, em fevereiro deste ano. Ele também afirma que crianças não devem ser vacinadas contra a covid-19 e que o imunizante poderia provocar problemas de saúde no futuro e até levar à esterilidade.

A Anvisa e especialistas consultados pelo Comprova afirmaram que as vacinas contra a doença são seguras e que não há base científica para alegar que imunizantes podem gerar problemas de saúde no futuro, chegando até mesmo a levar à infertilidade. Ainda que o leite materno carregue anticorpos desenvolvidos pela lactante e seja fundamental para o recém-nascido, ele não garante a imunidade de crianças contra a covid-19 e, portanto, não substitui a vacinação.

5. Vacinas contra covid não injetam “DNA alienígena” 

É falso que vacinas contra a covid-19 injetam “DNA alienígena” nas pessoas. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que nenhum imunizante injeta DNA nas pessoas, e que as vacinas são seguras, além de eficazes.

A alegação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, insinua ter relação com o falso entendimento de que as vacinas que usam a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) injetam DNA ou provocam alterações genéticas nas pessoas, o que não é verdade. Essa tecnologia é usada em duas das vacinas contra a covid-19: Pfizer e Moderna.

Segundo infectologistas especialistas ouvidos pelo Comprova, as vacinas de mRNA funcionam a partir da inserção de um pedaço da sequência de RNA do Sars-Cov-2 para gerar resposta no sistema imunológico humano. Já os imunizantes Oxford/Astrazeneca e Janssen são produzidos por meio do adenovírus recombinante, método que também não injeta DNA. No caso da CoronaVac, a técnica usada é do vírus inativado. 

6. Pessoas vacinadas com Pfizer não se tornam rastreáveis

Em maio de 2021, passou a circular um vídeo alegando que a Pfizer teria patenteado um sistema de rastreamento de pessoas imunizadas contra a covid-19 e que teria grafeno na composição da vacina. O conteúdo, no entanto, é falso.

A Pfizer não patenteou qualquer sistema de rastreamento de pessoas vacinadas com o imunizante desenvolvido por ela contra a covid-19 em 31 de agosto de 2021. Na verdade, existe uma patente emitida nesta data, nos Estados Unidos, que trata do uso de contato digital para aplicação de medidas profiláticas contra doenças infecciosas propagadas pelo ar, mas ela pertence a dois advogados israelenses sem ligação com a Pfizer. Na prática, o sistema utilizaria sinal de Bluetooth para identificar as pessoas que mais interagem socialmente e priorizá-las na aplicação de medicamentos ou vacinas – este método, segundo os proprietários, resultariam num melhor desempenho epidemiológico.

As demais afirmações feitas ao longo do vídeo também são falsas, como a de que seria possível o rastreamento de pessoas vacinadas por meio de óxido de grafeno “mantido nos tecidos adiposos de todas as pessoas que receberam a injeção”. Nem a vacina da Pfizer e nem qualquer outra contra a covid-19 possui essa substância na composição.

Além disso, especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam que não é possível rastrear pessoas por meio das nanopartículas de grafeno. O Comprova também conversou diretamente com a Pfizer, que afirmou ser falso o conteúdo do vídeo, mesma afirmação feita pelas agências reguladoras americana e brasileira, a Food and Drug Administration (FDA) e a Anvisa, respectivamente.

7. Órfãos da Polônia não são usados em experimentos de vacina Pfizer e Moderna

É falso que médicos poloneses denunciaram a utilização de bebês órfãos em experimentos ilegais de “vacinas de engenharia genética” contra a covid-19. A autora da postagem utiliza argumentos sem comprovação, desmentidos pelo Ministério da Saúde polonês e pela fabricante dos imunizantes.

Procurada pelo Comprova, a primeira conselheira de Missão da Embaixada da República da Polônia em Brasília, Renata Siuda-Ambroziak, afirmou que todos os estudos sobre o imunizante contra o coronavírus obtiveram autorização legal exigida pelas entidades de saúde e ética locais.

