Zoológico Municipal: um espaço de preservação e proteção dos animais

Em 2022, espaço completa 40 anos de atividades que visam conscientizar a população a respeito dos impactos à fauna causados pelos seres humanos

“Você imagina a movimentação que foi a inauguração em 1982, o agito que foi?”, relembra o médico veterinário Manoel Javorouski sobre a abertura do Zoológico Municipal de Curitiba, local criado para acolher animais que não podem ser reintegrados à natureza. 

O veterinário, que na época tinha 15 anos e era um dos 10 mil ciclistas que participaram do evento de inauguração do Zoo, conta que a realocação dos bichos, que antes ficavam no Passeio Público (primeiro zoológico da cidade), gerou alvoroço na população curitibana. “A inauguração do Zoo foi uma grande mudança de paradigmas, de transferir os animais que viviam em recintos pequenos para outros muito maiores. Isso porque essa era a visão que se tinha de um zoológico antigamente, que era só mostrar os bichos, não interessava a condição em que eles estavam”, explica Manoel.

Foto: Cecília Zarpelon/Plural

Desde que foi criado, o Zoológico de Curitiba tem a função de cuidar dos bichos vítimas de tráfico, atropelamento, apreensão, ou provenientes de circos, além de manter trabalhos de reprodução e conservação de espécies. Desde a implantação do Centro de Apoio à Fauna Silvestre (CAFS), que recebe esses animais e os transfere ao Zoológico, há dois anos, já foram mais de 6 mil animais resgatados, sendo que 60% deles têm possibilidade de retorno à natureza. 

Os outros 40% que não conseguem, seja por sequelas físicas ou neurológicas/comportamentais, são mantidos no Zoo. Hoje já são cerca de 1.800 animais de 127 espécies diferentes, tanto nativas (araras, onças-pintadas, pumas, lobo-guará e tamanduás) quanto exóticas (chimpanzés, emus, flamingos e urso). E manter todos eles exige, segundo o veterinário do local, um trabalho multidisciplinar cuidadoso.

“É importante quebrar essa rotina que os animais acabam tendo nessa situação sob cuidados humanos. Na natureza são diversas situações: ameaças, predadores, busca por comida, e sob os nossos cuidados não existe nada disso. Isso serve para diminuir o estresse, e consequentemente, melhorar a condição imunológica desse animal para que ele não fique doente tão fácil.”

Manoel Javorouski, médico veterinário.

Todos os dias, biólogos, médicos veterinários e zootecnistas acompanham de perto os animais. Cada bicho tem uma dieta específica conforme suas características biológicas e habitacionais, que pode ser à base de frutas, vegetais, carnes, ração, até camarão e coração bovino. 

“A parte básica de manter um animal em situação de cuidados humanos é a alimentação. Além disso, há os cuidados veterinários, com exames de fezes rotineiros, vermifugação e a vistoria diária. Você vê o animal todos os dias para que quando ele estiver com um comportamento diferente você já saiba.”

Foto: Cecília Zarpelon/Plural

Segundo Manoel, uma parte fundamental do cuidado com os animais é o enriquecimento ambiental. São atividades que procuram tornar a rotina dos animais mais dinâmica, a fim de melhorar a qualidade de vida deles.

Manoel explica que, por exemplo, os saguis recebem bananas cortadas em cubos, enquanto para os chimpanzés a fruta vem inteira, com casca. Para mudar a rotina desses animais, uma opção é trocar a apresentação habitual do alimento.

“É importante quebrar essa rotina que os animais acabam tendo nessa situação sob cuidados humanos. Na natureza são diversas situações: ameaças, predadores, busca por comida, e sob os nossos cuidados não existe nada disso. Isso serve para diminuir o estresse, e consequentemente, melhorar a condição imunológica desse animal para que ele não fique doente tão fácil.”

32 anos

era a idade de Pandinha, girafa que vivia no Zoo de Curitiba e morreu no dia 10 de janeiro. Ela era a girafa mais velho do Brasil.

Nos 26 anos e meio de convivência com os animais do Zoológico, Manoel diz que não é possível ter um preferido, embora haja alguns em especial que marcaram a vida do veterinário. Um deles foi a chimpanzé Imperatriz, de 47 anos, que foi resgatada de um circo no qual sofria maus tratos e que faleceu em agosto de 2011. 

