Tentativa de reabrir Estrada do Colono mobiliza ambientalistas

Deputados querem reabrir trecho, mas prejuízo ecológico seria grande

Desde que foi fechada definitivamente, em 2001, alguns políticos até tentaram, mas nenhum conseguiu levar para frente a ideia de reabrir a Estrada do Colono, um antigo caminho que corta o Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. Porém, nos últimos meses, deputados federais e estaduais voltaram a insistir no assunto, tentando aliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental. A proposta não agradou ambientalistas, que reforçam os danos para o Meio Ambiente, especialmente para a fauna local.

O biólogo Paulo Pizzi, presidente do Mater Natura Instituto de Estudos Ambientais e integrante da Aliança Pró-Biodiversidade, destaca que, pelo tempo em que está fechada a estrada, o processo de regeneração florestal está bem avançado. “Se aprovados esses absurdos projetos de lei, será desmatada uma faixa de floresta com aproximadamente 18 km de extensão por 6 metros de largura, no trecho mais importante para preservação do Parque. Imagine o tamanho do impacto ambiental na principal unidade de conservação do Sul do Brasil”, pondera.

O ambientalista observa ainda que o artigo 11 da Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/2006) “veda o corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica, nas características apresentadas neste local da unidade de conservação”.

Para Pizzi, a alegação de que a Estrada-Parque iria incentivar o turismo não se justifica. “A paisagem que se via na extinta estrada é somente de árvores por ambos os lados. Paisagem facilmente vista pela borda do parque, sem necessidade de destruição da mata para este atendimento.”

Segundo o biólogo, um dos principais impactos da reabertura seria a indução de atropelamentos na fauna. “O Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas estima que 475 milhões de animais são atropelados a cada ano em estradas e ferrovias no Brasil. Há casos similares de felinos ameaçados de extinção mortos ao tentarem cruzar o vizinho Parque Nacional Iguazú, na Argentina”, ressalta.

A proposta de resolver tal problema com cercas, diz Pizzi, dificultaria o fluxo gênico, mesmo com eventuais estruturas de passa-fauna. “Fluxo gênico é a troca de gens, o processo de cruzamento sexual diversificado entre populações da mesma espécie. Se essas populações ficarem separadas pela estrada, pode ter menos diversidade de animais e os cruzamentos entre uma mesma e pequena população podem produzir descentes mais fracos, suscetíveis a doenças, consanguinidade”, explica.

Visão semelhante tem o  diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa, Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clóvis Borges. “Reabrir a estrada traria um impacto ambiental tremendo, causando um ‘efeito de borda’, pois o trânsito de pessoas e automóveis pode trazer espécies exóticas, como sementes de pinus, insetos de fora, que podem gerar doenças pra fauna local. Enfim, a conservação nunca é vista como mais importante, sempre tem que ser deixada de lado por outros aspectos, especialmente os econômicos”, conclui.

Deputados defendem Estrada-Parque

Na Assembleia Legislativa do Paraná já foi criada até uma Frente Parlamentar pela reabertura da ‘Estrada-Parque Caminho do Colono’, que visa “aliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental”. A comissão, formada por 24 deputados, deve fazer as primeiras reuniões públicas sobre o tema nas cidades de Capanema (15/8) e Medianeira (16/8), para debater a ideia com a população local. “O trecho deve ser monitorado, cercado, com passarelas e túneis para os animais. Temos de preservar, mas também ajudar a população da região”, disse o deputado estadual Soldado Fruet (PROS).

“Precisamos unir forças por este projeto que com certeza vai contribuir com o desenvolvimento econômico, cultural e turístico das regiões Oeste e Sudoeste”, acredita o deputado estadual Wimar Reichembach (PSC).

No Senado, uma consulta pública avalia a opinião popular e questiona apoio ao projeto de lei complementar PLC 61/2013, do deputado federal Assis do Couto (PDT). No fim do dia primeiro de julho, a maioria (640) não aprovava o PLC.

O antigo caminho que liga as regiões oeste e sudoeste do Paraná se transformou em estrada em 1954 e funcionou como elo histórico e econômico entre as cidades de Capanema e Serranópolis. Foi fechado em 1986 por riscos ambientais ao parque, área de preservação permanente. Reaberto ilegalmente em 1997, foi definitivamente fechado em 2001.

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