UPAs em Curitiba têm equipamentos enferrujados, fiação precária e paredes rachadas

Unidades do Boqueirão e Sítio Cercado foram inspecionadas pelo Sindicato dos Médicos do Paraná nos últimos dois meses

Esta reportagem foi atualizada às 14h20 do dia 1º de fevereiro para acrescentar o posicionamento do Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec).

As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Boqueirão e do Sítio Cercado, em Curitiba, apresentam condições precárias de trabalho e atendimento à população. Problemas estruturais nos prédios, mobiliário inadequado e enferrujado, e falta de ventilação nas salas foram algumas das situações constatadas em inspeções realizadas pelo Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) em dezembro de 2022 e janeiro deste ano.

Ao Plural, a Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas), responsável pela manutenção das unidades, afirmou que só irá se manifestar após análise criteriosa dos relatórios apresentados pelo Simepar.

Boqueirão

Na UPA do Boqueirão, a principal dificuldade é que o atendimento é feito em cinco biombos, também chamados de “boxes”, pelos 87 médicos da unidade. O problema é que esses boxes, por serem separados apenas por uma cortina, trazem pouca privacidade e segurança aos médicos e pacientes. Além disso, não há mesa, cadeira, ou computador nessas instalações. 

Na inspeção dos locais destinados ao descanso (que não são separados por gênero) foram identificados colchões rasgados, a maioria sem lençol, sem travesseiro, camas insuficientes e armários com sinais de desgaste e ferrugem. 

Outra constatação é a de que o local de atendimento da população seria “extremamente quente mesmo em um dia com temperatura ambiente relativamente amena”, pois há falta de ventilação e forro com proteção térmica no telhado. O espaço conta com quatro ventiladores, mas no momento da visita do Simepar, apenas dois estavam funcionando.

Na sala de espera, utilizada para acompanhamento dos pacientes que precisam de transferência, os profissionais relatam falta de ventilação adequada e calor excessivo.

Em relação ao ambiente de trabalho da unidade, o Simepar afirma ser necessária a adequação da estrutura da UPA para oferecer melhores condições de higiene ocupacional aos médicos e funcionários.

Sítio Cercado

Na UPA do Sítio Cercado, que conta com 76 médicos, alguns equipamentos como cadeiras, macas e carrinho de transporte estavam em salas administrativas, hall de entrada e corredores.

Já os locais destinados ao descanso e vestiários, apesar de serem separados por gênero, têm colchões empilhados, sem lençol e travesseiros, e camas insuficientes. Há salas sem ventilação adequada, além de armários desgastados. O vestiário feminino apresentava sinais de recente alagamento, com poças de água no chão.

Ao contrário da UPA do Boqueirão, na unidade do Sítio Cercado há salas de atendimento de pacientes classificados de acordo com o grau de risco da doença. A classificação é feita segundo as queixas e sintomas, e fatores que impactam o tempo que o paciente pode esperar, como: risco de morte, escala de dor, hemorragia, nível de consciência, temperatura e glicemia.

Os consultórios possuem uma mesa, computador, uma cadeira para o médico e outra ao paciente. Em algumas salas a fiação elétrica é precária, necessitando de reparos e, em outras, não há ventilação ou iluminação adequada.

Outra preocupação do Simepar é em relação aos recipientes contendo gases comprimidos. O armazenamento desse tipo de material deveria ser feito em depósitos bem ventilados e eles precisariam estar protegidos contra quedas, calor e impactos acidentais, o que não acontece na UPA do Sítio Cercado.

Conforme o sindicato, os médicos da unidade possuíam máscaras cirúrgicas, jaleco e luvas. Porém, não havia óculos de proteção, toucas, máscaras com filtro químico, protetor facial de acrílico e proteção para os sapatos.

As inspeções

As inspeções do Simepar atenderam a requisição do Ministério Público do Trabalho (MPT) expedida em Inquérito Civil em trâmite na Procuradoria Regional do Trabalho da 9ª Região. O inquérito foi instaurado a partir da denúncia do sindicato sobre o “Sistema Fast de Atendimento”, em que é introduzido um profissional chamado de “controlador de fluxo” cuja função seria pressionar os médicos a atenderem com mais rapidez.

Cumprindo a requisição do MPT, as inspeções foram realizadas por uma médica diretora do Simepar e um advogado da assessoria jurídica do sindicato, e acompanhadas por um procurador jurídico da Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas). 

De acordo com o Simepar, são realizadas reuniões mensais com a Feas, nas quais são levadas as demandas dos profissionais. “O objetivo do Sindicato é que os médicos e médicas tenham condições dignas de trabalho pelo bem da Saúde Pública.”

Ao Plural, a Fundação informou que não teve conhecimento prévio dos relatórios do sindicato e que só poderá se manifestar depois de avaliá-los criteriosamente. “No entanto, de antemão, asseguramos que, de acordo com princípios e diretrizes da Secretaria Municipal da Saúde, prezamos pela qualidade do atendimento à população e pelo bom ambiente de trabalho dos seus profissionais”, disse, em nota.

O Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec) disse que acompanha a implantação do novo protocolo do “Sistema Fast de Atendimento” nas demais UPAs da cidade e que ele vem gerando desgastes entre as equipes e insatisfação dos profissionais que são pressionados a executarem a função de “controlador de fluxo”. Em relação às condições de trabalho, o Sismec afirmou haver “situações insalubres e sem a menor condição ergonômica” em todos os equipamentos de saúde publica de Curitiba. “Este cenário indica uma gestão pouco preocupada com a realidade humana e muito preocupada com as aparências”, disse, em nota.

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