Chimpanzé Imperatriz. Foto: Orlando Kissner/SMCS

Educação ambiental

Além de ser um espaço de preservação da fauna, o Zoo desenvolve importantes trabalhos de educação ambiental e conservação da biodiversidade.

O diretor de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Edson Evaristo, explica que o Zoológico emprega diversas estratégias para difundir a educação ambiental, como a realização de atividades com estudantes, capacitação para professores, oficinas ambientais e visitas guiadas no Zoo.

“Esse é o nosso objetivo, que o Zoo seja um local de sensibilização das pessoas. A Pandinha, por exemplo, girafa que faleceu recentemente (em 10 de janeiro), é um destaque dentro da história do Zoológico porque ela teve um êxito enorme nessa função de sensibilizar as pessoas sobre o problema que os humanos acabam causando aos animais”, afirma Edson, que também é zootecnista.

Pandinha tinha 33 anos. Ela era a girafa mais velha do Brasil e a quarta mais velha do mundo. Foto: Isabella Mayer/SMCS

Espécies ameaçadas 

O Zoológico também integra grupos nacionais de trabalho para a conservação de espécies brasileiras ameaçadas de extinção, por meio de um Termo de Cooperação Técnica entre a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB), ICMBio e Ministério do Meio Ambiente. Das 25 espécies ameaçadas presentes no documento, Curitiba mantém 10: muriqui-do-sul; mico-leão-da-cara-dourada; macaco-aranha-da-testa-branca; tamanduá-bandeira; onça-pintada; lobo-guará; jacutinga; ararajuba; jacucaca e sagui-da-serra-escuro.

Para promover a conservação da fauna de forma efetiva, Edson conta que o espaço tem um setor de reprodução de psitacídeos ameaçados de extinção (papagaios de diversas espécies como a arara azul e a ararajuba). “É um orgulho para nós porque a gente tem bons resultados. São animais que nascem nesse setor, crescem de maneira diferenciada, sem criar vínculos com humanos, pensando na soltura deles na natureza.”

Ao todo, já são 11 papagaios nascidos no Zoológico que hoje vivem livres no Parque Nacional das Araucárias, em Santa Catarina, um local em que essa espécie tinha sido declarada extinta e agora está sendo repovoada.

Visitação

Localizado no Parque Municipal Iguaçu, numa área de 589 mil metros quadrados, o Zoológico recebe cerca de 650 mil visitantes por ano. Durante os 4 km de percurso, que levam em torno de duas horas para serem percorridos, os visitantes podem conhecer o leão Thor e sua companheira Zâmbia; os hipopótamos Dino, Glória Charlene e Penélope; a lontra Adolfo; a lhama Elis e o chimpanzé Bob. 

Alguns dos animais mais famosos do Zoo são o leão Simba, resgatado ainda filhote em uma residência, que morreu em 2020; o tigre Tom, que chegou ao Zoológico em 2014 depois de ser entregado pelos seus tutores ao IBAMA; e os muriquis-do-sul, sendo o Zoo de Curitiba um dos únicos espaços especializados na reprodução da espécie.

As visitas ao Zoológico da cidade são feitas a pé e não é preciso agendamento prévio. O acesso é gratuito, por ordem de chegada, sendo permitida a presença de até 1.200 pessoas simultaneamente.

Pedro Bento dos Santos, que vende picolé no Zoo desde 2017, convida as pessoas a conhecerem o lugar. Ele, que mora em Curitiba há 33 anos, vai ao Zoológico sempre que o dia está quente, geralmente perto das 11h. “Tem curitibanos que vêm para cá a cada seis, 10 anos. Acho que pelo menos uma vez por ano deviam vir aqui, trazer os filhos. Que o povo venha passear no Zoológico, nós estamos aqui esperando”, chama.

Para aqueles que pretendem visitar o Zoo, o veterinário Manoel Javorouski deixa uma dica: vá com tempo. “Só passar na frente não é a forma de se apreciar um zoológico. Você acaba se comportando como aquele que só vê uma vitrine. Para aproveitar mesmo tem que vir com tempo, ficar um momento parado na frente de um recinto para ver o comportamento do animal. Só com tempo você vai conseguir aproveitar todo o aprendizado que é uma visita no Zoo”, diz. 

Serviço

Zoológico Municipal de Curitiba

  • Endereço: Rua João Miqueletto, 1500, Alto Boqueirão
  • Contato: (41) 3378-1221 ou [email protected] 
  • Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 16h

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