Além disso, um infectologista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) esclareceu que “engenharia genética” é o antigo nome dado à biologia molecular, utilizada tanto na fabricação de vacinas quanto de medicações, como a insulina. Diferentemente da indução que o conteúdo falso faz sobre o uso dessa técnica ser algo prejudicial, o especialista afirma que ela é utilizada por mais de 50 anos, sem prejuízos aos usuários dos fármacos.

8. Máscara não causa acúmulo de líquido nos pulmões, nem intoxicação

É mentira que o uso de máscaras não reduz o risco de contrair o coronavírus e que o equipamento seja prejudicial à saúde, como alega um texto publicado pelo site Estudos Nacionais. A postagem recorre a um vídeo gravado por um otorrinolaringologista sobre uma paciente que teria sofrido uma queda enquanto corria usando máscara. Segundo a publicação, o equipamento de proteção pode causar intoxicação por CO2 e acúmulo de líquido nos pulmões. Isso não é verdade.

O uso de máscaras impede a disseminação de gotículas no ambiente, por isso é indicado para a proteção contra o coronavírus. Mesmo a máscara caseira, quando produzida da maneira correta, não oferece riscos à saúde.

Embora o uso da máscara reduza a capacidade respiratória – e, justamente por essa razão, não seja recomendada durante atividades físicas -, especialistas ouvidos pelo Comprova reafirmaram que elas são eficazes na proteção contra o coronavírus e negaram a possibilidade de as máscaras causarem danos graves como intoxicação por acúmulo de CO2 ou acúmulo de umidade e líquido nos pulmões.

9. Sol do meio-dia não mata coronavírus 

Em 2020, um post no Twitter afirmava que, segundo cientistas, o sol do meio-dia seria eficaz na erradicação do coronavírus e mataria o vírus (inativá-lo no organismo humano) em 34 minutos. No entanto, a publicação é enganosa. Especialistas atestam que essa relação não tem embasamento científico.

O Comprova localizou um artigo publicado, em junho daquele ano, na revista “Photochemistry and Photobiology” que menciona a relação entre exposição ao sol e inativação do vírus, citando um intervalo de tempo de 34 minutos. No entanto, existem problemas metodológicos no estudo que inviabilizam o estabelecimento dessa relação.

“Não tem nenhuma conclusão nova e nenhum dado real nesse estudo. Aí eles jogam com esse tipo de argumento, que é ‘ruim para a saúde não tomar sol’. Claro, é mesmo”, avalia o professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e integrante do grupo de estudos de desinformação em redes sociais da Unicamp, Leandro Tessler.

10. Vacinas não usam células de fetos abortados

Uma postagem que viralizou no Twitter em julho de 2020 engana os leitores ao insinuar que a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford seria “produzida a partir de células de bebês abortados”. A postagem traz o link para um artigo na página Estudos Nacionais em que o autor diz que a vacina foi produzida “usando uma linha de células renais fetais humanas chamada HEK-293”.

Como o próprio artigo explica, as células foram retiradas de um feto abortado legalmente na Holanda nos anos de 1970 e desenvolvidas em laboratório a partir da imortalização — ou seja, a capacidade perene de divisão. Elas deram origem à linhagem de células HEK-293 (a sigla vem do inglês “human embryonic kidney”, ou seja, rim de embrião humano), que desde então é usada na indústria farmacêutica em todo o mundo.

Linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos são comuns em pesquisas científicas. A HEK-293 é a mais comum, mas a PER. C6 (também de origem fetal) e a HeLa (feita com tecido retirado de uma mulher adulta) são exemplos de outras linhagens usadas. As culturas servem para que os cientistas entendam como determinada substância age nas células humanas, sem a necessidade de colocar vidas de pacientes em risco. No caso das vacinas, as células da linhagem servem como “pequenas fábricas” para que os vírus atenuados possam se multiplicar e não fazem parte da composição do produto final.

Pesquisadores são categóricos ao afirmar que o uso das linhagens celulares não provoca novos abortos.

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