Transporte escolar atravessa pandemia sem apoio

Falta auxílio do poder público para 2,4 mil trabalhadores de Curitiba que dependem da atividade para sobreviver

Marcos Aurélio Venâncio, 44, é dono de um micro-ônibus e tem uma carreira consolidada no transporte escolar – ele atua na área há sete anos. Mas, desde que o coronavírus chegou a Curitiba e as escolas pararam de ofertar aulas presenciais, tem sido um sufoco pagar as contas. “Acabamos ficando sem renda nenhuma. Com o tempo, até arranjei outro trabalho informal como motorista, mas só com o que eu ganho não consigo honrar com os compromissos que a gente tem.”

Até março, Marcos atendia 55 alunos. Nos primeiros dois meses da pandemia, ele tentou cobrar a metade da mensalidade dos pais. Ficaram 32 alunos. Depois, o jeito foi suspender os pagamentos para segurar os clientes que restaram e buscar outras fontes de renda. Resultado: a queda de orçamento foi brusca, com redução de 60%.

“Paramos com os passeios e agora só compramos o que precisamos”, afirma o motorista. Como mesmo assim as contas não fechavam, ele pediu um empréstimo para a cunhada, que vem tentando ajudá-lo a manter a casa, a esposa e os dois filhos desde junho. 

Situação caótica

Marcos não é o único motorista com problemas nesse período. “O transporte escolar infelizmente está zerado e sem perspectiva. A situação é caótica e está dizimando a categoria”, alerta Douglas Carlos Silveira, presidente do Sindicato dos Operadores de Transporte Escolar em Curitiba (Sindotec). 

Hoje, a cidade tem 864 veículos com licença para prestar o serviço, que é fonte de renda para cerca de 2,4 mil pessoas só na Capital. Com a suspensão das aulas presenciais, os trabalhadores estão há quase seis meses parados. 

“A gente entende que não tem como as aulas voltarem. A criançada vai ficar exposta ao coronavírus e não é isso que o transportador quer”, garante Silveira. O que agrava o problema, segundo ele, é não obter ajuda do poder público.

“Nós já tentamos de tudo: pedimos auxílio-emergencial, crédito e a prorrogação das parcelas dos veículos do transportador escolar. Conseguimos apenas o crédito pelo Governo do Estado e pela Prefeitura, mas é uma dívida. Estamos parados, com arrecadação zerada, como vamos pagar?”, questiona.

Outro ponto é que muitos dos transportadores já estão negativados e nem sequer tiveram o crédito aprovado. “Alguns até já perderam os veículos – e isso é seríssimo, porque é a fonte de renda dessas pessoas. Mas, até o momento, ninguém nos ajudou com essa questão.”

Sem perspectiva

Categoria fez carreata no Dia do Trabalhador. Foto: Sindotec

Um encaixe em outro segmento dentro do transporte chegou a ser cogitado pelo Sindotec, mas, embora a pauta ainda esteja tramitando na Câmara, Silveira diz que já recebeu a negativa do próprio prefeito Rafael Greca (DEM) e não quer “iludir a categoria” com essa promessa.

“Estamos pedindo isso desde abril. Conversamos com o prefeito, com o Ogeni [presidente da URBS], com o Jamur [Secretaria do Governo Municipal] e com o Sabino Picolo [presidente da Câmara dos Vereadores]”, afirma. “Todos eles foram enfáticos ao dizer que não teria como, porque fere o contrato que a Prefeitura tem com as empresas que já prestam esse serviço.”

A esperança, agora, é que os poucos vereadores engajados na causa consigam aprovar algum tipo de auxílio-emergencial para a categoria. “Nós precisamos de maioria dentro da Câmara, mas não é o que está acontecendo. A oposição está mais sensibilizada, mas a base do prefeito, não.”

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