Erramos: Rede de Transporte de Curitiba encolheu 48% desde 2009

Erramos: esta matéria foi corrigida em 24 de setembro de 2023, às 12:48 Uma das metas da licitação do transporte coletivo de Curitiba em 2009 era aumentar em 1% ao ano o número de passageiros. Ao invés disso o sistema perdeu 48% de seus usuários

ERRAMOS: Esta matéria comparava equivocadamente o número de passageiros transportados com o de passageiros equivalentes. O número de passageiros transportados contabilizam as baldeações, mas o de passageiros equivalentes não.
As correções estão indicadas abaixo com as seguintes convenções:
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Os números do sistema de transporte coletivo de Curitiba mostram uma crise sem precedentes desde a licitação feita em 2009. A meta, estipulada no edital de licitação do Transporte Coletivo de Curitiba, era aumentar em 1% ao ano o número de passageiros do sistema. Mas desde 2011, o número de pessoas que utilizam o sistema caiu 8046%. Não foi a única redução no sistema de transporte ao longo desses doze anos. A frota de ônibus também é significativamente menor hoje do que na época da licitação.

O negócio como um todo encolheu. Isso apesar de a população da Região Metropolitana de Curitiba ter aumentado em 10% no período. Na época da licitação, ainda na gestão Beto Richa, a URBS registrava uma média de 2,2 milhões de passageiros transportados por dia nos ônibus da cidade e 21.418.249 passageiros equivalentes, em média, por mês. Em 2023, a média de passageiros transportados equivalentes por dia está em 489 mil por dia e 11,2 milhões de passageiros equivalentes por mês, de acordo com dados oficiais do sistema de cálculo da tarifa técnica.

Se tivessem cumprido a meta de aumentar o número de passageiros, as empresas concessionárias do serviço estariam transportando hoje 2,5 milhões de pessoas passageiros por dia ou 24,1 milhões de passageiros equivalentes por mês. Mas segundo dados da URBS, o máximo que o sistema transportou por dia em 2023 foi registrado em 5 de abril: 617.048 passageiros. Em maio de 2023 a RIT registrou sua maior média de passageiros equivalentes ao mês: 12,3 milhões, um valor 43% menor que a média de 2009. No ano, até o momento, a média diária é de 434 mil passageiros segundo os registros de passageiros nas catracas.

Os dados usados pelo Plural no cálculo são do Painel de Passageiros disponibilizados pela própria URBS aqui.

O site da URBS, porém, informa uma média diferente, de 1,099 milhão de passageiros transportados por dia em 2022. Não há informação sobre a média em 2023. Isso apesar da documentação da própria URBS sobre o cálculo da tarifa técnica em 2022 apontar a média de 450 mil passageiros em dias úteis, já considerando a equivalência dos isentos.

Reprodução Processo Administrativo de Cálculo da Tarifa Técnica referente a Março de 2022. Fonte: URBS

A empresa empresa indica que calcula o número de passageiros por equivalência, considerando as gratuidades, que representam 26% dos 11 milhões de passageiros transportados pelo sistema por mês. Mesmo considerando o valor calculado pela URBS de a média de passageiros transportados de 2022, que foi de 1,099 milhão de passageiros por dia, o número de passageiros transportados pela RIT caiu em 50% desde 2009.

Os motivos para a queda são vários. Primeiro, é preciso lembrar que houve um rompimento na integração da rede de Curitiba com a região metropolitana na época em que Beto Richa era governador e Gustavo Fruet foi prefeito da capital. Aparentemente por motivos políticos, o governo do estado levou a uma cisão no sistema. Aos poucos, depois que Rafael Greca, aliado de Richa, assumiu a prefeitura, isso foi sendo recomposto.

Além disso, o custo da passagem subiu muito. Hoje, com R$ 6,00, Curitiba tem a passagem de ônibus mais cara entre as capitais. E com o surgimento do transporte via aplicativo, muitos passageiros acharam viável deixar o ônibus para fazer viagens mais confortáveis em carros particulares.

A redução drástica no número de usuários do sistema de transporte coletivo é um dos fatores no aumento do custo do serviço. Isso porque a fórmula de cálculo da tarifa técnica – aquela que é paga pelos cofres públicos às empresas concessionárias – usa esse indicador como base de cálculo.

O cálculo da tarifa começa com o cálculo do IPK – Passageiros Pagantes Equivalentes por KM rodado:

Fórmula de cálculo do IPK segundo a URBS

Depois de calculado o IPK, a tarifa é calculada dividindo-se o custo por quilômetro rodado pelo IPK.

Fórmula de cálculo da tarifa técnica, segundo a URBS

Por exemplo, em julho de 2023, o cálculo da tarifa considerou um total de passageiros equivalentes de 11,7 milhões e a quilometragem rodada prevista foi de 6,47 milhões, o que resultou num IPK de 1,8119. Já o custo por quilômetro rodado ficou em 11,896, o que resultou numa tarifa de R$ 6,5656. Se considerarmos um volume de passageiros apenas 5% maior, de 12,3 milhões por mês, a tarifa técnica seria R$ 0,30 mais barata. Isso representaria uma redução de custo do sistema, em julho, R$ 3,6 milhões.

O número de passageiros, porém, não foi a única coisa que encolheu na Rede Integrada de Transporte (RIT). A frota operante do serviço, ou seja, o número de ônibus que circula pela cidade, também caiu. Em 2009, segundo o Termo de Referência do Edital de Concorrência Pública, a frota do sistema era de 1399 veículos. No documento de cálculo da tarifa técnica da RIT de junho de 2023 os consórcios informam à URBS que a frota operante é de 1.084 veículos, uma redução de 23%.

A redução da frota não está em nenhuma comunicação ou release da prefeitura de Curitiba sobre a RIT nos últimos oito anos.

Metas da RIT segundo o edital de Concorrência de 2009

Confira as metas listadas para a RIT no Termo técnico da licitação do transporte:

Para a otimização do sistema de transporte coletivo em benefício dos usuários, razão principal de contratação dos serviços, deverão ser atingidas, no período da concessão, as seguintes metas:

a) Buscar a máxima satisfação dos usuários;
b) Permitir, na RIT, todas as possibilidades de deslocamentos com o pagamento de apenas uma tarifa;
c) Reduzir taxa de ocupação por viagem sem aumentar os custos tarifários, melhorando a oferta em relação à demanda e à situação atual em dias úteis, sábados e domingos, em horários de pico e fora de horários de pico;
d) Buscar a modicidade tarifária de acordo com a capacidade de pagamento dos usuários;
e) Manter a sustentabilidade do sistema;
f) Melhorar a velocidade média operacional do sistema, diminuindo o tempo de viagem dos deslocamentos, sem desatender a legislação;
g) Melhorar o conforto nos equipamentos urbanos do transporte coletivo;
h) Buscar inovações tecnológicas priorizando o meio-ambiente e o conforto dos usuários;
i) Reduzir custos do sistema que resultem na redução da tarifa técnica, além daqueles apresentados na Proposta Técnica;
j) Estimular o uso do cartão transporte;
k) Capacitar seus funcionários por meio da implantação de programas de treinamento para a prevenção e melhoria das condições de eficiência, segurança e cortesia na relação com os usuários do sistema;
l) Utilizar combustível alternativo renovável acima do especificado pelo Governo Federal (5% em 2010) atingindo, no mínimo, a meta do Governo Municipal (10% em 2012);
m) Diminuir o vandalismo no sistema de transporte coletivo;
n) Reduzir o número de reclamações de usuários sobre o atendimento dado
pelos motoristas e cobradores;
o) Reduzir o número de infrações cometidas pelos motoristas e cobradores e
infrações cometidas de responsabilidade das empresas Concessionárias;
p) Garantir o cumprimento de horários programados para a operação das linhas;
q) Diminuir o número de veículos avariados em operação por problemas mecânicos e outros, mediante manutenção preventiva;
r) Reduzir o número de acidentes com usuários e com outros veículos no trânsito;
s) Melhorar a oferta de ônibus acessíveis com plataforma elevatória (elevadores) para fins de atendimento aos usuários portadores de deficiência física;
t) Aumentar a média mensal de passageiros pagantes equivalentes (Ppe) em até 1% (um por cento) ao ano;
u) Realizar e manter atualizadas pesquisas de origem e destino no transporte coletivo para definir melhores alternativas de deslocamento para os usuários.

Termo de Referência do Edital de Concorrência Pública 05/2009

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3 comentários em “Erramos: Rede de Transporte de Curitiba encolheu 48% desde 2009”

  1. Depois da pandemia, o sistema público de transporte de Curitiba parece ter sido abandonada no quesito higiene, pelo menos é o que percebo quando uso as linhas Circular Sul e Boqueirão/centro, incluindo os ligeirinhos que fazem as mesmas ligações para o centro da cidade, tem mal cheiro e andarilhos e moradores de rua invadindo as estações tubo carregando recicláveis acompanhados de cachorros , roubos, brigas entre passageiros nos horários de pico, um caos completo, principalmente nas regiões suburbanas de maior densidade demográfica.

  2. Claro que tendência é cair cada vez mais os usuários, tente pegar o inter 2 no domingo, nem consegue entrar no ônibus. Considero que nos domingos o fluxo de passageiros é reduzido mas as linha principais precisa no mínimo de um articulado e melhorar os horários de final de semana, pois pelo menos 40% dos usuários que ultilizam nos finais de semana vão para o trabalho e a demora e os ônibus socados incentiva a ir de meios alternativo.

  3. Eu não canso de repetir que é necessário mudar a forma como se cobra a tarifa de ônibus. O pagamento por viagem deveria ser apenas uma opção e a mais cara, como acontece em grandes cidades europeias. Se Curitiba diz parecer uma cidade europeia, precisa implementar sistema de pagamento do transporte coletivo como uma metrópole europeia. Passes semanais, mensais ou anuais tornariam o transporte público muito mais atraente. E pelos números apresentados, um passe mensal de R$ 100 não me parece impossível.

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